O que se sabe é que o cérebro não pode se alimentar de gordura. A barreira sangue-cérebro o protege de organismos nocivos e das toxinas que circulam no sangue. E ainda que o órgão se aproveite da glicose, seu principal combustível, ele não consegue armazená-la. Assim, depende do fornecimento de açúcar em tempo real (o fígado é o gestor dessa complicada operação).
Mas será mesmo que um órgão tão importante recorre a apenas um nutriente e não pode armazenar nenhum outro? A resposta mais recente da ciência é não, embora ainda exista muito a ser explicado.
Cientistas desconfiam que o glutamato, um aminoácido que é produto da metabolização de proteínas encontradas em queijos, carnes e leguminosas, pode ter um papel importante na nutrição cerebral.
O glutamato é um aminoácido com funções muito diferentes no organismo: no pâncreas, ele modula a atividade das células responsáveis pela produção de insulina; no cérebro é o principal neurotransmissor excitatório (substância responsável por passar o impulso nervoso de um neurônio a outro, já que eles não se tocam).
Para fazer isso, eles analisaram o papel de uma enzima que quebra o glutamato no cérebro e o deixa de uma forma em que ele possa ser aproveitado. Às vezes, no entanto, essa enzima fica alterada quando codificada pelo gene Glud1 e causa o hiperinsulinismo, síndrome grave que afeta ao mesmo tempo o pâncreas, o fígado e o cérebro. Seus portadores sofrem de deficiência intelectual e têm um alto risco de epilepsia.
No teste, feito com camundongos, os pesquisadores inibiram a atividade do gene Glud1 no cérebro desses animais. Esse gene regula a produção da enzima glutamado desidrogenase.
Efeito cascata
Desprovido da energia fornecida pelo glutamato cerebral, o cérebro envia sinais para o fígado para requisitar uma compensação de glicose, à custa do resto do corpo. É por isso que os ratinhos também apresentaram um déficit de crescimento e atrofia muscular.
“Se uma parte desta energia desaparece, o resto do corpo sofre. O fígado deve então fazer mais glicose e pode tirar proteína dos músculos, o que resulta em perda de massa. Sabendo-se que o cérebro usa glutamato como uma fonte de energia permite-nos refletir sobre outras maneiras de superar um déficit potencial. “
Os especialistas também suspeitam de uma correlação entre o gene Glud1 e algumas doenças, particularmente epilepsia e esquizofrenia. Para testar a hipótese, eles estão introduzindo em ratos a mesma mutação Glud1 detectada em pacientes de epilepsia. Ao mesmo tempo, outro grupo está trabalhando com grupos de pessoas com esquizofrenia para avaliar a forma como o cérebro utiliza o glutamato.
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