Os anos 1970 e 80 foram movimentados por performances e intervenções urbanas que pipocavam por galerias, museus e ruas de São Paulo. Uma juventude criativa, rebelde e desafiadora atuava nas ruas em pleno “anos de chumbo”, quando a ditadura militar ainda dominava o País. Em meio a essa ebulição, dois grupos se destacavam: 3NÓS3, formado por Hudinilson Jr., Mario Ramiro e Rafael França; e Arte/Ação, composto pela dupla Francisco Iñarra e Genilson Soares, autores de uma arte rápida e efêmera. Formados por gerações diferentes, os grupos nunca atuaram juntos. Eles foram unidos em uma instigante mostra, a Obra e Documento-Arte/Ação e 3NÓS3, no Centro Cultural São Paulo.
Perante o caráter efêmero dos trabalhos, tudo era registrado em fotos e em vídeos, e se transformaram nos documentos da exposição, resultado da pesquisa da curadora Maria Adelaide Pontes para sua tese de mestrado. Para ela, os dois grupos “possuem aproximações, visto que ambos operam dialeticamente, dentro e fora do circuito artístico, com proposições de caráter efêmero e clandestino e que encontram duração, em sua maioria, na imagem técnica”.
Criado em 1979, o 3NÓS3 em seus quatro anos de atuação surpreendeu a cidade com 11 intervenções urbanas que deram o que falar. O grupo atuava fora dos limites da legalidade, movido pela transgressão, colocando em xeque o olhar oficial sobre a arte pública, abrindo o debate sobre a relação da arte com a cidade. O grupo atuou até o ano de 1982, quando Rafael França foi para os Estados Unidos cursar a School of the Art Institute of Chicago. A partir daí, o grupo se dissolveu e seus integrantes seguiram carreira solo.
Todas suas intervenções foram marcadas pela transgressão e pelo confronto com os processos oficiais. Cada um de seus eventos surpreendia a cidade e desarmava o olhar viciado do espectador com algo nunca visto. Uma de suas performances mais atrevidas foi ensacar algumas das estátuas de praças públicas paulistanas, muitas delas retratavam vultos da história do País. Outro momento de desafio foi Conecção (contração de “conexão” com “ação”), realizada em 1981 no cruzamento das avenidas Rebouças e Dr. Arnaldo. Nessa ocasião, foram colocadas dezenas de metros de filme polietileno de cor vermelha na grade de ventilação do metrô e no gramado circundante. A asfixia do debate sobre arte pública estava aberta.
Já o grupo Arte/Ação iniciou suas intervenções em espaços fechados, com a apropriação de obras de artistas pertencentes ao acervo do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. A prática do grupo era pautada pelo conceito “documentar é expressar”, cuja origem era o Equipe3, criado em 1971 com outra artista paulistana Lydia Okumura.
A atuação do 3NÓS3 e do Arte/Ação marcou profundamente o circuito da arte paulistana.
Deixe um comentário