Duas artistas mulheres da mesma geração obtiveram destaque e premiação na recém- inaugurada Bienal de Veneza. A brasileira Cinthia Marcelle, que recebeu menção especial por Chão de Caça, e a alemã Anne Imhof, ganhadora do Leão de Ouro pela performance Faust , fizeram uso dos espaços arquitetônicos de seus respectivos pavilhões Brasil e Alemanha envolvendo o expectador em uma trama espacial e emocional. Os pisos de ambos os prédios foram suspensos por grade de metal e superfície de vidro, respectivamente – estas intervenções transparentes criam plataformas temporárias para o percurso do visitante que literalmente “perde o chão“ e se vê como parte atuante da obra de arte em evolução.
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Poucos elementos como pintura, objetos aleatórios e seres em atuação dão sinais da tensão social, política e cultural transposta por estas obras elaboradas exclusivamente para a Bienal. Anne Imhof apresenta no histórico prédio nazista a performance Faust, dirigida por ela e representada por uma equipe fixa de performers, músicos e cenógrafos. Durante a atuação de cinco horas o visitante se depara com cenas do cotidiano representadas por gestos minimalistas regados por cânticos ecoados por seres apáticos e imersos em seu universo – estes extraídos do universo hipster alemão. Todo este cenário é resguardado por cães de guarda dentro de um canil construído ao redor do pavilhão.
Chão de Caça, de Cinthia Marcelle, emana uma grande tensão através do vídeo Nau, produzido em parceria com Tiago Mata Machado – uma alusão a uma rebelião, a busca de liberdade mesmo que temporária e fictícia simulada por telhadores. Estes uniformizados e mascarados abrem respiro ao destelhar um prédio e alcançar lentamente o espaço externo com gestos de conquista. Ambas artistas conquistam através de sua linguagem artística, conceito e atualidade contextual o reconhecimento mundial.
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