Um novo relatório da Academia Nacional de Ciência Engenharia e Medicina, nos Estados Unidos, fez uma revisão rigorosa dos efeitos da maconha na medicina desde 1999. O comitê considerou mais de 10.000 resumos científicos para chegar a suas quase 100 conclusões. No documento, os especialistas também fizeram propostas para melhorar a qualidade das pesquisas de cannabis.
“Durante anos, a paisagem do consumo de maconha vem mudando rapidamente na medida em que mais e mais estados nos Estados Unidos estão legalizando a cannabis para o tratamento de condições médicas e uso recreativo”, disse Marie McCormick, presidente da comissão que escreveu o relatório, em nota.
Atualmente, a cannabis é a droga ilícita mais popular nos Estados Unidos, com 22,2 milhões de americanos de 12 anos ou mais relatando terem usado a planta nos últimos 30 dias. Esse consumo popular vem acompanhado também de preocupações com a saúde pública.
Os especialistas apontam que os resultados de todas as pesquisas sobre a maconha precisam ser analisados dentre os vários desafios e barreiras que a ciência enfrenta para a realização dos estudos.
Um desses desafios é que, apesar de alguns estados legalizarem a erva, a maconha nos Estados Unidos é classificada na lista 1 em nível federal. Essa lista é o mais alto grau de proibição americana e declara a substância como sendo desprovida de qualquer potencial medicinal e com alto grau para abuso. Segundo o comitê, essa classificação impede o avanço das pesquisas.
Os pesquisadores também muitas vezes acham difícil ter acesso à quantidade, qualidade e tipo de produto de cannabis necessário para abordar questões específicas de pesquisa. O comitê disse também que falta apoio e financiamento para estudos. Abaixo, confira algumas conclusões do documento sobre os efeitos da erva.
Efeitos terapêuticos
Um dos principais usos terapêuticos da cannabis e de seus canabinoides é o tratamento da dor crônica em adultos. De fato, o comitê encontrou evidência de que pacientes que foram tratados com cannabis experimentaram uma redução significativa em sintomas da dor.
Para adultos com espasmos musculares relacionados à esclerose múltipla, o comitê também encontrou evidências substanciais de que medicamentos feitos com base em cannabis melhoraram os sintomas. Além disso, houve evidência conclusiva de que certos canabinoides orais foram eficazes em náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia.
Câncer
Em relação à ligação entre a maconha e o câncer, a comissão encontrou evidências que sugerem que fumar cannabis não aumenta o risco de câncer frequentemente associado com o uso do tabaco – como câncer de pulmão, de cabeça e de pescoço. O comitê também encontrou evidências limitadas de que o uso de cannabis está associado a um subtipo de câncer testicular e evidência insuficiente de que o uso de maconha por uma mãe ou pai durante a gravidez leva a um maior risco de câncer na criança.
Ataque cardíaco, AVC e diabetes
O comitê disse que mais pesquisas são necessárias para determinar se o uso de cannabis está associado com infarto, AVC e diabetes. No entanto, algumas evidências sugerem que fumar cannabis pode desencadear um infarto.
Doença respiratória
A evidência revisada pelo comitê sugere que fumar maconha em uma base regular está associada com episódios mais frequentes de bronquite crônica e tosse crônica. No entanto, o comitê afirmou que não está claro se o uso de cannabis está associado a certas doenças respiratórias, incluindo doença pulmonar obstrutiva crônica, asma ou piora da função pulmonar.
Acidentes
Evidências sugerem que o uso de cannabis antes da condução aumenta o risco de estar envolvido em um acidente de carro.
Imunidade
Há uma falta de dados sobre os efeitos da cannabis sobre o sistema imunológico humano. Também há evidências insuficientes para apoiar ou refutar uma associação estatística entre o uso de cannabis e os efeitos adversos sobre o estado imunológico em indivíduos com HIV. No entanto, evidências limitadas sugerem que a exposição regular à fumaça de cannabis pode ter atividade anti-inflamatória.
Saúde mental
A evidência revisada pela comissão sugere que o consumo pesado de cannabis em indivíduos vulneráveis aumenta o risco de desenvolver esquizofrenia, outras psicoses, distúrbios de ansiedade social, e, em menor medida, depressão. Ainda, usuários pesados de cannabis são mais propensos a relatar pensamentos de suicídio do que não usuários e, em indivíduos com transtorno bipolar, usuários de cannabis quase diários mostram sintomas aumentados do transtorno do que os não-usuários.
Problema de uso de cannabis
Evidências sugerem que iniciar o consumo de cannabis em uma idade mais jovem aumenta a probabilidade de desenvolver o uso problemático.
Uso de cannabis e abuso de outras substâncias
O comitê encontrou evidências limitadas de que o consumo de cannabis aumenta a taxa de início do uso de outras drogas, principalmente o uso de tabaco.
Psicossocial
O aprendizado, a memória e a atenção são prejudicados após o consumo imediato de cannabis. Além disso, existem evidências limitadas que sugerem que o consumo de cannabis está relacionado com deficiências nos resultados acadêmicos e educação subsequentes, bem como nas relações sociais e papéis sociais. O comitê também encontrou evidências limitadas de uma associação entre o uso de cannabis e aumento das taxas de desemprego e baixa renda.
Na gravidez
Fumar maconha durante a gravidez está associada a menor peso ao nascer, sugerem algumas evidências. No entanto, a relação com outros resultados da gravidez e na infância não está clara.
Leia o relatório: The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids: The Current State of Evidence and Recommendations for Research (2017). Disponível em: https://www.nap.edu/catalog/24625/the-health-effects-of-cannabis-and-cannabinoids-the-current-state
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