Arte pulsante

De 18 de janeiro a 1 de fevereiro, a partir das 19 horas, uma inusitada performance artística intitulada My Heart in Rio, invadiu a sede do Instituto Oi Futuro, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Quem passou em frente ao centro cultural sediado na Rua Visconde de Pirajá nesse horário, pôde testemunhar um acender e apagar constante de luzes no interior do prédio e em sua fachada externa. Intermitência provocada pelas frequências cardíacas de dois artistas: o poeta brasileiro Renato Rezende e o artista plástico alemão Dirk Vollenbroich. Acoplado ao corpo dos dois artistas, aparelhos de monitoramento cardíaco foram integrados a rede de telefonia móvel da Oi, para deflagrar os impulsos elétricos que comandavam o acender e apagar de luzes. Uma performance inusitada e instigante, que deu ao prédio do Oi Futuro a aparência efêmera de pulsar e também portar um coração.

A ação pretendia promover uma ode visual e poética à amizade, e reconstituiu experiência vivida em fevereiro de 2010 pelos dois artistas, quando realizaram a mesma performance em Baden Baden, na Alemanha, fazendo pulsar o prédio do Teatro da Cidade. Graduado em Belas Artes pela Universidade de Münster, em 2002, Vollenbroich já apresentou exposições de grande destaque, como Short Circuit, na Biennial Audio Visual, na Espanha, em 2008; Housemusic, Luminale, na Degi Art Foundation, em Frankfurt, em 2007; Videoarch, em Trento, na Itália, em 2006; Akademie Fellowship At The Cité Des Arts, em Paris, 2002 e Semper Rotans, Semper Depot, em Viena, em 2001.
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Poeta, autor de Passeio (Record, 2001), Ímpar (Lamparina, 2005) e Noiva (Azougue Editorial, 2008), entre outros títulos menos recentes, o carioca Renato Rezende é graduado em literatura espanhola pela Universidade de Massachusetts, Boston, EUA, e é mestre em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ. Traduziu inúmeros livros e catálogos de história, filosofia e crítica de arte, além de prosa e poesia. Em 2005, venceu o Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional por Ímpar, eleito o melhor livro de poesia do ano.

Na abertura de My Heart In Rio, em meio a artistas e frequentadores do centro cultural, flagramos pedestres que estacionavam na calçada, alheios aos propósitos artísticos da performance e inquietos em descobrir o motivo da alternância da luz. Escorado em um dos muros laterais do prédio, sorvendo uma taça de vinho e observando as luzes, flagramos o aposentado Luís de Almeida, um taxista de 68 anos que, voltando para casa depois de mais um dia de trabalho, decidiu entrar no Instituto para conferir o que ali acontecia. Depois de ouvir uma breve explicação sobre o propósito de através da tecnologia celebrar a amizade, Almeida concluiu, sábio: “Pois concordo com o brasileiro e com o alemão. A tecnologia taí para aproximar as pessoas. Tenho familiares em São Gonçalo que não vejo com frequência, mas que sempre mandam recado pela internet”. Convidado por Rezende para ter os batimentos cardíacos medidos e intervir no apagar e acender das luzes, Almeida observou o prédio, encantado em saber que sua pulsação interagia com a arquitetura e, ao fim da experiência, questiona a Rezende: “E o coração, como está?”. 77 batimentos por minuto, e Rezende conclui que está tudo bem, ao que Almeida celebra: “Ótimo, posso tomar mais uma taça de vinho!”.


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