Oposição tucana movida a rancor

Cada dia menor, mais perdida e rachada, a oposição tucana ao governo, com seus apêndices DEM e PPS, mostrou sua cara nestes dias de votação do novo salário mínimo – uma cara feia que não assusta a mais ninguém.

Com discursos e entrevistas carregados de rancor, o PSDB sem norte e sem juízo decidiu disputar o terceiro turno com o PT – e tomou uma lavada de perder o rumo.

O pequeno tamanho da oposição ficou evidente nas votações na Câmara e no Senado. Depois de aprovar o mínimo de R$ 545 na Câmara dos Deputados por 361 a 120, na semana passada, a aliança governista de Dilma Rousseff passou como um trator também por cima da oposição democomunotucana no Senado, seu antigo reduto.

Nem os R$ 560 de Aécio Neves, nem os R$ 600 prometidos por José Serra na campanha eleitoral, as duas propostas foram derrotadas pelo governo por 54 a 19 e 55 a 17, respectivamente, na noite de quarta-feira. Dilma ganhou de goleada.

Mais do que isso: o governo aprovou por 54 a 20 a lei regulamentando o aumento automático do salário mínimo até 2015, com base nos índices do INPC e do PIB, acabando com o circo montado todos os anos pelas centrais sindicais e os partidos de oposição para ver quem oferece mais.

Políticos e jornalistas não devem brigar com os números, mas em entrevista publicada domingo pelo jornal O Globo o candidato derrotado José Serra parece ter gostado do resultado na Câmara: “O PSDB se saiu bem, e o mesmo vale para os nossos aliados. A bancada caminhou unida e de maneira muito clara e firme”.

O fato de os seguidores de Aécio e Serra se chamarem de tudo, menos de meu amor, disputando o comando do PSDB tapa a tapa e até defendendo valores diferentes para o mínimo, mesmo sabendo que nenhum deles tinha qualquer chance de ser aprovado, não foi tratado na entrevista.

Nas respostas que enviou ao jornal por e-mail, Serra diz na entrevista que vê em marcha um “estelionato eleitoral” ao comentar o governo Dilma, menos de dois meses após a posse.

Um trecho da entrevista mostra o estado de espírito do ex-candidato presidencial tucano, que ainda não desistiu de um dia subir a rampa do Palácio do Planalto:

O Globo – Qual a sua avaliação sobre a postura do governo Dilma neste primeiro teste da presidente no Congresso?

José Serra – Lamentável. Está à vista de todos: oferece cargos, loteia o governo, promove a troca de favores não republicanos em troca da submissão de parlamentares. O valor do mínimo está sendo usado para o governo evidenciar ao mercado um rigor fiscal que ele absolutamente não tem. O falso rigor esconde a falta de rigor.

No dia seguinte, nesta segunda-feira, foi a vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso bater no governo na disputa com Serra – e, por vezes, até com o cordato Aécio Neves – para mostrar quem é mais combativo na oposição.

Em entrevista gravada de viva voz a Sonia Racy, do Estadão, FHC foi tucano ao falar de Dilma, mas incorporou um José Agripino Maia ao tratar do do ex-presidente Lula, como podemos constatar neste ping-pong:

Sonia Racy – Lula exerceu o poder por meio da popularidade?

FHC – Ele parecia gostar da exterioridade do poder muito mais do que da eficácia de uma decisão. Gostava do aplauso. É uma forma de exercer o poder. Mas nunca vi no Lula um homem de Estado, um poder no sentido mais forte, daquele que tem visão, sabe que tem que alcançar seus objetivos e constrói o caminho. Ele construiu o poder para si mesmo.

Sonia Racy – Ele não tinha um projeto para o Brasil?

FHC – O que tinha, esqueceu no caminho. Adotou o que existia, não o que ele havia proposto () Ele não tinha um propósito. Este já havia sido dado pela sociedade. Ele assumiu aquilo e como que surfou na direção que a sociedade estava apontando. Não contrariou para mostar que tinha um objetivo e a força de mudar algo em curso para chegar ao seu objetivo.

Nesta toada, com Serra batendo em Dilma e Fernando Henrique, em Lula; os dois fugindo à realidade dos fatos, das pesquisas e dos índices sociais e econômicos; destilando todo seu rancor com os adversários e mágoa com o ocaso político que vivem até em seu próprio partido, os dois históricos líderes tucanos de São Paulo empurram o PSDB para o mesmo brejo que o levou a três derrotas seguidas.

Se fazer oposição for só falar mal do partido que está no governo e da presidente que ganhou as eleições, os veteranos senadores pepistas Itamar Franco e Roberto Freire levam mais jeito. São, pelo menos, mais engraçados.

Em tempo:

Juiz ameaça prender e multar Lúcio Flávio

A maré não anda nada boa para meus bons e velhos colegas jornalistas que continuam na batalha. Desta vez, recebi mensagem do grande jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, uma rara voz independente, que há anos enfrenta na Justiça os manda-chuvas do lugar, relatando as ameaças que está recebendo no cumprimento do seu ofício de repórter.

Na quarta-feira, 23, Lúcio Flávio recebeu uma intimação do juiz Antonio Carlos Almeida Campelo, da 4ª Vara Cível Federal do Pará, ordenando que deixe de publicar informações sobre o processo em que o Ministério Público Federal denuncia os donos do Grupo O Liberal, os irmãos Ronaldo e Romulo Júnior, por crime contra o sistema financeiro nacional.

Alegando que o processo contra os Maiorana corre em segredo de justiça, Almeida Campelo ameaça mandar prender o jornalista em flagrante caso volte a escrever sobre o assunto, além de pagar multa de R$ 200 mil.

A matéria sobre os Maiorana que deu origem à intimação do juiz foi publicada no “Jornal Pessoal”, que, como o nome indica, Lúcio Flávio escreve e edita sozinho há mais de 23 anos, o que já lhe custou um balaio de processos.

Como de costume, o jornalista vai recorrer da decisão, com um nobre argumento: “A minha matéria defende o interesse do povo que teve o dinheiro desviado. Quando existe um caso de conflito entre a privacidade e o direito da sociedade, vale o direito da população de saber o que está acontecendo”.

Diante desta clara ameaça à liberdade de um jornalista, o mínimo que se espera é que este caso seja denunciado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) e todos os seus filiados sempre tão combativos na defesa da liberdade de imprensa das empresas.


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