Passa o saleiro, por favor?

O Ministério da Saúde divulgou na quarta-feira (29) os resultados da terceira fase do plano do governo de redução de sal junto às indústrias alimentícias. Na fase atual, houve uma redução de 7.241 toneladas de sal em temperos, caldos, cereais matinais e margarinas vegetais.

Desde que teve início, em 2011, o acordo de redução progressiva de sal feito entre o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia, que representa a maioria das indústrias alimentícias) conseguiu retirar 14,893 toneladas de sal de alimentos processados. 

As 14,8 mil toneladas de sal removidas dos alimentos se referem ao cumprimento de três etapas iniciais do acordo. A primeira fase, de abril de 2011, determinou a redução em massas instantâneas, pães de forma e bisnaguinhas. Cerca de 1859 toneladas de sal foram eliminadas na produção desses alimentos.

A segunda etapa, em outubro de 2011, reduziu o sal de batatas fritas, salgadinhos, bolos e misturas para bolos, maionese e biscoitos (5.793 toneladas).

A quarta fase, iniciada em novembro de 2013, determinou a redução de sal em empanados, queijo mussarela, sopas, requeijão cremoso, hambúrguer e embutidos, como linguiças e salsicha. Os resultados deverão ser apresentados até o final de 2016.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 59 países já possuem políticas públicas para redução do sal. Foto: Ingimage
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 59 países já possuem políticas públicas para redução do sal. Foto: Ingimage

Rediscussão urgente de metas

Segundo o Ministério da Saúde, os objetivos da diminuição são progressivos e por isso o governo está discutindo com a indústria alimentícia a renovação das metas da retirada do sal em pães, bisnaguinhas e massas instantâneas, o que corresponde aos alimentos da primeira fase. 

O plano brasileiro é reduzir 28.562 toneladas de sal das prateleiras prevista até 2020.  O número foi estabelecido consensualmente entre o governo e a indústria. Os fabricantes argumentam que podem discutir novas metas, mas que devem ser considerados os desafios tecnológicos envolvidos nessa redução. Entre outras funções, o sódio é um conservante dos produtos industrializados. 

Elevar as metas é importante, e isso vai depender também do poder de pressão da sociedade. O acordo atual entre a indústria e o governo é considerado fraco por especialistas. Ele foi avaliado por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo o estudo, em 2017, depois do cumprimento das metas combinadas, a quantidade de sal em 35 tipos de alimentos industrializados terá decrescido apenas 1,5%. O ideal seria que a diminuição alcançasse cerca de 50%. 

Avanços no mundo

No mundo, cerca de 59 países adotam políticas de redução do sal. No Reino Unido, por exemplo, o consumo de sal entre a população já caiu cerca de 15%. Entre os britânicos, as metas de redução por item são mais ambiciosas. Enquanto no Brasil o propósito é baixar em 5% o sal do queijo mussarela até 2017, os britânicos almejam alcançar 22%. 

Os Estados Unidos, um dos pioneiros nessa batalha, começaram a reduzir sal em 2010 por iniciativa do ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. Ele começou o movimento para tirar o fumo dos locais públicos e eliminar a gordura transaturada da comida. O alvo inicial dos estadounidenses era tirar 25% do sal da comida industrializada ou pronta em cinco anos.


O sal e a saúde

Saúde!Brasileiros conversou com o cardiologista Múcio Tavares de Oliveira Jr., diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, sobre os efeitos do sal na saúde. Confira:

“Assim como o açúcar, o sal não faz parte daquilo que a nossa carga genética está preparada para enfrentar. Se considerarmos os alimentos não processados, muitos contêm sódio, mas não em dose exagerada. Mesmo o peixe de água salgada não tem sódio em excesso.  
No entanto, quando se começou a refinar o sal, o seu uso se expandiu ainda mais. Os alimentos ficaram mais saborosos e, além disso, surgiram muitos conservantes à base de sódio, o que teve relação direta com a redução dos casos de câncer de estômago no passado.

O problema é o exagero. No caso do sal, estudos feitos com animais e com seres humanos mostram que se indivíduos sem propensão à hipertensão forem submetidos a a uma dieta rica em sal, eles manifestarão pressão alta. E dela podem vir outras doenças, como aterosclerose e a insuficiência renal.

Para as pessoas que já têm propensão a apresentar hipertensão, o risco com o consumo excessivo de sal é ter a doença mais precocemente.

Quanto aos indivíduos que já têm a doença efetivamente, terão mais dificuldade em controlar a pressão por conta do excesso de sal.

No consultório, é possível ver quanto o brasileiro está acostumado a usar muito sal. Na Europa, que começou essa redução há mais tempo, os alimentos feitos em casa e prontos evidentemente contém menores quantidades desse ingrediente. Penso que mesmo uma redução de 1,5%, embora seja baixa, já representa um grande avanço em termos de mudança de conceito no Brasil.


Brasileiros são malucos por sal

Comemos muito mais sal do que podemos. Mais do que o dobro. A média de consumo no País fica entre 10 a 14 gramas de sal diárias (até cinco colheres e meia de chá rasas). 

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o consumo total, entre alimentos feitos em casa e industrializados, não ultrapasse 5 gramas por dia (2 colheres de chá rasas)

1 pão francês têm 1 grama de sal. É o equivalente a 20% da ingestão recomendada por dia. (E isso porque houve uma redução de 10% no teor de sal deste alimento nos últimos cinco anos).

De onde vem tanto sal?
Uma parte vem do saleiro, que no Brasil tem ainda lugar de destaque à mesa. Porém, a maior parte corresponde ao sal contido em alimentos processados e industrializados.  

Por que o sal em excesso é ruim? 
O sal contém sódio, mineral que, em quantidade elevada, favorece o espessamento das paredes dos vasos sanguíneos e a retenção de líquidos.  
Em pessoas mais sensíveis à sua ação, o sal também pode interferir no funcionamento do sistema nervosa simpático (controla a contração dos vasos sanguíneos). Esses efeitos representam fatores de risco importantes para doenças cardíacas e vasculares, as que mais matam no País. 
Podem, portanto, abrir caminho para a hipertensão arterial, um fator de risco importante para o infarto, o derrame cerebral, a insuficiência renal, a hipertensão arterial e doenças como a osteoporose, o câncer de estômago, cálculos renais e catarata.


5 SUGESTÕES PARA REDUZIR O SEU CONSUMO 

Anote as dicas do cardiologista Múcio Tavares de Oliveira Jr., diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, para reduzir o consumo de sal

Restaurant Table

TIRE DA MESA 
1 – Não coloque mais o saleiro ou mesmo potinhos de sal “gourmet” à mesa. Coma, no máximo 1 grama de sal (1 colher rasa de café), em cada refeição principal. 

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TUDO TEM SEU TEMPO 
2 – Diminua aos poucos. Pesquisas informam que o paladar pode se adaptar em cerca de quatro meses. Existem produtos que substituem o sal e que contêm metade da quantidade de sódio, mas devem ser usados com moderação. 

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UM UNIVERSO DE SABORES AO SEU ALCANCE
3 – Em vez de contar só com o sal para temperar, busque opções saborosas, como o curry, a páprica, temperos artesanais combinados, alho, manjericão, pimentas, coentro, cebola, cheiro verde, limão e picles preparados sem sal. 
Dried meat with pepper and salt on rustic wooden background
DELÍCIAS PERIGOSAS 
4 – Procure comer com moderação ou evite: embutidos (salsicha, linguiça, mortadela, presunto, chouriço) enlatados (ervilha, milho verde, palmito, sardinha, patês),  defumados (carnes salgadas, toucinho, paio, bacalhau, camarão seco), molhos prontos (catchup, molho inglês, maionese, mostarda, caldo de carne), manteiga e margarina com sal; queijos, com exceção do minas sem sal e ricota sem sal. 
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VALORIZE AS INFORMAÇÕES DO RÓTULO
5 -Leia os rótulos de informações dos alimentos industrializados. Se o pacote contiver mais de 300 mg (ou 0,3 g) de sal, não coma


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