Fora e dentro da grande tela, a imagem do Brasil projetada no exterior é a melhor dos últimos 80 anos. Basta pensar nos tempos da portuguesa Carmen Miranda e do papagaio Zé Carioca. Um festival de cinema independente pode ser uma boa forma de apresentar filmes que revelem um legítimo cartão de visitas do País, exibindo películas que escapam aos interesses das grandes distribuidoras, oferecendo uma segunda chance aos filmes e uma primeira oportunidade à plateia.
O Festival Brasil Cinema Contemporâneo realizado em Milão cumpriu essa dupla função ao apresentar sete longas, seis curtas-metragens e um documentário, além de antecipar um lançamento nacional, Elvis e Madona, com previsão de estreia para julho. “A seleção dos filmes é sempre muito cuidadosa. A ideia é dar uma visão panorâmica do País. O que eu fiz foi juntar produções que, de uma forma ou de outra, revelassem o momento atual do Brasil e as questões sociais e históricas que afligem a sociedade brasileira e também a italiana. Penso, por exemplo, na batalha dos direitos civis, a questão das drogas, da saúde mental, da juventude, da luta política… São filmes que também respondem ao interesse dos italianos sobre o Brasil”, explica a curadora Regina Nadaes Marques, que pela sexta vez está à frente do festival.
Os filmes foram exibidos no cinema Gnomo, conhecido por priorizar produções fora do circuito e, por isso, acostumado a receber um público atento e formador de opinião. No programa, havia ainda debates com diretores na sala escura e nas salas de aula de duas universidades de Milão.
Os italianos puderam assistir às obras dos cineastas Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo), Eliane Caffé (O Sol do Meio-Dia), Flávio Tambellini (Malu de Bicicleta, animado), Rodrigo Mac Niven (Cortina de Fumaça), Marcelo Laffitte (Elvis e Madona), Mariana Caltabiano (Brasil Animado), Sérgio Rezende (Zuzu Angel), Riccardo Migliore e Thaíse Carvalho (Seu Cavaco, Dom Bandolim e o Choro de Mestre Duduta na Rainha da Borborema) e Ricardo Alves Júnior (Sapos e Afogados e Material Bruto).
Para Mac Niven, o incremento das produções nacionais reflete o crescimento da importância da cultura brasileira e o aumento do interesse dos estrangeiros por ela. “Mas a distribuição é difícil. Rodamos os festivais para dar visibilidade à obra que trata de um tema universal, como o das drogas e das suas consequências para a sociedade”, explica ele.
A apresentação de filmes nacionais no exterior, por mais paradoxal que seja, pode abrir portas para sua exibição no País. “Hoje, existe, sim, esse brio do brasileiro de se valorizar mais, mas ainda temos essa mania de desprezar o que é nacional e essa mentalidade é um dos nossos maiores inimigos”, afirma a jornalista Hildegard Angel, presente na exibição do filme sobre sua mãe, a estilista Zuzu, que pagou com a vida a busca pelo filho desaparecido nos porões da Ditadura Militar. Ainda inédito no Brasil, o filme Elvis e Madona foi eleito pelo público como o grande vencedor do Brasil Cinema Contemporâneo.
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