1:54, a pequena ambiciosa que veio para transformar

"99-Series" (2013), de Aida Muluneh. Foto: Cortesia/ Aida Muluneh
“99-Series” (2013), de Aida Muluneh. Foto: Cortesia/ Aida Muluneh


Na edição de 2016
da feira de arte The Armory Show, um espaço de destaque foi dado para a produção artística contemporânea do continente africano e de sua diáspora através do programa African Perspectives (Perspectivas Africanas), com curadoria de Julia Grosse  e Yvette Mutumba, fundadoras da plataforma online Contemporary And (C&). Entretanto, na jovem feira 1:54 Contemporary African Art, a arte contemporânea africana e da diáspora têm foco permanente.

Depois de seu ano inaugural no Pioneer Works Center for Arts & Innovaton no Brooklyn (Nova York) em maio de 2015, a feira voltou à cidade entre os dias 6 e 8 deste mês para a sua segunda edição. Fundada pela empreendedora marroquina Touria El Glaoui, 1:54 teve seu début em 2013 em Londres (em ambas as cidades ela acontece durante o período da Frieze Art Fair) com a promessa de “expandir o conhecimento sobre a África e seu dinâmico mercado de arte”. 1:54 é uma referência aos 54 países que formam o continente africano e um esforço para atualizar a percepção ainda monolítica que se tem da África. Assim, desde o título, a fundadora posiciona o evento como uma plataforma para representar e refletir, no palco internacional, a multiplicidade da produção de arte contemporânea e da cultura africanas. A edição 2016  apresentou 17 expositores representando 60 artistas africanos e da diáspora, entre eles ryby onyinyenchi amanze, Betrice Wanjiku, Omar Victor Diop, Aida ­Muluneh, Billie Zangewa, Derrick Adams e Ibrahim Mahama.

Alt+Shift+Ego #4 de Omar Victor Diop,  2013
“Alt+Shift+Ego #4” (2013), de Omar Victor Diop

Mas há um aspecto curioso que distingue a 1:54 de outros eventos comerciais de arte – o que talvez explique o número ainda pequeno de expositores. Como que numa inversão da lógica comercial, a 1:54 apresenta, desde sua inauguração e como parte importante de sua proposta, um programa de conversas críticas que inclui entrevistas com artistas e debates com curadores e pesquisadores dedicados a essa produção. Organizada por Koyo Kouoh – fundadora e diretora artística da RAW Material Company (Dakar) e diretora artística da EVA  International, Bienal Internacional de Arte Contemporânea da Irlanda –, o 1:54 FORUM começou com uma primeira edição robusta, propondo discussões que ampliam a possibilidade de compreensão da produção artística e cultural do continente africano e sua diáspora. Esses diálogos também oferecem o contexto sociocultural, histórico e político para tal produção. Em 2015, o evento reuniu pesquisadores e curadores como Naima J. Keith, Chika Okeke-Agulu, e artistas como Hank Willis Thomas e Meleko Mokgosi, entre outros.

O 1:54 FORUM deste ano expandiu o diálogo produzindo reflexão sobre o fenômeno da repatriação da classe criativa africana, sobre a emergência de novos empreendedores sociais, mídias digitais e o crescente interesse pela arte e cultura contemporâneas africanas, entre outros. Cineastas, jornalistas e empreendedores de mídias digitais compartilharam suas opiniões e a perspectiva africana desses temas. Neste ano a sessão discursiva assumiu um formato colaborativo e foi organizada em parceria com os curadores Adrienne Edwards (Performa e Walker Art Center), curadora da nova sessão de performances 1:54 PERFORMS; Ugochukwu-Smooth (Hood Museum of Art, Dartmouth College) e Dexter Wimberly (curador independente, ICI). Em parceria também com a 12a Bienal de Dakar, que foi aberta na mesma semana da feira, 1:54 teve um canal com transmissão diária dos highlights da Bienal.

Resta observar como, ao longo das próximas edições, a plataforma 1:54 irá dialogar com o conceito de diáspora – ele mesmo bastante plural – e como ela irá abranger a produção de artistas afrodescendentes de países como o Brasil. De qualquer maneira, sua proposta colaborativa e o foco num programa discursivo crítico dão mostras de que a 1:54 é uma pequena ambiciosa que veio para transformar.

" Lifts beyond conception VII" (2015), Beatrice Wanjiku,
” Lifts beyond conception VII” (2015), Beatrice Wanjiku,

 


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