Alfabeto infinito

A Fundação Iberê Camargo (FIB), em Porto Alegre, não é um museu de simples ocupação. Projetada por Álvaro Siza, ela não possui muitas paredes e seus amplos espaços vazios permitem que as obras expostas sejam vistas de praticamente todos os andares. O local recebeu, agora em 2013, uma mostra do sul-africano William Kentridge, que ficou muito aquém da montagem na Pinacoteca do Estado de São Paulo, por exemplo.

Alfabeto Infinito, da dupla gaúcha Angela Detanico e Rafael Lain, com curadoria de Solange Farkas, soube tirar proveito dos desafios do local. A exposição faz um percurso dos últimos dez anos de produção da dupla, com 13 obras, que, parece, foram todas criadas para o local. Contudo, para essa exposição apenas dois trabalhos foram de fato realizados para a exposição.

Um deles, Alfabeto, é o que melhor sintetiza a estratégia da curadoria em aproveitar-se do espaço. Trata-se de uma instalação com letras gregas em neon, interligas pelos diversos andares do museu compondo a palavra “alfabeto”. Assim, de onde quer se olhe é possível observar parte dessa constelação de letras, que tem por inspiração uma catalogação das estrelas criada pelo alemão Johann Bayer, em 1603. Em seu sistema, ele utilizou o alfabeto grego para representar o brilho das estrelas, iniciando as mais reluzentes por Alfa, criando, assim, uma escala com as 24 letras.

Essa tendência a apropriar formas de representação e recriá-las é um dos eixos centrais da poética de Detanico e Lain. Em Sobre Cor, por exemplo, uma instalação com 60 serigrafias, a dupla recorreu a cinco pensadores que escreveram sobre cor, selecionando de cada um deles uma frase, transcrita com uma tipografia específica, que eles mesmos já haviam criado. Essa instalação de grandes dimensões ocupa toda uma parede da exposição, concentrada no terceiro andar do museu, colorindo o gélido projeto de Siza.

Apontando os limites entre linguagem verbal e visual, arte e design, tecnologia e poesia, Alfabeto Infinito revela uma das estratégias centrais da produção contemporânea: criar novas formas de visibilidade a partir de elementos simples e cotidianos.

 Infinito 3

Angela Detanico e Rafael Lain
Fundação Iberê Camargo
Até 17 de novembro
Av. Padre Cacique, 2000 – Porto Alegre – RS


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