A Lei, o Estado e os pobres coitados

Um dos direitos fundamentais previstos pela Constituição Federal é assegurar assistência médica a todos os brasileiros. Sabemos que nem sempre as leis são cumpridas e, quando isso acontece, cabe-nos recorrer à Justiça. Foi o que fez um cidadão de Uberaba, que sofria de obesidade mórbida, como contei no post anterior. Por determinação judicial, a prefeitura da cidade teve que arcar com os custos do tratamento em outra localidade, já que Uberaba não dispunha dos recursos médicos necessários.

Não há nesta história heróis nem vilões. Cada um cumpriu seu papel: o cidadão que foi à luta por seus direitos, a promotora que acolheu seu pedido e o encaminhou à juíza, que por sua vez determinou à prefeitura o cumprimento da lei, o que foi feito.

Temos aí um bom exemplo do pleno funcionamento das instituições do Estado democrático.

Por isso, foi com espanto que li os comentários de vários leitores. Ou eles não leram até o fim ou não entenderam o que escrevi, martelando a velha ladainha do indignado crônico que sai em defesa dos pobres coitados sem direitos, qualquer que seja o assunto.

Se você fala de algum lugar bonito, de algum exemplo de superação, uma história qualquer com final feliz, lá vem eles com a comparação inevitável, falando em nome “do trabalhador que mora da periferia, acorda cedo, pega não sei quantas conduções, trabalha trocentas horas por dia e ganha um salário miserável no final do mês”.

Para eles, ninguém presta, nada vale a pena, tudo é uma imensa maracutaia e o mundo é injusto. Não admitem que o dinheiro dos seus impostos seja usado para pagar a Bolsa Família ou o tratamento médico de quem precisa.

Fazer sucesso ou ser feliz, conquistar um objetivo, fica tudo parecendo ofensa pessoal. Não é só aqui no Balaio, não: eles frequentam as áreas de comentários de todos os espaços na internet, sempre com o mesmo discurso, o mesmo chororô.

“Assim até eu Queria ver você no meu lugar”, parece ser o lema destes seres tristes inconformados com o destino, que só se satisfazem com notícia ruim, chafurdando na desgraça dos outros para ver se esquecem a própria.

Prefiro que este democrático espaço da internet fosse utilizado para refletirmos juntos sobre os caminhos da vida e que os leitores contassem outras histórias como a do Odair José Costa, o garçom que chegou a pesar 218 quilos e hoje está com 100, depois de sete meses de tratamento. O exemplo dele pode servir de estímulo para muita gente com o mesmo problema.


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