Fotos divulgação
“Existem artistas cheios de imaginação que podem se sentar em um quarto e, através de suas mentes, criar coisas. É um método, mas não é o meu”, explica, de saída, Raphael Zarka. A constatação do artista plástico francês revela bastante sobre sua produção, já que Zarka busca não apenas em sua mente, mas nos objetos e formas do mundo, material e inspiração para seu trabalho. Quer dizer que qualquer coisa pode ser uma inspiração? “Não pode ser qualquer coisa, mas pode estar em qualquer lugar”, diz ele. “Eu nem sempre sei bem o que estou procurando, mas quando eu vejo, sei que é para mim.”
O que ele está procurando, aparentemente, se relaciona com as formas esculturais e geométricas, com a ocupação dos espaços, com o uso dos mais diversos materiais. É o que transparece, por exemplo, na exposição “Gramática e Coletânea”, que será aberta nesta terça-feira, dia 26, na Luciana Brito Galeria, na primeira individual do artista no país. Ali, em vídeo, fotografia, pintura e escultura, Zarka mostra trabalhos feitos nos últimos anos, incluindo alguns inéditos – nas últimas semanas, ele esteve no Brasil produzindo, no Ateliê Fidalga, obras para a exposição.
Nascido em Montpellier e hoje com 35 anos, Zarka construiu uma trajetória peculiar ao relacionar artes plásticas e skate em sua produção. Peculiar já que o seu interesse pelo esporte – que praticou por muitos anos – não tem a ver, como para tantos artistas, com a cultura de rua, a moda e o grafite. Interessa ao francês o que ele chama de metodologia: a busca dos skatistas pelos locais ideias para a prática (assim como Zarka busca formas e materiais pelo mundo) e o uso que fazem deles, dando novos sentidos a espaços e objetos.
Se nas obras que serão exibidas em São Paulo a relação com o skate é mais indireta, em trabalhos mais antigos e nos livros do artista o diálogo é estreito. Zarka tem três livros, de linha sociológica, nos quais investiga a relação do esporte com as cidades e o seu uso espaços. “Para mim, skate é muito conectado a arqueologia. Você está cavando e achando coisas de outras civilizações e você dá novo sentido”, diz Zarka.
Sobre a produção recente, que estará exposta na Luciana Brito Galeria, o francês conta o que tem ouvido nas últimas semanas no Brasil: “Muita gente das artes percebe uma relação entre as formas que uso e a abstração geométrica, ou o que aqui vocês chamam de concretismo e neoconcretismo”. Portanto, seja pelo diálogo com skatistas ou concretistas, São Paulo parece um bom palco para receber as obras de Raphael Zarka.
Serviço: Luciana Brito Galeria (R. Gomes de Carvalho, 842 – Itaim Bibi) – de 26/2 a 23/3
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