Até a década de 1970, o bairro de Moema, na Zona Sul da cidade de São Paulo, era uma área essencialmente residencial. Ao cair da tarde, contam os antigos moradores, cena comum eram cadeiras de fronte às inúmeras casas, senhoras papeando e crianças correndo livremente pelas ruas. Em 1976, a chegada do Shopping Ibirapuera seria o marco definitivo do final do bairro tranquilo e de casinhas geminadas. Entregue a especulação, em pouco tempo a área foi tomada por vários empreendimentos imobiliários e a verticalização da região foi inevitável.

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A história de Moema é comum em São Paulo, é possível citar inúmeros bairros que, por falta de qualquer tipo de planejamento, tiveram a mesma explosão imobiliária. Foi o medo de que esse fosse o destino da Vila Madalena, que fez um grupo de moradores lançar uma campanha pelo tombamento do bairro.

Encabeçado pelo fotógrafo Fernando Costa Netto, morador da região há mais de dez anos, o Movimento pela Vila – Antes que a Casa Caia, foi lançado na internet e, até 23 de janeiro, já havia recebido 881 assinaturas favoráveis ao tombamento. Sócio dos bares Posto 6 e Patriarca, além de fundador da Mostra São Paulo de Fotografia, que chega a sua 3ª Edição neste ano, Fernando conta que a ideia surgiu em decorrência da forte pressão imobiliária que o bairro tem sofrido.

Polêmica
A suposta construção de dois shoppings na Rua Aspicuelta foi a principal fonte de preocupação do Movimento pela Vila. No entanto, como a reportagem da Brasileiros apurou, uma das construções é, na verdade, um prédio de seis andares da incorporadora Idea! Zarvos; a outra, que pode nem sair do papel, é o projeto de um prédio de ateliês, assinado pelo escritório de arquitetura Fiocca.

Dono de três casas na Aspicuelta, que dariam lugar ao ateliê, Luigi Fiocca diz que a construção de um shopping nunca foi, sequer, cogitada. “A única motivação que eu tenho para construir nesses terrenos é a de fazer boa arquitetura, mesmo porque, acredito que a vocação da Vila Madalena seja a de um bairro arejado, com ateliês de arte e cultura”, se defende Fiocca.

Morador da Vila Madalena há mais de quarenta anos, Fiocca diz, no entanto, não concordar com o projeto de tombamento. “Qualquer urbanista sabe que nenhuma casa do bairro tem valor arquitetônico, falar sobre isso é um despropósito, o que o bairro precisa é de boa arquitetura, voltada para a vocação cultural que eu acredito que ele tem”, diz.

A opinião de Fiocca é defendida por urbanistas, como Nabil Bunduki, que, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, disse que o tombamento não é a melhor solução, já que “o bairro tem muitas deficiências”, como irregularidades nas calçadas, excesso de fiação e falta de arborização.

Solução
A situação que começava a caminhar para um embate, no entanto, parece ter encontrado uma solução inovadora. O empreendedor Otávio Zarvos, da Idea!, e integrantes do Movimento pela Vila, entre eles Fernando, se reuniram recentemente e, o que era um pedido de tombamento, pode virar a confecção de um Plano de Bairro. “O que existe hoje são os zoneamentos, algo muito genérico para toda uma região, o Plano de Bairro é específico para cada área e é uma coisa que está, aliás, prevista no Plano Diretor da cidade, mas que nunca saiu do papel”, explica Zarvos.

A ideia é juntar a capacidade de mobilização dos moradores, com a força da empreendedora, para, junto a urbanistas, criar o Plano. Fernando conta que a ideia, ainda muito preliminar, abarcaria pontos como a proibição da circulação de grandes ônibus nas ruas dos bairros, o alargamento de calçadas, a construção de estacionamentos e áreas verdes. Algumas conversas, conta Zarvos, já foram iniciadas. “Semana que vem, devemos ter uma reunião com a urbanista Regina Meyer”, diz.

O Plano parece ser a melhor saída para o tradicional reduto boêmio e polo artístico de São Paulo. Como atesta Fiocca, corroborado por Bunduki, a Vila Madalena não tem, de fato, relevância arquitetônica. O ponto em que todos concordam, no entanto, é que a vocação da região não é, de fato, a verticalização. O projeto de um Plano de Bairro, desse modo, seria mais do que uma solução para a Vila, abriria um novo modo de se discutir questões urbanísticas na cidade.


Comentários

2 respostas para “Uma nova Vila”

  1. Avatar de Dra.Neuza Alves de Oliveira Dias
    Dra.Neuza Alves de Oliveira Dias

    Ninguém é contra o tombamento em si.
    A burocracia é que é o problema,leva-se 4 anos para se poder derrubar uma simples parede.
    O Zoneamento radical é outro problema,
    muitos proprietários estão hoje na casa dos 80 anos,não tem mais interesse e muitas vezes condições de morar nos casarões.A burocracia e o zoneamento radical tem gerado prejuízos e trazido até insegurança não só ao City Lapa,mas também ao Morumbi,City América entre outros,vai acontecer o mesmo infelizmente na Vila Madalena.

  2. O plano de bairro, eh a coisa mais atualizaa neste mundo comtemporeneo.
    estou procurando uma estrutura deste plano de bairro, sim digo estrutura, pq entendo que deve ter um esqueleto, para começar uma discussão do plano com os moradores, e a partir daqui surgir o plano.
    gostaria de saber onde posso achar esta estrutura de plano de bairro, para esboçar esta pretensão na minha região.
    att
    Marcia

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