Da primeira à nona edição, o mensário KLAXON traz na capa a mesma imagem e os mesmos dizeres, variando apenas as cores da enorme letra “A”, que recorta verticalmente a página, e do papel-cartolina utilizado para sua impressão. A sintética arte criada pelo poeta Guilherme de Almeida é também elemento de composição do bordão “Mensário de Arte Moderna”, replicado edição após edição. Envolto em uma das pernas do “asão”, o til e a primeira letra “a” de São Paulo indicam procedência e também são elementos fixos da capa.
Naquele início de século 20, tal ousadia gráfica deixava explícito ao leitor que havia ali uma publicação distinta. Lançada três meses após o encerramento da Semana de Arte Moderna de 1922, a KLAXON, ou melhor, o KLAXON, visto que seus editores sempre trataram a publicação como “mensário”, foi laboratório de um seleto grupo de intelectuais e protagonistas do modernismo brasileiro. Entre eles, Sérgio Buarque de Holanda, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Luís Aranha, Mário de Andrade e Rubens Borba de Moraes.
No editorial da primeira edição, assinado coletivamente como “A Redacção”, propósitos de vanguarda e uma irônica autoavaliação são explicitados: “KLAXON cogita principalmente de arte. Mas quer representar a epoca de 1920 em diante. Por isso é polymorpho, omnipresente, inquieto, cômico, irritante, contraditorio, invejado, insultado, feliz”. Em outro trecho do editorial, antecipando o provável nó na cabeça que a publicação provocaria, a “redacção” adverte: “KLAXON não se queixará jamais de ser incomprehendido pelo Brasil. O Brasil é que deverá se esforçar para comprehender KLAXON”.
Reimpressa em versão fac-similar, com o título KLAXON em Revista, pela Cosac Naify, em parceria com o ICCO (Instituto de Cultura Contemporânea) e a Casa Guilherme de Almeida, e apoio do banco suíço UBS, a volta dos nove números da publicação, que emprestou o nome de uma marca norte-americana de buzinas em formato de corneta, é motivo de celebração. Mesmo considerada irregular por estudiosos do Modernismo, como Augusto de Campos, que a descreveu como “espantosamente frágil, ingênua e amadorística”, KLAXON foi projeto dos mais influentes ao apontar direções estéticas e de conteúdo para um emergente mercado editorial. Opinião reiterada por Daniel Rangel, diretor artístico do ICCO e também curador e organizador da nova coleção: “A revista manteve esse espírito de ruptura e de busca por uma linguagem gráfica própria, e tornou-se um clássico do design brasileiro”.
Para dar à compilação um caráter exclusivo (a publicação teve uma reedição nos anos 1990), Rangel convidou os artistas plásticos Marilá Dardot e Fabio Morais para criarem uma edição extra. Compuseram um exemplar em que cada página é criada a partir da fusão das páginas dos nove números originais.
Autor de 1922: A Semana que não Terminou (Companhia das Letras, 2012), o jornalista Marco Antonio Gonçalves assina o texto de apresentação e contrapõe a crítica severa de Augusto de Campos, relativizando absolutismos acerca dos pioneiros do nosso Modernismo: “Já se foi o tempo de buscar no movimento de 1922 o que ele não foi, seja para aumentar artificialmente sua influência, seja para diminuí-la, de maneira enviesada e não raro bairrista. Viva, pois, KLAXON, a buzina de nossa modernização estética periférica! Que deu frutos verdes. E amarelos”.
Feita de forma colaborativa, com parcos anúncios publicitários – que, aliás, eram criados pelo próprio Guilherme de Almeida – e rateio de despesas entre colaboradores que garantiam, em média, a tiragem de mil exemplares, KLAXON é símbolo de um Brasil que não necessariamente pretendia ser o “País do Futuro”, mas que ansiava o novo com ímpeto vanguardista dos mais saudáveis.
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