Rumos do cinema brasileiro

“Passei a semana inteira aqui assistindo filmes e não tinha tanta gente”, diz o diretor Cacá Diegues, se referindo a lotação do teatro, bem maior do que durante a exibição das produções selecionadas para o 13º Fica (Festival Internacional de Cinema Ambiental), que teve início na última terça, 14, e termina neste domingo, 19, na histórica Cidade de Goiás, depois de seis dias de atrações gratuitas.

Presidente do júri desta edição do festival, Cacá Diegues, com mais de cinquenta anos de estrada (Xica da Silva, 5X favela agora por nós mesmos) dividiu o palco com o colega Arnaldo Jabor, homenageado da mostra, para debater rumos do cinema brasileiro. Ele elogiou a qualidade de filmes e diversidade de países que participaram da mostra temática, mas questionou quantidade de exibições. “Ninguém resiste a quase oito horas diárias em frente a uma tela”.

Ele destacou ainda o bom momento da produção cinematográfica brasileira. “Tem muita gente nova chegando, nem tudo é bom, claro, mas há filmes ótimos”. Apesar da invisibilidade de grande parte desses filmes – maior entrave da fase atual – o cineasta ressaltou a esperança de que o momento próspero se perpetue. “Espero que se concretize de maneira permanente”.

A estrutura ainda frágil do setor audiovisual brasileiro é um receio do diretor. “Qualquer bobagem pode colocar tudo a perder”. Diegues não entrou muito em detalhes sobre o que poderia ser essa bobagem, mas alertou para um comportamento recorrente, de buscar soluções mágicas, sobretudo no complexo campo das políticas culturais. “Não há formulas milagrosas”, diz.

Para ele, todo cuidado é pouco. “A exclusão da realidade do país promovida pela ditadura brasileira, varreu do mapa a matéria-prima dos diretores do Cinema Novo”. Espelho da realidade, cinema é de vital importância para o desenvolvimento de um País, defende Diegues.

Tempo de incertezas
O colega, Arnaldo Jabor, prefere as incertezas, e as defendeu com seu melhor estilo ácido. “Não chegaremos a um sentido, nunca haverá uma solução para o País”. O cineasta carioca (Toda nudez será castigada, A Suprema Felicidade), que há tempos não filmava, aproveitou para elogiar a revolução das novas tecnologias digitais.

“Hoje tudo funciona na velocidade da luz”, diz. Se por um lado é bom, por outro é inquietante, acrescenta. “Mundo ficou fragamentado, muito cubista, ficou difícil saber o que falar. Entretanto, sem problemas, acredita Jabor. “A dúvida, nesse momento, pode ser mais fecunda que as certezas”. Para ele, vivemos atualmente em um mundo indecifrável

Programação diversificada
Ao longo dos seis dias de atrações gratuitas, o festival apresentou uma agenda diversificada de atrações. Foram cinco mostras de cinema, fóruns, exposições, e shows. “O Fica é um dos maiores festivais ambientais do mundo”, afirma Lisandro Nogueira, consultor de cinema da mostra. A temática, segundo ele, ganha cada vez mais espaço na sétima arte. “E não são apenas denúncias, filmes trazem muitas soluções”, observa.

Além de uma extensa programação, o evento foi concebido dentro de padrões ecologicamente corretos, salienta Emiliano Godoi, coordenador da área de meio ambiente do Fica. “Tomamos esse cuidado em todos os níveis, do contato com fornecedores até a redução de papelaria”.

Premiados
O grande premiado da mostra competitiva do festival foi o documentário “Bicicletas de Nhanderu”, de Ariel Ortega e Patrícia Ferreira, que levou o troféu Cora Coralina, de melhor obra cinematográfica, além de embolsar R$50 mil. No total, foram R$ 240 mil divididos em sete categorias – um dos prêmios mais expressivos do circuito audiovisual temático. As produções estrangeiras premiadas foram “Os Guerreiros do Arco-iris da Ilha de Waiheke”, de Suzanne Raes (Holanda), “O Desejo da Vila de Changhu”, de Xia Chenan (China).

Entre as produções brasileiras premiados foram “Pólis”, de Marcos Pimentel, “Tamanduá bandeira”, de Ricardo de Podestá e “Teia do Cerrado”, de Uliana Duarte. Melhor série ambiental de televisão ficou com “Consciente Coletivo”, de Lúcia Araújo e Pedro Ivá. Na opinião do público, melhor filme foi “Lixo Extraordinário”, de João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker. A coprodução Brasil e Reino Unido também levou o prêmio de público na última edição do Festival de Paulínia.

Para a imprensa, melhor foi o brasileiro “A Terra da Lua Partida”, de Marcos Negrão e Andre Rangel. Na mostra paralela da ABD (Associação Brasileira de Documentaristas, outras doze produções foram premiadas. Entre elas, “Diga 33”, de Ângelo Lima, “Verde Maduro”, de Simone Caetano e “O Ogro”, de Marcio Jr. e Márcia Deretti.


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