Povo está bravo com os políticos

Tantas fizeram, em tão pouco tempo, uma atrás da outra, exagerando na dose, que a população está revoltada com os políticos em geral, sem fazer distinção entre as três instâncias de poder.

Aumentos generalizados de mais de 60% nos salários de deputados, senadores e vereadores, e aposentadorias vitalícias milionárias para governadores com pouco tempo de serviço, enquanto o país discute o aumento do salário mínimo para R$ 545, parece ter sido a gota d´água.

Para se ter uma idéia do tamanho da indignação popular, basta dar uma olhada nos quase 500 comentários (fora os que fui o obrigado a excluir) de leitores publicados no post anterior sobre quanto nos custa cada gabinete dos vereadores paulistanos (R$114,4 mil entre salários, assessores e despesas diversas).

A vitoriosa revolução egípcia em que o povo nas ruas levou apenas 18 dias para derrubar um ditador que estava há mais de 30 anos no poder animou muitos leitores a propor soluções radicais para “acabar com esta pouca vergonha dos políticos”.

“Vamos brasileiros, vamos tomar como exemplo o Egito, vamos nos organizar para acabar com estas safadezas”, escreveu Geraldo Pires, em comentário enviado às 20h48 de sexta-feira.

Pouco antes, às 20h29, Luiz Borges, escrevendo em nome de um Partido do Povo Brasileiro (PPB) propôs concentrações nas capitais no dia 28 de fevereiro e uma marcha a Brasília para protestar contra as mordomias dos políticos.

As imagens do Egito e a coincidência da discussão sobre o novo mínimo, no momento em que a imprensa a cada dia publica novas revelações sobre os megasalários e privilégios dos políticos, serviram para radicalizar o debate, com muita gente já falando em pegar em armas, apedrejar e botar fogo em tudo, chamar de volta os militares.

É este sempre o perigo que a nossa jovem democracia corre quando os principais responsáveis por defendê-la – os representantes eleitos pela população nos diferentes níveis – utilizam o poder em benefício próprio e se mostram indiferentes ao clamor popular, como aconteceu com Mubarak, embora a realidade brasileira nada tenha a ver com a do Egito, é claro.

Aqui vivemos em plena democracia e devemos todos lutar para preservá-la. Nestes momentos de ira, em que o eleitor se sente traído, sempre aparecem os nostálgicos da ditadura que querem fechar tudo, propor o voto nulo ou a pena de morte.

Há também um sentimento de orfandade, como se pode constatar no comentário enviado pro Acassia, às 12h09 de ontem: “Será que existe algum orgão digno, honesto neste país que poderia dar um jeito nesta pouca vergonha?”

Muitos atribuem a responsabilidade pela situação ao próprio eleitor que não sabe escolher seus representantes: “A culpa é nossa (do povo). Cada cachorro tem o osso que merece”.

Renato Pinto de Souza, às 13h50, foi ao extremo da indignação: ” proponho a pena de morte ao congresso, ao senado, às câmaras e assembléias de todo o país”.

Na outra ponta, Eliana, às 13h39, mostrou resignação: “É tão triste que não tenho nem palavras. O que eu vejo é de doer o coração e a alma”.

O leitor Fábio, às 13h09, mirou-se no exemplo do Egito: “Deveríamos fazer que nem no Egito, sair todo mundo pra rua e acabar com a festa que eles fazem com o nosso dinheiro”.

Valeria a pena que os políticos de diferentes partidos e latitudes dessem uma olhada nos demais comentários para entender melhor o sentimento dos seus eleitores e a realidade em que vivem.


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