Onde há fumaça, há fumo. Ele tomou conta de calorosas discussões em São Paulo nos últimos tempos. Tudo por causa da lei sancionada pelo governador paulista José Serra no início de abril, que o proíbe em ambientes coletivos, sejam públicos ou privados. A polêmica 577/2008 (número do projeto de lei) foi tema para debates entre antitabagistas, fumantes, ex-fumantes, em vias de ser ex-fumantes e outros tipos.
Em meio ao bafafá, quase um mês depois da sanção da lei chegou aos cinemas paulistas o documentário Fumando Espero, primeiro longa-metragem da diretora carioca Adriana Dutra. Tudo gira em torno da tentativa da própria Adriana em se livrar do vício do cigarro. Mais uma das centenas de tentativas.
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A dificuldade de Adriana em largar o cigarro conduz o filme em torno de várias questões com relação ao fumo. Na linha testemunhal, há depoimentos de famosos (Herson Capri, Du Moscovis, Ney Latorraca, Miúcha, entre outros) e anônimos que conseguiram largar o cigarro, mas com muito esforço. E com mais de uma tentativa. Do outro lado, os amantes do fumo, que o consideram um companheiro inseparável, como a jornalista Scarlet Moon, que tenta abandonar o vício, mas foi cooptada pelo prazer das tragadas e pela cumplicidade do cilindro de tabaco, um amigo de todas as horas.
Em meio aos depoimentos, a luta diária de Adriana é registrada. Cada dia, uma agonia. Um esforço brutal para largar quem a “acompanhou” por mais de 20 anos. Dores de cabeça, irritação, ansiedade. Os pesados sintomas que a diretora sofre na pele são mostrados sem filtros, mas com certo exagero.
Exagero de um lado, realidade do outro. A imagem que surge na telona, de um homem numa cadeira de rodas, sem uma perna e metade da outra, é forte, mas real. Mostra os males do cigarro em sua plenitude. Forte, mas necessária. A imagem é uma das que ilustram os maços no Brasil há algum tempo, como advertência para os danos do fumo ao corpo humano.
As estratégias de marketing e divulgação da indústria tabagista ao longo da história para angariar mais e mais consumidores também são mostradas no filme. Entre cenas e depoimentos fortes, além da angústia de Adriana para largar o cigarro, há animações mais leves sobre a história do cigarro, curiosidades em torno do uso do fumo ao longo do tempo e importantes dados sobre como a indústria tabagista conseguiu cada vez mais consumidores.
O camelo simpático que atraiu crianças e adolescentes com sua imagem atlética, jovem e despojada. O homem sobre o cavalo, olhar distante e altivo, em meio a paisagens maravilhosas, em fins de tarde belíssimos. São imagens que povoaram o imaginário de muitas pessoas e as levaram ao vício de uma droga.
Outro ponto positivo do filme. Depoimentos de médicos e especialistas que colocam o cigarro em seu devido lugar: uma droga de alto poder destrutivo, difícil de largar, tanto física quanto psiquicamente. Como mostra a própria Adriana, em sua luta gloriosa para deixar o vício.
Ao final, um lado não abordado da indústria: o do pequeno produtor de fumo. No entanto, pouco aprofundado na abordagem um tanto desajeitada de Adriana, que se sai como uma Michael Moore dos trópicos, ao tentar conversar sobre a questão na portaria de uma grande fabricante de cigarros e, claro, receber o tratamento padrão dos seguranças. Abordagem errada, com as pessoas erradas.
A grande conclusão é que, apesar de uma tropeçada aqui e ali, uma tinta a mais em alguns momentos e o erro da abordagem na questão dos produtores de fumo, Fumando Espero tem o mérito principal de levantar a bola do tema cigarro, talvez pela primeira vez com o devido peso no Brasil.
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