Bela exposição?na Pinacoteca de São Paulo, apresenta pela primeira vez no Brasil grande retrospectiva do fotógrafo russo. A mostra, que permanece até maio em São Paulo, já esteve na sede do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro, na Hayward Gallery (Londres), no Foam Fotomuseum (Amsterdã), no Museu Martin-Gropius-Bau (Berlim) e no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris.
A fotografia inicia o século XX como a arte revolucionária. Não à toa ela foi abraçada pelos vanguardistas, que viam em sua forma de representação de mundo uma maneira de renovar o olhar. As várias vanguardas se apropriaram da fotografia como forma de quebrar cânones. E assim também acontece com o artista russo construtivista Aleksandr Ródtchenko (1891-1956) que leva a fotografia para a ideologia artística da época num dos seus maiores expoentes.
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A energia criativa da época é espantosa. Assim como seus colegas na Alemanha, França e Estados Unidos, Ródtckenko abusa – no bom sentido – das possibilidades de experimentar: múltiplas exposições, composições em diagonal, quebra de regras, fotomontagens, cartazes publicitários.
Parte deste seu pensamento fotográfico pode ser visto pela primeira vez no Brasil de forma bem didática. A exposição, organizada pela Moscow House of Photography, com curadoria de Olga Sviblova (diretora do museu), apresenta 170 obras entre fotografias, cartazes, fotomontagens, capas de livros e revistas, realizadas entre 1924 e 1954, dois anos antes de sua morte.
Ródtchenko nasce quando a fotografia já é popular no mundo todo e a escolhe como forma de expressão quando ela começa a ser vista como expressão de arte, linguagem autônoma, e quando, na década de 1920, muitos artistas discutem a importância da fotografia para a sociedade da época.
Experimentar é a palavra mote para todos eles. Câmeras de pequeno formato apresentam a possibilidade de maior movimentação dos fotógrafos. A câmera se torna uma extensão do olho, da mão, e novos ângulos, composições, são possíveis. O cotidiano e a banalidade se tornam o tema das imagens. Escreve Ródtchenko: “Vou resumir: para acostumar as pessoas a ver a partir de novos pontos de vista, é essencial tirar fotos de objetos familiares, cotidianos, a partir de perspectivas e de posições completamente inesperadas. Novos assuntos têm de ser fotografados de vários pontos, de modo a representar o assunto completamente”. Isso em 1928. E suas perspectivas diferentes são maneiras de distorcer o horizonte, fotografando na diagonal – um questionamento às regras estáticas de composição. Um porque estilístico e que, nos últimos anos, tem reaparecido na fotografia contemporânea muito mais como modismo do que como linguagem.
Na mesma época ele também reflete: “Os pontos mais interessantes hoje são os de cima para baixo e os de baixo para cima, e devemos trabalhá-los. Quem os inventou não sei. Eu gostaria de afirmar esses pontos de vista, expandi-los e acostumar as pessoas a eles”. Quem os inventou, realmente não dá para saber. Mas sabe-se que na mesma época, na Alemanha, mais precisamente na Bauhaus, o fotógrafo húngaro Moholy-Nagy escrevia um texto sobre a nova visão e apontava esses mesmos ângulos. Alguns críticos chegaram a afirmar que Ródtchenko havia plagiado seu colega. Sua resposta foi o texto acima. Irrequieto e curioso, transforma a fotografia documental em arte. Redefine conceitos como o do retrato, registrando, além de seus familiares, seu círculo de amigos artistas. Inesquecíveis as fotos do poeta russo Vladímir Maiakóvski. Suas fotografias são influenciadas por todas as formas de arte que proliferam neste início do século XX, não só por conta do abstracionismo geométrico, mas também pela influência do cinema, do novo fotojornalismo e pelas inovadoras possibilidade do fazer fotográfico – decorrência do desenvolvimento tecnológico da fotografia.
Sem dúvida, ele nos ajuda a compreender a importância comunicadora da fotografia e sua força como mola propulsora de um novo pensar. Incômodo, no fim da vida, é abandonado e traído por seus amigos, impedido de trabalhar e de participar de exposições. Sua primeira mostra é organizada um ano após sua morte. Mesmo assim, não conseguiram calá-lo: sua fotografia, que se apresenta hoje atual e mais contemporânea do que muitas imagens que se vêem por aí, é ainda um exemplo a ser seguido, ou pelo menos conhecido.
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