HQ na zona de guerra

Talvez uma das melhores formas de entender o complexo conflito no Oriente Médio seja ser transportado para dentro daquele universo, mas como um personagem de história em quadrinhos. Foi pensando dessa forma que Joe Sacco, 50, jornalista e cartunista nascido em Malta, mas radicado nos Estados Unidos, inaugurou o gênero Jornalismo em Quadrinhos. “Desenhei o conflito para que as pessoas conseguissem se sentir lá dentro”, conta.
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Atração internacional da FLIP, ele esteve nesta terça-feira (12) na Livraria da Vila, em São Paulo, para o lançamento da edição especial Palestina (editora Conrad), que reúne dois volumes de quadrinhos sobre os conflitos na região, produzidos entre 1991 e 1992 e lançados originalmente entre 1993 e 1995.

Formado em Jornalismo pela Universidade de Oregon, Sacco considerava a cobertura do conflito do Oriente Médio feita pela mídia americana ineficiente. “Cresci achando que palestinos eram terroristas.” Até que um belo dia, enquanto dava um tempo do jornalismo fazendo desenhos para pôsteres de bandas de rock em Berlim, decidiu que iria até lá colher sua própria versão da história. “Quis me colocar na situação para ver como lidava com ela. Invariavelmente, quando eu chegava aos vilarejos as pessoas me perguntavam: o que você está fazendo aqui? Muitas das histórias que eu tenho chamo de Jornalismo Acidental”, diz ele, que se comunicava em inglês. “O maltês, minha língua mãe, tem uma semântica parecida com o árabe, alguns substantivos são semelhantes e os números são iguais. Mas meu entendimento do árabe é mínimo. Vi crianças cantando e pensei: ‘Deve ser algum slogan político’. Mas não era, era um comercial de detergente”, conta, com o senso de humor que lhe é peculiar.

Nos territórios palestinos, Sacco vivia com pouco dinheiro – se alimentava em barracas de falafel e dormia no Albergue da Juventude – e usava o método convencional de apuração de um repórter (entrevistas e anotações) para colher informações para seus quadrinhos. “A diferença é que eu mantinha um diário, atualizado todas as noites, que me ajudava a lembrar dos detalhes das histórias, e tirava fotografias, usadas como referência para os desenhos. Desenhar leva muito tempo e tinha de otimizar meu tempo.” Ele explica que primeiro produz o roteiro, depois os desenhos. “Basicamente, produzo 9 ou 10 páginas por mês.”

O cartunista-jornalista costuma se incluir em suas próprias histórias, como personagem. “Faço isso para lembrar que se trata de uma questão subjetiva.” Seu próximo trabalho – ele também é autor de Área de Segurança: Gorazde (2000), sobre a guerra civil na Bósnia – será sobre as regiões pobres dos Estados Unidos. “Passei mais tempo olhando para fora do país. Agora chegou o momento de eu também olhar para dentro, para onde eu moro.”

Serviço
Palestina, Joe Sacco, Editora Conrad, 328 páginas


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