A revolução somos nós

A influência?que Joseph Beuys desempenha na arte contemporânea alemã e internacional é infinita. Sua complexidade estava além de seu tempo e extrapola ainda hoje barreiras geográficas, culturais, políticas e sociais.

A mostra A Revolução Somos Nós, elaborada para o SESC Pompeia pelo Video Brasil com o curador convidado Antonio d´Avossa, é a primeira individual de Joseph Beuys no Brasil, vindo para saciar o desejo de seu público brasileiro de um confronto direto com sua obra. Esta, sem perder em atualidade, representada na mostra por 260 itens entre múltiplos, vídeos e cartazes de seu percurso artístico, revelam o incansável apelo de seu teor conceitual que instrui o público para uma abordagem mais ampla da arte contemporânea enraizada no dia a dia, através de gestos, atuações e imposições à primeira vista banais. O diferencial são justamente as minúcias essenciais que se escondem nas dobras e cantos da banalidade do cotidiano, e por isso passam despercebidas.
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O SESC Pompeia é a plataforma ideal para a confrontação da obra de Joseph Beuys com o público em geral, sendo estes os destinatários do seu discurso político, assim como de suas narrativas sobre seu trabalho visto sob a lupa de críticos de arte, ou ainda de sua concepção antropológica de arte. Nessa plataforma montada no SESC o público em geral, seguido pelo especializado, tem acesso à figura abrangente do artista. Esse público democrático se assemelha ao público que aqui na Alemanha tem acesso às obras de Joseph Beuys, com o diferencial de que aqui ela está preservada nos principais museus e disponível também em espaços públicos, como é o caso da instalação de 7 mil castanheiras espalhadas pela cidade em 1982, como resultado de uma ação pela simbiose entre homem e natureza, resultando na coexistência de ambos, ou ainda dos seres humanos de forma geral, protegidos de todo e qualquer preconceito.

Sendo um sobrevivente de guerra, a pessoa Joseph Beuys não temia confrontações, pelo contrário, as criava e as disseminava em seu papel de professor na Academia de Arte de Düsseldorf. Suas diversas ações coletivas, denominadas de arte social, acumulavam perseguidores onde coexistiam. Funcionando como panfletos políticos, seus cartazes de exposições e ações enfatizam, como propaganda, o intuito de disseminar sua plataforma ideológica. Essa tendência está explícita na mostra Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós, com a apresentação de 200 cartazes originais das décadas de 1970 e 1980 assinados pelo artista, contribuindo por sua multiplicidade para a democratização da arte e de seu poder de persuasão!


Tereza de Arruda?é historiadora de arte e curadora independente desde 1989 em Berlim, onde estudou história da arte na Universidade Livre de Berlim


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