Janaína Lima tem orgulho de ser travesti. Não gostaria de ser mulher. Está bem desse jeito, com corpo feminino. Prostituta em Campinas, nunca entendeu porque tinha sempre de correr de policiais. “Eu ia para a rua e a polícia descia para nos espancar. Tenho uma parte da bunda quebrada (com silicone) até hoje”. Escapou da morte por pelo menos duas vezes. Descobriu o prazo de validade da profissão: 25 anos. Se não fosse morta antes. A partir daí, o futuro seria mais incerto ainda. Sua vida mudou depois da primeira Parada Gay, onde conheceu o grupo Identidade e descobriu o interesse pela militância na busca por respeito e dignidade.
O primeiro passo seria voltar a estudar. “No primeiro dia de aula, eu não conseguia atravessar a rua. Um amigo (do Identidade) me pegou pelo braço e me arrastou até o pátio.” Não tinha mais como voltar. Janaína retomou no segundo ano do ensino médio. O esperado preconceito veio desde a primeira aula. Ela derrubou um por um, tomou gosto e passou a alimentar o sonho de fazer faculdade. Prestou ENEM, entrou em pedagogia na UNIP, de Campinas. Conseguiu uma bolsa de 100% e se mantinha com faxina na casa de amigos. Atualmente, trabalha como técnica especializada do Centro de Referência da Diversidade da Prefeitura de São Paulo e acaba de ser eleita por unanimidade presidente do Conselho Municipal da Comunidade LGBT. Aos 38 anos, procura viver intensamente um dia atrás do outro.
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