A síntese poética de Sérgio Sister

"Sem Título", 2007, óleo sobre tela, dimensão 100 x 250 cm

Em entrevista concedida à ARTE!Brasileiros, em agosto de 2011, durante reportagem que retratou parte da rotina de seu ateliê na Barra Funda, Sérgio Sister estava às voltas com as contingências de uma nova exposição internacional, na Josee Bienvenu Gallery, em Nova York. Além de abrir a intimidade de seu habitat criativo, o artista relembrou episódios de sua particular trajetória iniciada precocemente aos 19 anos, em 1967, quando integrou a Bienal de São Paulo. Sister atribuiu ao fato insignificância, e defendeu que ainda estava em um momento de procura. Opositor da ditadura instaurada no País em 1970, o artista foi preso pelo regime militar e permaneceu encarcerado por 19 meses. O gesto arbitrário e repressor só fez recrudescer a militância política de Sister, que também passou a atuar como jornalista e fez pós-graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. A retomada da produção artística deu-se no início da década de 1980 e Sister se consolidou como um dos nomes mais representativos de sua geração. Algo que, segundo ele, só foi possível após um longo processo de maturação, que chegou ao ápice no final daquela década, justamente no momento de reabertura política do País. “Todas essas experiências entraram em minha subjetividade, mas não faço arte política. Lógico que algumas escolhas e opções são políticas. Tenho uma ética para a minha a arte. Uma ética da mudança e da transformação. Gosto de unir diferenças, misturar coisas simples com outras mais complexas. E a defesa do encontro dessas diferenças também é uma escolha política.”

Sergio Sister diate de uma de suas obras da série "Ripas"

E são trabalhos criados após esse período de definição de um norte estético e discursivo que compõem a retrospectiva Sérgio Sister, na Pinacoteca de São Paulo. Reunindo pinturas, desenhos e objetos produzidos entre 1990 e 2012, a mostra apresenta cerca de 30 obras. A curadoria ficou a cargo do filósofo e crítico de arte Alberto Tassinari, que atribui à exposição o papel de evidenciar a síntese poética de Sister, ao expor um conjunto de obras que desafiam o olhar: “Há algo de um ovo de Colombo nas obras, que não param de nos instigar, pois potencializam os três elementos que estão na raiz da poética de Sérgio Sister – luminosidade, feição e afeição. São cópias de caixas de frutas cuja feição é, mais do que em qualquer outro momento da obra do Sérgio, algo de achado no mundo. Algo que o artista olhou e entreviu como possibilidade de trabalho. Penduradas em uma parede, e não dispostas horizontalmente, as tiras logo lembram faixas e, além disso, como caixas, com frente e verso, a luz diferentemente as percorrerá. Tudo se passa como se o artista tivesse encontrado os três elementos poéticos com que trabalha já prontos no mundo. E, de certo modo, encontrou”, defende Tassinari, ao referir-se à série Caixas. A mostra ainda reúne outra importante série, Ripas, em que Sister conjuga diferentes cores sobre a mesma luz que, submetidas a uma textura acinzentada, projetam sombras nos filetes de madeira. Sobre o lúdico processo criativo que empreende, ao investigar possibilidades com diferentes materiais, densidades de pintura e sobreposições, Sister (que deu início à série Caixasapós encontrar dezenas de caixas de frutas vazias na garagem de seu prédio) atribui ao acaso um valor determinante. “Por uma bela perversão da natureza, o espaço e o tempo acabam reunindo cacos aparentemente desconexos. Não importa se os estilhaços tenham origem na singeleza natural dos anos ou na destruição dos homens. Em algum momento, as tensões e as desconexões que se acumulam ou se transfiguram são como uma unidade íntegra e visível. Isso me chega através da pintura.”

Lia Chaia, Caue Alves, Vilma Eid, Sergio Sister e Miguel Chaia


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