A relação e o diálogo entre museus, galeristas, colecionadores e artistas foi tema de um debate promovido ontem (8) pela galeria Rachel Arnaud, que neste ano comemora 40 anos de atividade e uma trajetória que ajudou a definir o cenário da arte contemporânea brasileira das últimas décadas.
Intitulada de “Arte, Galerias e Instituições”, a conversa reuniu a própria Rachel Arnaud, o secretário de cultura Marcelo Araújo, o artista José Resende, o superintendente do Itaú Cultural, Eduardo Saron, o diretor-técnico da Pinacoteca, Ivo Mesquita, o diretor do Museu de Arte Contemporânea, Tadeu Chiarelli, Andrea Pereira, diretora do Instituto de Arte Contemporânea e Wagner Lungov, galerista e presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea.
“Acredito que estamos aqui para responder algumas perguntas. Como a gente constrói um pensamento mais estratégico nesse diálogo entre instituições, governo, galerias e todo o sistema de artistas e curadores?”, aponta Eduardo Saron, que mediou a mesa. E o debate foi acalorado. Desde a responsabilidade de cada agente na cadeia de produção artística, passando pela formação profissional, educação, engajamento, leis de incentivo e identidade, o encontro, supôs também desencontros como o próprio Saron identifica: “Não é um ponto fora da curva este desencontro, acho que é algo que reflete a cena cultural brasileira. O que a gente percebe nesta mesa e em outros encontros, é que de fato o mundo da cultura não tem uma agenda para o mundo da cultura. Talvez acho que aí esteja a grande questão”.
Saron chama a atenção para as leis de incentivo à cultura. Para ele, a Lei Rouanet – que institui políticas públicas para a cultura nacional – se dedica a apostar em eventos, como exposições de artes visuais, porém, negligencia a arte em seu estado perene, como as aquisições de acervos de arte.
Para o diretor do MAC, Tadeu Chiarelli, a relação atual entre museus e colecionadores, por exemplo, não é ainda ideal. “Há uma imagem que museus são uma instituição passiva, à mercê dos interesses de colecionadores e galeristas, que têm seus interesses legítimos. Porém, acredito que os museus não deveriam ser agentes destes. Nós somos uma parte daqueles que estabelecem reflexões que vão dar sentido e novos significados para a produção artística”, defende. Segundo Chiarelli, os museus têm a responsabilidade de refletir sobre seus acervos, e a partir deles ter um eixo-condutor para as próximas aquisições.
Wagner Lungov, presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea, reconhece que o mercado de produção artística atual anda aquecido. A Associação reúne 66 galerias em seis estados do país e também indica um fenômeno mais recente: o das feiras de arte. Andrea Pereira, do Instituto Contemporâneo de Arte, lembra que no ano passado, o país sediou cerca de 30 feiras. O que também denota uma certa cobrança para novos artistas: “E os artistas novos já sentem essa demanda muito grande de ter que produzir e vender”. Ela também lembra que a participação dos colecionadores em relação aos museus no país, poderia ser maior. “É importante que as pessoas se sintam parte do museu e não somente as visitem. Acho que a partir daí pode se aumentar o fomento aos acervos”, pontua.
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