Deixaram Kassab pendurado na brocha

Tanto barulho, tanta notícia, meses de conversas sobre o novo partido de Gilberto Kassab, tudo para quê? Para nada

Como já era de se esperar, a convenção do DEM juntou os cacos, quer dizer os caciques, e mesmo em clima de velório conseguiu não só eleger um novo presidente, o veterano senador José Agripino Maia, em lugar de Rodrigo Maia, como evitou a sangria anunciada pelo prefeito paulistano, quem nem foi à convenção.

Ao anunciar o PDB, sigla criada para abrigar os descontentes do DEM e de outros partidos, Kassab logo deixou claro que o novo partido seria apenas um trampolim para driblar a legislação eleitoral e, em seguida, se jogar nos braços do PSB, o partido do governador pernambucano Eduardo Campos, que é da base aliada da presidente Dilma.

Dos 35 nomes que chegaram a ser anunciados para acompanhar Kassab no novo partido, não restam mais do que meia dúzia de dois ou três sem maior expressão, com exceção do vice-governador de São Paulo, meu amigo Guilherme Afif, que foi quem levou Kassab para a política na equipe da sua campanha presidencial, em 1989, pelo antigo PL.

O antigo aliado Rodrigo Garcia (SP), a senadora goiana Kátia Abreu, líder ruralista, a prefeita de Riberão Preto, Dárcy Veras, e o ex-candidato a vice de Serra, Indio da Costa (RJ), várias “estrelas” anunciadas já estão roendo a corda do “novo partido”.

Confesso que fiquei surpreso ao ver o discreto Kassab circulando como grande estrategista político e ganhando destaque num possível rearranjo partidário em nível nacional. Quando a esperteza é grande demais acaba engolindo o esperto.

Os velhos coronéis comandados pelo Maia potiguar, com anos de janela na Arena, no PDS e no PFL, resolveram reagir na luta pela sobrevivência e, simplesmente, puxaram-lhe a escada, deixando Kassab pendurado na brocha.

Por tabela, deixaram na estrada também Jorge Bornhausen, derrotado na tentativa de retomar o comando do partido, e seu eterno aliado tucano, o ex-candidato José Serra.

Foi uma vitória dos profissionais comandados por Aécio Neves que agora precisa fazer o mesmo serviço no PSDB para assegurar sua candidatura presidencial em 2014. Os aliados demos, no entanto, ainda não se entenderam sobre a nova cara que pretendem apresentar ao eleitorado.

“Nego a pecha de direita”, injuriou-se José Agripino Maia, que defendeu o liberalismo econômico como bandeira do partido. O deputado gaúcho Onyx Lorenzoni não concordou: “Aí, não! Eu sou de direita”.

O senador goiano Demóstenres Torres anunciou que o partido precisa ter um rumo, uma direção, mas não disse qual. Só sabe o que o DEM não deve ser: “Não somos de esquerda, não somos de ultradireita, não somos governo”. O que serão, afinal?

O deputado paranaense Alcenir Guerra também não parecia muito animado, segundo o noticiário da Folha: “Dois sintomas mostram o tamanho da crise: de um lado, os fundadores insatisfeitos. De outro, o filiado com mais votos, que é o prefeito de São Paulo, falando em sair. A hora é de estancar a hemorragia”.

Pelo jeito, o DEM saiu da convenção direto para o pronto-socorro.


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