Separados ou em parceria, os ingleses Tim Rice e Andrew Lloyd Webber há anos vêm produzindo musicais que fazem as cabeças das pessoas no mundo inteiro. Um deles foi Evita, que estreou nos palcos londrinos e logo fez um enorme sucesso de crítica e de público, muito em função da protagonista Eva Perón (1919-1952), a mãe dos pobres argentinos. Dois anos antes, as músicas da peça foram lançadas, com enorme sucesso, principalmente a tema, Don´t Cry For Me Argentina. O musical refaz a trajetória da menina de um lugarejo pobre da Argentina que vai tentar sucesso em Buenos Aires como atriz, mas acaba se transformando na mulher do futuro presidente, Juan Domingo Perón (1895-1974), e, por tabela, na futura mãe de todos os desvalidos argentinos. A peça, desde sua estreia em 1978, nunca deixou de ser montada em algum lugar do planeta, e ficou definitivamente conhecida quando ganhou a versão para os cinemas, em 1996, com direção de Alan Parker e a estrela da música-pop mundial Madonna no papel principal.
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A montagem brasileira
Jorge Takla, o homem dos musicais brasileiros, decidiu enfrentar a empreitada de produzir e dirigir Evita, que pela primeira tem seus direitos de montagem liberados para a América Latina (há uma versão brasileira montada em 1983). A peça estreia neste sábado, no Teatro Alfa, em São Paulo, com ares de super-produção: são 45 atores, entre cantores e atores, 20 músicos da orquestra, que toca ao vivo, e mais de 350 figurinos. Para viver o papel da personagem-título, Eva Perón, foi escolhida Paula Capovilla que, apesar de não ser uma atriz conhecida, já tem uma carreira de 10 anos, com destaque para os seus trabalhos em outros musicais.
“Fiquei muito apreensiva quando soube que iria fazer o papel de Evita, mas depois encarei como desafio e uma grande oportunidade”, confessou Capovilla, no final da coletiva de imprensa, que aconteceu no Teatro Alfa. Para o papel do marido de Evita, Juan Perón, foi escolhido um dos atores mais conhecidos de musicais em São Paulo, Daniel Boaventura, que andou, como ele mesmo nos disse em entrevista exclusiva (leia ao final da matéria), três anos afastado de musicais, muito em função dos seus compromissos na TV. “Eu estava querendo voltar a fazer musicais, e não poderia deixar de aceitar um convite do meu amigo Jorge Takla, ainda mais interpretando um personagem real e muito intrigante, como foi o presidente Perón”, falou.
A história da dupla Rice e Andrew precisa de um narrador e eles escolheram Che Guevara (1928-1967), que não conviveu com o casal (uma licença poética dos autores). O papel de Che é vivido no musical brasileiro pelo ator Fred Silveira. “Quando soube que havia sido escolhido para viver Che, comprei minha passagem para Argentina e fui passar o final do ano em Buenos Aires, e visitando os lugares que o casal Eva e Perón frequentaram”, disse. O musical, mesmo falando de uma mulher que teve uma vida de contos de fadas (mas com um final trágico), mostra o lado ambíguo de Eva, mulher que a todo custo queria seu “lugar ao sol”, nem que, para isso, tivesse de dormir com homens e viver em função das suas ambições. Essas contradições estão presentes na peça e são colocadas por Che, uma espécie da consciência dessa mulher figurante e trágica.
Papo com Daniel Boaventura e Jorge Takla
Brasileiros – Depois de ter feito vários musicais o que te motiva ainda a fazer mais um?
Daniel Boaventura – Estou em jejum de musicais desde 2007. Então, já estava esperando que aparecesse um que chamasse a minha atenção. Esse me chamou a atenção. Primeiro porque é a oportunidade de trabalhar com Takla novamente, de quem estava sentindo falta e que já tinha me chamado para fazer o musical há um ano e meio. Segundo, o personagem é intrigante e muito rico. Eu comecei a fazer as pesquisas para o papel e percebi que ele (Juan Perón) era muito mais do que se apresenta e se conhece dele. Terceiro, porque é a oportunidade de fazer um papel dramático em musical, que não fazia há algum tempo.
Brasileiros – Você agora é contratado da Rede Globo e acabou de lançar um CD, dando continuidade à sua carreira de cantor. Como será conciliar esses dois compromissos com a temporada do musical Evita?
D.B. – Fiz uma negociação com a Globo, que me liberou para fazer o musical. A minha carreira de cantor, vou conciliar com os shows que terei de fazer enquanto durar a temporada de Evita.
Brasileiros – Qual a tua leitura do personagem Juan Perón?
D.B. – Eu achava que o Perón era uma figura menos ativa do que realmente foi. Teve ocasiões em que ele teve de conciliar três cargos simultaneamente. Depois que descobri quem ele era, vi que estava errado. Ele foi um homem muito importante e influente. Além disso, era um excelente estrategista político. Ou seja, de bobo não tinha nada (risos).
Brasileiros – Você tinha produzido e dirigido o seu musical anterior O Rei e Eu, sem patrocínio nenhum, inclusive teve de vender apartamento e pegar dinheiro emprestado em bancos. Agora, está mais confortável com Evita, que tem patrocínio?
Jorge Takla – É claro. A gente se sente mais protegido, ainda mais sendo Evita um musical mais elaborado, mais sofisticado e que requer muita dedicação. Então, como produtor e diretor ao mesmo tempo, sinto-me mais protegido tendo patrocínio. Quer dizer, o risco é menor e, consequentemente, eu durmo mais tranquilo (risos).
Brasileiros – Dos teus últimos musicais, Evita me parece ser mais emotivo para você, porque tem uma relação com os teus pais, que conheceram Eva Perón. Você nos disse, em uma entrevista para a revista Brasileiros, que desde menino tinha a imagem de seus pais em uma foto com Eva Perón…
J.T. – Pode ser. É uma peça que me comove muito, mas ainda não elaborei isso. Ela me toca muito. É uma personagem que me toca demais. Não sei se tem a ver com isso que você falou, da imagem da foto dela com meus pais. Essa figura sempre me fascinou. O musical é forte por sua música e pela história que ele conta, dessa mulher fascinante. Sou muito passional e quando gosto de uma coisa vou lá e faço.
Brasileiros – Quando o entrevistamos, você disse que seria difícil conseguir a atriz para interpretar Eva Perón, pela dificuldade de encontrar uma que interpretasse e, ao mesmo tempo, cantasse divinamente. Você disse que tinha de ser também uma atriz conhecida. Como, então, vocês chegaram a Paula Capovilla, que, apesar dos dez anos de carreira, ainda não é uma atriz conhecida do grande público? Como foi a escolha?
J.T. – A gente acabou optando pela melhor, que foi a Paula Capovilla. Depois de uma “martelada” de testes, foi a que mais agradou a mim e aos ingleses (detentores dos direitos da montagem da peça). Ela tem, digamos assim, as qualidades musicais e dramáticas para fazer a personagem.
Brasileiros – Quantas atrizes foram testadas para a escolha da personagem Eva Perón?
J.T. – Para esse papel, tivemos de fazer em torno de 50 testes, entre atrizes e cantoras, inclusive de ópera. Três mil pessoas fizeram os testes para os papéis da peça. Das 50 pessoas que tentaram a personagem da Evita, dez eram muito boas, mas a Paula era a melhor.
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