Cerca de 3 milhões de mortes por ano estão ligadas à poluição ambiental. Ainda, o número dobra se considerarmos a poluição doméstica: os poluentes que se acumulam em nosso lar e são tão letais quanto os externos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Dados da entidade mostram que uma estimativa de 6.5 milhões de mortes em 2012 estão associadas com os dois tipos de poluição.
As mortes não são causadas só por doenças respiratórias. Estudos recentes demonstram que a poluição do ar está ligada à hipertensão, estresse, doenças psiquiátricas, diabetes e doenças cardiovasculares. No Brasil, 26.241 mortes por ano ocorrem por conta da poluição – com 198 delas sendo mortes de crianças. Por aqui, os poluentes matam mais quanto atingem o coração.
Está difícil mudar esse quadro, mas há iniciativas. Uma delas é a campanha lançada recentemente pela Organização Mundial da Saúde, com o apoio da ONG Climate & Clean Air Coalition e o governo da Noruega. A “BreathLife” tenta mostrar que a poluição deixou há muito tempo de ser um problema do futuro. No site da empreitada, o internauta é convidado a digitar a região em que vive e ver qual o impacto que o ambiente tem na sua saúde. Fizemos um exercício de procurar dados para algumas cidades – e não encontramos nenhuma que estivesse dentro de níveis seguros da OMS.
Ao digitar São Paulo, por exemplo, aparece um dado preocupante. O nível de exposição à poluição na cidade está 90% acima do recomendado. Em Buenos Aires, o nível está 40% acima. Nova York e Los Angeles, nos Estados Unidos (10%); em Berlim, na Alemanha, (60%); Londres, no Reino Unido (50%), Paris, na França, (80%); e Oslo, na Noruega, (10%).
Na África e na Ásia e em cidades da América Latina como Caracas, na Venezuela, a poluição é tão alta que a OMS começa a medir de outra maneira – o ponteiro chega no vermelho e os dados são medidos a partir do dobro. Assim, Caracas está 2.5 acima do recomendado,;Bogotá, na Colômbia, (2.4); Lima, no Peru (4.8); Johanesburgo, na África do Sul (4.1); Mumbai, na Índia (6.3); Cairo, no Egito (7.6); e Beijing, na China (8.5).
Os dados são da própria OMS e são medidos pela média anual de exposição a materiais particulados (PM) as pequenas partículas inaladas que penetram no corpo e estão associadas à morte prematura.
O ônus da poluição, pelos dados, está mais preocupante nas cidades e países mais pobres. Mas ninguém escapa. Segundo a Organização Mundial da Saúde, nos últimos dois anos, os dados de todas as cidades praticamente dobraram. O mundo está cada vez mais poluído, salienta a entidade – e na esteira, crescem também as mortes associadas.
Doenças associadas e pesquisas
O Saúde!Brasileiros fez um levantamento de estudos recentes que destrincham os dados coletados da OMS. Encontramos evidências do impacto da poluição em muitos estudos. Exposição a longo prazo à poluição do ar, por exemplo, está associada a uma maior incidência da hipertensão, de acordo com um dos maiores e longos estudos já feitos sobre essa associação. A pesquisa, publicada no European Heart Journal, seguiu 41.000 pessoas em cinco países diferentes por um período que variou de 5-9 anos.
A poluição também aumenta a incidência de diabetes tipo 2, de acordo com estudo publicado no jornal médico Diabetes. Poluentes estão associados com o mecanismo de resistência à insulina – situação que, muitas vezes precede a diabetes tipo 2 (a forma da doença adquirida). Aqui, a insulina (hormônio responsável pelo aproveitamento da glicose pelas células) não dá conta de quebrar o açúcar circulante no sangue.
Também estudo publicado no prestigiado Lancet Neurology mostrou que poluentes contribuem para o risco do Acidente Vascular Cerebral e são um fator de risco importante para, pelo menos, um terço deles. Enquanto os maiores fatores de risco são dietas ricas em sal e obesidade, a poluição aparece como fator importante em 29,2% dos casos.
Ainda, a poluição está associada à doença cardíaca. Um estudo feito nos Estados Unidos, também publicado no Lancet, mostrou que pessoas que vivem em áreas mais poluídas acumulam poluição nas artérias que irrigam o coração.
A pesquisa ajudou a desvendar o processo biológico por meio do qual poluentes estão associados ao infarto e outras doenças cardiovasculares.
Um outro estudo sueco mostrou que a poluição pode estar associada a maior incidência de doenças psiquiátricas. Publicada no British Medical Journal, a pesquisa fez uma correlação entre medicamentos distribuídos em regiões mais poluídas e mostrou que há uma associação entre ambos que precisa ser melhor explorada.
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