“Marie Mutsuki Mockett nasceu em Carmel, na Califórnia (EUA), filha de mãe japonesa e pai americano. Os pais se conheceram em Viena, na Áustria, quando estavam estudando música. O alemão era a língua de comunicação entre os dois, assim Marie cresceu falando japonês com a mãe e alemão com ambos. Somente quando começou a escola é que ela aprendeu inglês. Por causa das inúmeras viagens ao Japão, Marie desenvolveu um grande afeto pela terra de sua mãe. O avô, japonês, colecionador de arte e também restaurador, ensinou a Marie o valor das coisas bonitas.”Confesso que não conhecia Marie Mutsuki Mockett. Minha ignorância chegou ao fim na tarde desta terça-feira (15), quando li um comovente texto dela no jornal The New York Times. O parágrafo acima está no site oficial de Marie. Antes de falar sobre o texto, um pouco da biografia de Marie.Formada na Universidade de Colúmbia, com especialização em línguas das civilizações do leste asiático, Marie explorou, em seus estudos, o poder e o papel da mulher no Japão, além das diferenças entre o país natal de sua mãe e os Estados Unidos. Em 2009, ela publicou o seu primeiro romance, Picking Bones from Ash, que ainda não tem edição no Brasil. Em linhas gerais, o livro conta a história de três gerações de mulheres japonesas (Akiko, Satomi e Rumi), passando por mais de 50 anos de história.Dito isso, é preciso ler o lindo depoimento pessoal de Marie ao NYT, publicado na edição impressa desta terça. Sob o título “Memórias, levadas pelo mar”, em tradução livre para o português, o texto traz lembranças de infância de Marie. Começa contando como seus tios avôs escaparam da bomba de Nagasaki, em 9 de agosto de 1945. Corte. E o desespero para conseguir contatar, de Nova York, os parentes que vivem em um templo budista na pequena Iwaki, ao sul de Sendai, a maior cidade próxima do epicentro do terremoto de sexta-feira (11).A angústia para entrar em contato com os parentes faz Marie acessar os inúmeros vídeos na internet com imagens da tragédia. Impossível continuar. Para ela, isso não é o Japão que está em seu coração e mente. E segue com descrições sobre o país que ela aprendeu a amar com o avô, sobre como os adultos mostram às crianças a iminência de um tsunami, ensinamento infelizmente inútil diante da fúria da natureza no caso do terremoto que provocou ondas de mais de 10 metros de altura.Após muita espera, Marie consegue falar com a família, que está bem. Mas, o novo risco de colapso da usina nuclear de Fukushima Daiichi, a quase 50 km da cidade, a preocupa. Ela tenta convencê-los a deixar a cidade, mas o trabalho no templo budista os impede de sair. Marie aceita e espera. De longe.
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