Ars longa, vita idem

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Luiz Chagas em ação vestindo camiseta que defende “Keith Richards para presidente!”

Keith não perdoava. Quando Jagger ganhou a medalha da Rainha, ele decretou: “um Stone não é condecorado, vai preso”. Mas, mesmo dos Stones, o guitarrista só engolia o baterista Charlie Watts, com quem costumava dividir o quarto nas turnês (ou o andar do hotel). Na célebre entrevista de capa para a revista Rolling Stone, que então (em agosto de 1971) era um jornal, praticamente disse que o guitarrista Brian Jones, falecido dois anos antes, era um mau caráter que merecia morrer.

Sobre o baixista Bill Wyman, que ele chamava pelas costas de “Ernie” como um velhinho inglês, afirmou que o músico, seis anos mais velho que ele, só entrou no grupo porque tinha um amplificador potente que ele e Brian podiam usar. Os substitutos de Brian entrariam na dança. Mick Taylor teria sido expulso do grupo porque “ninguém diz a um Stone como se toca”. Na verdade Taylor reivindicava a coautoria de algumas músicas, como Time Waits For No One, mas a ditadura Brenda-Catarina, aliás Jagger & Richards, era inflexível. Como em Lennon & McCartney e Roberto & Erasmo Carlos, não interessa quem fez o que. Só os dois assinam. Para finalizar Ron Wood, o woody woodypecker (nosso Pica-Pau), notório bebum e arruaceiro, não só foi xingado como levou porrada de Keith em várias ocasiões e na frente da imprensa.

O próprio Keith já levou porradas na vida, literais de Chuck Berry e metafóricas do colega Jeff Beck – que afirma não saber como alguém toca tudo no mesmo tom e recentemente varreu Keith do palco, em uma homenagem aos Stones (você pode ver no vídeo abaixo)!

 

Anyway, Keith viveu e sobreviveu. Namorou a namorada do produtor Phil Spector – aquele que passava o tempo dando tiros e que de vez em quando acertava (e por isso está em cana) –, casou, teve filhos, quase ganhou prisão perpétua no Canadá por tráfico, compôs centenas de músicas imprescindíveis, tomou as melhores drogas, andou com as melhores mulheres, fez os melhores shows. É idolatrado pelos amigos e odiado por um monte de gente. Em seu livro Vida (leia aqui a resenha sobre o livro), jura que nunca trocou o sangue do corpo ou cheirou as cinzas do pai. Mas faz juz à piada:

“A morte, cansada de ser a ceifadeira, a causadora de tanta dor, tirou férias. Diz-se que estava em um bangalô, em uma praia deserta, lendo Proust quando ouviu uma batidinha na porta. Perguntou assustada quem era e Keith Richards colocou a cabeça para dentro e disse, ‘vim te pegaaaar…’.”

Longa vida, Catarina!

Para ler ouvindo (Let Me Walk) Before They Make Me Run

Leia também a matéria Jagger 70: filhos bastardos, versões brasileiras, bootlegs, e o amigo Marku Ribas. Marcelo Pinheiro relembra dos vocalistas de bandas de rock britânicas, que não são filhos legítimos do líder dos Stones, mas que poderiam ser; lista versões brasileiras para clássicos dos Stones; e faz um perfil de Marku Ribas, cantor, compositor e percussionista brasileiro que tocou com a banda e era amigo de Jagger.


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