A arco por quem esteve lá

A Arte Contemporáneo (ARCO) é a feira mais tradicional da Espanha, país que nos últimos 20 anos cresceu de maneira forte e rápida. Com isso, veio a reboque uma demanda por arte muito grande. Surgiram novos colecionadores e vários museus passaram a ter uma agenda intensa e um programa de compras de obras para seus acervos, entre eles o Reina Sofia e o Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León (MUSAC), somente para citar alguns.

Obviamente, não dá para um país crescer tanto eternamente e, neste momento, a Espanha passa por uma crise em que o desemprego bate a casa dos 20%, o que assusta todo mundo e tem retraído a demanda, mas como nos últimos anos a euforia havia elevado mundialmente os preços de alguns artistas, acho que essa retração é saudável.

A ARCO é uma feira diferente das outras, pois algumas das dezenas de feiras que surgiram nos últimos anos são independentes. A ARCO pertence à Feira de Madrid (IFEMA), uma empresa que administra feiras e dá suporte logístico. A IFEMA tem como sócios, entre outros, o poder público e na Espanha que é um país com regiões bem marcadas existe uma discussão política importante, e a feira não fugiu à regra.
A ARCO reinava soberana, porém veio a Miami Basel que levou o público latino frequentador da ARCO e a Frieze em Londres que tomou um grande número de colecionadores europeus. Essas feiras são hoje consideradas as melhores e houve um esvaziamento da ARCO, que mesmo assim não perdeu sua importância.
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Neste ano, resolvemos participar – Casa Triângulo, Galeria Leme e Luciana Brito Galeria – em um só estande com 150 m. Grande para concentrar a representação brasileira e despertar ainda mais a curiosidade do público e a qualidade das obras expostas. Para nós três foi uma experiência muito rica. O estande estava muito bonito, harmônico e mostrava bem o que cada galeria representa. A harmonia era tanta que parecia uma galeria só. O resultado foi muito bom e espero repetir a experiência com esses colegas.

Mostramos desde jovens, como Regina Parra, Thiago Carneiro, Tony Camargo, como veteranos e nomes de suma importância, como Marina Abramovic, David Batchelor e Sandra Cinto.

A ausência de galerias internacionais é justificável, por um lado a Europa ainda está saindo da crise que teve início do ano retrasado e, por outro, há uma maior diversificação de espaços com o ingresso de novas e fortes ferias nos últimos 10 anos. A ARCO, diferentemente das outras feiras internacionais, tem uma presença de galerias ibéricas muito forte e deve ser remodelada para a próxima edição. Para isso existe um comitê de seleção que opina e leva tópicos à diretoria.

Ainda nesta edição, vimos obras de qualidade como as de Baldessari, León Ferrari, um estande maravilhoso de Luciana Brito do Grupo Ruptura, na ala de projetos curados, e vimos o frescor de galerias brasileiras que não estão no mainstream como a Ybakatu de Curitiba, que apresentou um estande impecável e fez boas vendas e contatos.

Sobre as três galerias, posso dizer que a série de Caio Reisewitz, feita recentemente sobre a Galícia, despertou enorme interesse, assim como o trabalho de Marcelo Moscheta, que produziu uma peça entre a Galícia e Portugal, uma instalação deslumbrante.

A argentina Liliana Porter teve várias obras vendidas e os brasileiros que representaram o Brasil, na última edição da Bienal de Veneza – Luiz Braga e Delson Uchôa fizeram bonito. Luiz Braga teve uma foto sua vendida para a Fundação ARCO. Sandra Gamarra, peruana, que participará da próxima edição da Bienal de São Paulo, teve três obras vendidas e o também peruano Pier Stockholm teve todas suas obras expostas vendidas para excelentes coleções.

Por fim, acredito que foi muito proveitoso estarmos, as três galerias juntas e sem dúvida pensamos em repetir esse modelo, eventualmente em outras situações.

*Eduardo Leme é sócio da Galeria Leme


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