O badalado discurso de estréia do ex-governador mineiro Aécio Neves na tribuna do Senado nesta quarta-feira serviu apenas para mostrar que os tucanos ainda não têm discurso, bandeira ou projeto para as eleições de 2014, mas ganharam um novo líder.
A única grande novidade foi a supreendente aparição em plenário do seu correligionário e antagonista José Serra, candidato derrotado em 2002 e 2010, que ainda não desistiu de disputar a presidência pela terceira vez.
Por isso, o discurso ainda não pode ser entendido como o lançamento da candidatura presidencial de Aécio, apesar da generosa cobertura da imprensa, digna de um grande acontecimento político, mas serviu para colocá-lo na cena política como o principal porta-voz da oposição ao governo Dilma.
Oposição, sim, ma non troppo, como ele fez questão de deixar claro nos 24 minutos da leitura do discurso e nas cinco horas de debates, que movimentaram o plenário do Senado pela primeira vez este ano.
Por coincidência, o discurso genérico a favor do que é bom e contra o que não presta, foi feito na mesma semana do lançamento do documentário “Tancredo, a Travessia”, de Silvio Tendler, e é inevitável fazer a comparação entre o mestre avô e o neto herdeiro de um estilo bem mineiro de fazer política.
Vai ver que era exatamente isto que a oposição estava precisando, depois de infrutíferos oito anos de raivoso combate ao governo Lula, que acabou elegendo sua sucessora e deixou o Planalto com índice recorde de aprovação popular.
Só quem não deve ter gostado nada do debate protagonizado por Aécio, em que foi elogiado até pelos senadores do governo, e da repercussão alcançada na imprensa, foi José Serra.
O líder do PT, Humberto Costa, chegou a qualificar Aécio como “o melhor quadro de oposição do país”, o que não chega a ser propriamente uma novidade.
Serra ficou até o final e deixou o plenário rapidamente, falando que ainda é muito cedo para se tratar de 2014, e foi irônico quando lhe perguntaram sobre a sua possível candidatura a prefeito de São Paulo no ano que vem, assunto que o deixa irritado: “Agradeço a preferência”.
Tancredo costumava dizer que política é destino. Aécio também acredita nisso. Certa vez, após uma festa de Tiradentes, em Ouro Preto, disse a um grupo de amigos durante o almoço que para ele ser ou não presidente da República não é uma questão de vida ou morte.
“Não vou me matar para ser presidente. Se tiver que ser, serei, mas isso não é a coisa mais importante da minha vida”.
Será bom para o País ter um líder da oposição como Aécio Neves, que não trata adversários como inimigos, e sempre encontra um jeito de falar bem mesmo quando critica, como mostrou nesta frase:
“Não há ruptura entre o velho e o novo, mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos () apesar do nítido e louvável esforço da nova presidente em impor personalidade própria”.
Acredito que até a presidente Dilma Rousseff deve ter gostado da estréia do novo líder da oposição.
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