Anita Malfatti é tema de retrospectiva no Museu de Arte Moderna de SP

"Tropical" (1916) , Anita Malfatti. Foto: Isabella Matheus
“Tropical” (1916) , Anita Malfatti. Foto: Isabella Matheus

O ano de 1917 foi de rupturas. No plano internacional, a Rússia se tornou o primeiro país socialista, numa revolução que mudou os rumos da política mundial. Aqui pelo Brasil, os operários paralisaram indústrias em todo País, durante 45 dias, no que hoje se considera a primeira grande greve nacional. Ainda nesse mesmo ano, uma jovem artista lançou uma exposição em São Paulo que entrou para a história da arte brasileira. Trata-se da famosa mostra de Anita Malfatti (1889-1964), que chocou a elite paulistana por apresentar obras que divergiam do estilo acadêmico.

Para lembrar os 100 anos da exposição, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) apresenta uma retrospectiva da obra de Malfatti. São cerca de 70 obras, dentre pinturas e desenhos, feitos ao longo da trajetória da artista. Com curadoria de Regina Teixeira de Barros, a exposição é dividida em três partes: os anos iniciais que consagraram a artista como o “estopim do modernismo brasileiro”; a época de estudos em Paris e a produção naturalista; e, por fim, as pinturas com temas populares.

Pintora, desenhista, gravadora e ilustradora, Malfatti começou seu aprendizado artístico com a mãe. Aos 20 anos, foi para a Alemanha aperfeiçoar seus estudos. Em Berlim, entrou em contato com as vanguardas artísticas, que questionavam o estilo acadêmico. Influenciada por essas novas poéticas, a artista começou a produzir obras com cores acentuadas e um sentido mais interpretativo, sem o compromisso com a verossimilhança.

"O Jardim" (1912) Anita Malfatti. Foto: Romulo e Valentino Fialdini
“O Jardim” (1912) Anita Malfatti. Foto: Romulo e Valentino Fialdini

Depois de uma passagem pelos EUA, onde continuou seus estudos, a artista retornou ao Brasil e organizou a tão falada exposição. A mostra reuniu 53 obras que ela produziu durante a sua passagem pelo exterior. Até então, a cidade de São Paulo só havia sediado mostras de arte de cunho acadêmico. A curadora Regina Teixeira de Barros conta que “a mostra foi recebida com assombro e curiosidade, tendo visitação intensa e venda de oito quadros expostos”.

A situação se alterou por conta do famoso artigo do escritor Monteiro Lobato, publicado no Estado de S.Paulo em dezembro de 1917. Lobato criticava a mostra, alegando que a artista “penetrou nos domínios de um impressionismo discutibilíssimo, e pôs todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura”. Para o escritor, Malfatti fazia parte de uma escola de novos artistas com “cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses”.

O artigo deu o que falar. Boa parte do público concordou com Lobato, cinco telas foram devolvidas e algumas até destruídas a bengaladas. “Adepto fervoroso da arte naturalista, Lobato desdenhou dos ismos da arte moderna, mas não deixou de reconhecer a competência de Anita elogiando o talento fora do comum e as qualidades latentes da jovem artista”, afirma a curadora.

"O Farol" (1915), Anita Malfatti. Foto: Romulo e Valentino Fialdini
“O Farol” (1915), Anita Malfatti. Foto: Romulo e Valentino Fialdini

Pouco depois, jovens artistas e escritores como Mário e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida saíram em defesa da exposição. Cinco anos depois, esse grupo viria a organizar a icônica Semana de Arte Moderna de 1922, na qual foram exibidas várias das obras que Malfatti apresentou na exposição de 1917.

Passados cem anos desde a mostra polêmica de Malfatti, o público pode agora conferir a retrospectiva promovida pelo MAM, que oferece um amplo panorama da produção da artista, tida pelo crítico Paulo Mendes de Almeida como a “personalidade historicamente mais importante do movimento de 1922”.

Serviço – Anita Malfatti: 100 Anos de Arte Moderna
De 7 de fevereiro até 30 de abril
Museu de Arte Moderna de São Paulo
 Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3)
(11) 5085-1300


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