Quando começou a grafitar, em 1984, Fabio Luiz Santos Ribeiro, o Binho, nem podia imaginar que se tornaria uma referência na área e que levaria sua arte para os quatro cantos do Brasil e para países como Chile, Argentina e Japão. Mais do que isso, o artista – que também trabalha como jornalista e editor – é hoje responsável pela curadoria da Bienal Internacional Graffiti Fine Art, principal evento da área no Brasil e que neste ano chega a sua segunda edição.
Idealizado por Binho em parceria com Renata Junqueira, Diretora de Relações Internacionais do MuBE, em São Paulo, o evento busca traçar um panorama dos diversos estilos, técnicas e conceitos que compõe a arte do grafite. “Quando surgiu a oportunidade de fazer algo dentro de uma estrutura como essa, nós fizemos na menor sala do museu, e a partir daí cresceu, cresceu e agora ocupamos o museu inteiro”, conta ele, que há quatro anos foi convidado por Renata para desenvolver e gerenciar as primeiras edições do Graffiti Fine Art.
O que era um projeto incipiente logo caiu no gosto dos artistas de rua paulistanos e deu origem a 1ª Bienal Internacional Graffiti Fine Art, que em 2010 reuniu 64 artistas no principal espaço do museu. “Eu sempre gostei de street art, comecei a trabalhar com arte pública, e comecei a ver que isso era uma coisa muito genuína e que temos grandes artistas desta área no Brasil. A partir daí nós vimos que o grafite desponta interesse e que as pessoas se identificam com isso, pois elas se sentem próximas da arte”, explica Renata.
[nggallery id=16078]
Gringos na fita
Neste ano, 50 artistas foram convidados a mostrar seu trabalho no evento, alguns deles do exterior. É o caso do artista norte-americano Chris Ellis, o “Daze”, um dos pioneiros do grafite mundial. Criado no Bronx, em Nova York, Daze – hoje com 50 anos de idade – começou sua carreira aos 15, no distante ano de 1978.
Na época, o grafite era algo marginalizado e considerado depredatório, mas Ellis acredita que, assim como para muitos brasileiros, a arte era uma maneira de se manter afastado da criminalidade e das drogas. “Era muito mais perigoso, havia muito crime e violência, e eu realmente acho que o grafite, naquele contexto, era algo mais positivo”, reflete.
Celebrado em todo o mundo e com mais de três décadas de carreira acumuladas, Daze acha que a Bienal oferece aos artistas a chance de mostrar seu trabalho e de serem reconhecidos além das ruas. “No começo eu realmente nunca pensei em pintar em uma galeria, em um museu. Era algo que eu apenas amava fazer, e eu ainda amo fazer, a diferença é que agora há oportunidades e reconhecimento por parte de outras pessoas.”
Situação parecida foi a vivida pelo peruano Danny Figueroa, o “Wesr”, que começou a grafitar no ano de 1996 nas ruas de Lima, onde a prática só é permitida com autorização dos donos do imóvel. Hoje vivendo em Berlim, na Alemanha, o artista de 32 anos acredita que oportunidades como a oferecida pela Bienal são necessárias para firmar a importância artística do estilo.
“Penso que o grafite é uma arte e merece ter um espaço. Lá [em Berlim] também exponho muito, e conheço mais artistas que trabalham na rua e também em galerias, mostrando sua arte. São duas coisas diferentes, mas que se complementam. O grafite é uma técnica, uma maneira de se expressar. Faz parte da busca”, conta ele.
Linguagem universal
Referência no grafite mundial, o Brasil não só atrai artistas estrangeiros como desperta em alguns deles a paixão pela prática. É o caso da artista canadense Shalak Attack, que passou a grafitar após uma visita ao Rio de Janeiro, em 2006.
“Eu sempre pintei quadros e estudei arte, essa era a minha a vida, mas eu sempre queria entrar na cultura do grafite, que eu achava fascinante, e foi no Rio que eu tive a oportunidade de pintar na rua e entrar nesse mundo”, conta ela, que há um ano e meio vive entre São Paulo e o Canadá com o marido brasileiro, o também grafiteiro Bruno “Smoky”, outro participante da Bienal Internacional Graffiti Fine Art.
Para Shalak, a visão brasileira do grafite deve servir de exemplo para outros países, incluindo sua terra de origem. “O grafite lá é visto como vandalismo, então há muito menos abertura e aceitação do que aqui. No Brasil nossa arte é vista como cultura e as pessoas celebram como uma forma artística, e isso é um exemplo que pode ser levado para meu país e para outros que tem medo dessa espontaneidade. É preciso de muita evolução para que isso aconteça lá.”
Grafiteiro há 13 anos, o paulistano Thiago “Icone K” vê a possibilidade de interagir com artistas de outros países com bons olhos. Para ele, esse intercâmbio é a prova da importância do estilo ao redor do mundo. “É legal conhecer outras técnicas e linguagens de outros países, mas no final você vê que o grafite é universal. Por mais que você não fale a mesma língua do artista, só de você estar ali falando em mímica, mostrando, no final a linguagem é a mesma, que é pintar”, diz.
Com entrada gratuita, o evento terá painéis, telas, esculturas e intervenções artísticas em dois carros. A Bienal também realizará um bate-papo sobre ocupação pública com os arquitetos Allan Dominique Gallizia e Paulo Mendes da Rocha, além de uma exibição de Wild Style, filme de 1983 que conta a história do hip-hop e do grafite na cidade de Nova York, berço da street art.
2ª Bienal Internacional Graffiti Fine Art
Quando: de 22 de janeiro a 24 de fevereiro
Onde: MuBE (Museu Brasileiro da Escultura) – Av. Europa, 218
Quanto: entrada gratuita
Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 10h às 19h
Mais informações: (11) 2594 2601 ou www.mube.art.br
Deixe um comentário