Impressões modernistas

As nove edições do mensário, reunidas agora na caixa Klaxon em Revista
As nove edições do mensário, reunidas na caixa KLAXON em Revista

Da primeira à nona edição, o mensário KLAXON traz na capa a mesma imagem e os mesmos dizeres, variando apenas as cores da enorme letra “A”, que recorta verticalmente a página, e do papel-cartolina utilizado para sua impressão. A sintética arte criada pelo poeta Guilherme de Almeida é também elemento de composição do bordão “Mensário de Arte Moderna”, replicado edição após edição. Envolto em uma das pernas do “asão”, o til e a primeira letra “a” de São Paulo indicam procedência e também são elementos fixos da capa. 

Naquele início de século 20, tal ousadia gráfica deixava explícito ao leitor que havia ali uma publicação distinta. Lançada três meses após o encerramento da Semana de Arte Moderna de 1922, a KLAXON, ou melhor, o KLAXON, visto que seus editores sempre trataram a publicação como “mensário”, foi laboratório de um seleto grupo de intelectuais e protagonistas do modernismo brasileiro. Entre eles, Sérgio Buarque de Holanda, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Luís Aranha, Mário de Andrade e Rubens Borba de Moraes. 

Colaboradores e entusiastas da KLAXON: 1) Couto de Barros 2) Manuel Bandeira 3) Mário de Andrade 4) Sampaio Vidal 5) Francesca Pertinati 6) Candida Mota Filho 7) Paula Prado 8) Flamínio Ferreira 9) Graça Aranha 10) René Thialier 11) Manuel Vilaboim 12) Gofredo da Silva Teles 13) Tácito de Almeida 14) Luís Aranha 15 Oswald de Andrade 16) Rubens Barbosa de Morais
Colaboradores e entusiastas da KLAXON: 1) Couto de Barros 2) Manuel Bandeira 3) Mário de Andrade 4) Sampaio Vidal 5) Francesco Pertinati 6) Candido Mota Filho 7) Paulo Prado 8) Flamínio Ferreira 9) Graça Aranha 10) René Thiollier 11) Manuel Vilaboim 12) Gofredo da Silva Teles 13) Tácito de Almeida 14) Luís Aranha 15) Oswald de Andrade 16) Rubens Barbosa de Morais

No editorial da primeira edição, assinado coletivamente como “A Redacção”, propósitos de vanguarda e uma irônica autoavaliação são explicitados: “KLAXON cogita principalmente de arte. Mas quer representar a epoca de 1920 em diante. Por isso é polymorpho, omnipresente, inquieto, cômico, irritante, contraditorio, invejado, insultado, feliz”. Em outro trecho do editorial, antecipando o provável nó na cabeça que a publicação provocaria, a “redacção” adverte: “KLAXON não se queixará jamais de ser incomprehendido pelo Brasil. O Brasil é que deverá se esforçar para comprehender KLAXON”.

Reimpressa em versão fac-similar, com o título KLAXON em Revista, pela Cosac Naify, em parceria com o ICCO (Instituto de Cultura Contemporânea) e a Casa Guilherme de Almeida, e apoio do banco suíço UBS, a volta dos nove números da publicação, que emprestou o nome de uma marca norte-americana de buzinas em formato de corneta, é motivo de celebração. Mesmo considerada irregular por estudiosos do Modernismo, como Augusto de Campos, que a descreveu como “espantosamente frágil, ingênua e amadorística”, KLAXON foi projeto dos mais influentes ao apontar direções estéticas e de conteúdo para um emergente mercado editorial. Opinião reiterada por Daniel Rangel, diretor artístico do ICCO e também curador e organizador da nova coleção: “A revista manteve esse espírito de ruptura e de busca por uma linguagem gráfica própria, e tornou-se um clássico do design brasileiro”. 

Para dar à compilação um caráter exclusivo (a publicação teve uma reedição nos anos 1990), Rangel convidou os artistas plásticos Marilá Dardot e Fabio Morais para criarem uma edição extra. Compuseram um exemplar em que cada página é criada a partir da fusão das páginas dos nove números originais. 

Autor de 1922: A Semana que não Terminou (Companhia das Letras, 2012), o jornalista Marco Antonio Gonçalves assina o texto de apresentação e contrapõe a crítica severa de Augusto de Campos, relativizando absolutismos acerca dos pioneiros do nosso Modernismo: “Já se foi o tempo de buscar no movimento de 1922 o que ele não foi, seja para aumentar artificialmente sua influência, seja para diminuí-la, de maneira enviesada e não raro bairrista. Viva, pois, KLAXON, a buzina de nossa modernização estética periférica! Que deu frutos verdes. E amarelos”. 

Feita de forma colaborativa, com parcos anúncios publicitários – que, aliás, eram criados pelo próprio Guilherme de Almeida – e rateio de despesas entre colaboradores que garantiam, em média, a tiragem de mil exemplares, KLAXON é símbolo de um Brasil que não necessariamente pretendia ser o “País do Futuro”, mas que ansiava o novo com ímpeto vanguardista dos mais saudáveis. 


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