Alcançada à custa de muito sangue derramado em ações violentas de repressão e resistência, como as dos Panteras Negras, e as mortes de Malcolm X e Martin Luther King, dois de seus principais líderes, a consolidação da igualdade de direitos civis dos negros americanos na transição dos anos 1960 para os 70 abriu novas e amplas perspectivas. Muito além de garantir direitos essenciais, pleiteados desde os anos 1950, quando o movimento começou a ganhar força no país, a crescente altivez da população negra americana se refletiria na moda e nos cabelos extravagantes, na rica produção musical e, pela primeira vez, nas telas de cinema, com o blaxploitation, movimento que colocou fim aos dias de protagonismo único de Sidney Poitier no cinema americano ao agregar diretores, produtores, atores e compositores de trilhas sonoras, com a missão de fazer filmes de “preto para pretos”. Pouco difundido por aqui, o movimento ganhará expressiva mostra nas sedes paulistana e carioca do Centro Cultural Banco do Brasil. A curadoria de Tela Negra: o Cinema do Blaxploitation é de Vik Birkbeck e Arndt Roskens. Alguns filmes ainda podem ser vistos no CCBB, do Rio de Janeiro e de São Paulo, até o dia 13 de novembro, domingo. De 18 a 24 de novembro a mostra retorna para São Paulo, no Cine SESC.
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Marco inaugural do movimento, o filme Rififi no Harlem (Cotton Comes to Harlem, 1970), de Ossie Davis, deflagrou dezenas de produções repletas de ação, violência, heróis e anti-heróis negros sem qualquer intenção de didatismo ou militância social. Parodiando o amplo repertório de gêneros do cinema comercial americano, os filmes do blaxploitation chegaram a extremos absurdos de metalinguagem e irreverência, como em Blacula, dirigido por William Crain em 1972, no qual William Marshall dá vida a um impagável conde da Transilvânia, descrito como “Dracula’s soul brother” (algo como “o irmão de alma do Drácula” e uma alusão ao gênero musical). Blacula não está na mostra, mas outros 14 dos mais importantes filmes feitos no período estão programados em Tela Negra, clássicos como Shaft, Coffy, Superfly e Cleopatra Jones, protagonizado por Pam Grier, musa do movimento que, a exemplo de John Travolta, foi resgatada do total ostracismo em 1997, com o filme Jackie Brown, de Quentin Tarantino, incluído na mostra justamente por essa razão.

A homenagem de Tarantino reflete a aura de culto que ainda envolve os filmes e a música do blaxploitation. Em 1972, Isaac Hayes ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original com Shaft, dando claras evidências de que muito além de legar filmes que colocavam o negro diante do espelho – mesmo que por mero entretenimento -, um novo subgênero musical também nasceria com o blaxploitation. Assinadas por grandes nomes da música americana, como Hayes, Curtis Mayfield, Roy Ayers e James Brown, célebres trilhas impregnadas de funk e soul, como as dos filmes Shaft, Superfly, Coffy e Black Caesar, influenciaram até mesmo músicos brasileiros, como o compositor Beto Strada, autor da trilha de Bac’s (O Bacalhau), sátira dirigida por Adriano Stuart do filme Tubarão, de Steven Spielberg. Único filme documental da mostra, Wattstax, de Mel Stuart, registra o histórico festival realizado pela gravadora Stax, berço de clássicos da soul music, na Califórnia em 1973 com a presença de, entre outros, Albert King, Rufus Thomas, Isaac Hayes e o grupo The Bar-Kays. Wattstax reuniu mais de 100 mil pessoas e foi considerado a resposta negra a Woodstock. Como nunca, a sentença de James Brown “Diga alto: sou negro e tenho orgulho!“, ecoava pelos quatro cantos da América e Tela Negra promove um belo recorte desses dias de conquistas. O site oficial da mostra é blaxploitation.com.br

PROGRAMAÇÃO
CineSESC


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