As novas formas de difusão da arte

Apresentado desde a manhã desta  terça-feira, dia 4, 0 primeiro seminário internacional da revista ARTE!BrasileirosO Colecionismo no Brasil no Século XXI,  reuniu autoridades governamentais, colecionadores, diretores de museus e público amante das artes para discutir temas relacionados à viabilização da difusão das artes no Brasil. O quarto painel, que encerrou o encontro, foi o  Formas Contemporâneas de Difusão: Acervos, Acervos Digitais, Patrimônio Imaterial, Ações Efêmeras.

Para falar sobre esse tema, a ARTE!Brasileiros convidou Stela Barbieri, curadora educacional da Fundação Bienal de São Paulo e diretora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake; João Candido Portinari, diretor do Projeto Portinari; Christine Buhl Andersen, diretora do KOS Museum of Art in Public Spaces e chairperson da Assossiação de Museus Dinamarqueses, Dinamarca; Martin Grossmann, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e professor titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA), e Jochen Volz, diretor artístico do Instituto Inhotim.

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“Quando nos dedicamos a esse debate, partimos de um diagnostico de que o mercado da arte no Brasil hoje se consolida. Isso é uma verdade. O Brasil tem uma boa arte há algum tempo, mas tem um mercado muito incipiente.” As palavras do crítico de arte e arquitetura Guilherme Visnik deram o tom da abertura do quarto e último painel do seminário realizado nesta quarta-feira. “De dez anos pra cá esta situação mudou, e o quadro pede reflexão”, completou Visnik antes de passar a palavra a João Candido Portinari, cujo sobrenome provem de um dos maiores pintores de nossa história.

Filho de Cândido Portinari, João Cândido falou sobre o belíssimo trabalho que realiza no Projeto Portinari, organização que fundou há 33 anos para recolher obras e informações sobre a carreira de seu pai. Com vídeos e reportagens, João recordou que “mais de 95% das obras de Portinari estão em coleções particulares”, e reiterou o interesse em possibilitar que todos tenham acesso aos quadros de seu pai. “O projeto passou por dificuldades ao longo de sua trajetória. Nós muitas vezes estivemos ao ponto de jogar a toalha”, refletiu João, destacando os processos pelos quais o Projeto foi submetido ao longo de sua história. Segundo revelado por ele, os primeiros 25 anos desta história foram um “trabalho de formiguinha”, dedicados à muita pesquisa e à localização de obras de Portinari espalhadas pelo País.

O filho do pintor também celebrou a exposição dos painéis Guerra e Paz, realizada no inicio deste ano, comemorando o acordo e a logística feita com a ONU para que as monumentais obras pudessem ser trazidas ao Brasil. João Cândido demonstrou felicidade ao falar sobre os diversos brasileiros que tiveram acesso às obras, e comemorou encontros com políticas e crianças, que 50 anos após a morte do pintor tem finalmente a chance de se aproximar, conhecer e apreciar sua obra. “A obra de Portinari não propõe apenas obras e cores, ela tem um compromisso social e humano, e ela propõe valores”, refletiu.

Na sequência, a curadora e diretora educativa Stela Barbieri iniciou sua fala. Trabalhando desde 2009 na curadoria educacional da Fundação Bienal de São Paulo, Stela falou sobre a surpresa que foi descobrir o poder do evento estando dentro de sua organização. “Foi muito surpreendente pra mim o que uma Bienal catalisa, o que uma bienal pode movimentar”, disse. Para a curadora, o fato da Fundação ser uma instituição privada não exclui o fato de que seja acessível a todos. “Eu acho que a Bienal é realmente um lugar de todos nós. Apesar de não ser publica ela é publica”, afirmou.

Para Stela, um trabalho de educação em arte no Brasil “faz muita diferença”. A educadora reiterou o desejo de que o país invista no aprendizado artístico e de que o tema tenha maior espaço nas escolas. “É um trabalho delicado, artesanal, que acontece todo dia. Ele se faz todo dia, e se faz também de confrontos, de embates, ele precisa trabalhar para se fazer contundente”. Stela também analisou a relação da arte com seus admiradores, que não precisam ser necessariamente eruditos para se envolverem com a expressão exposta na obra. Para ela, é a relação entre arte e vida é o que conecta as pessoas com as obras, mostrando que o artista e os visualizadores tem muito em comum.  No entanto, stela acredita que o trabalho educacional deve continuar sendo feito, para que cada vez mais pessoas possam se instruir e admirar estas obras. “É um trabalho delicado, artesanal, que acontece todo dia. Ele se faz todo dia, e se faz também de confrontos, de embates, ele precisa trabalhar para se fazer contundente”, concluiu.

Participante estrangeira do último painel, Christine Buhl Andersen falou sobre o trabalho do KOS Museum of Art in Public Spaces, da Dinamarca. Exibindo fotos de diversas obras de arte realizadas ao redor de mundo, Andersen reiterou a importância da documentação de obras e de criação feita pelo instituto. “Os processos artísticos da arte publica geralmente são influenciados pela consciência de como ela deveria funcionar, quais materiais deveriam ser usados, e por isso decidimos fotografar como as obras eram feitas”, explicou. Para ela, o trabalho pode ajudar não só a propagar obras e artistas, como auxiliar em restaurações e manutenções das mesmas. “Normalmente essas obras estão expostas a péssimas condições, e nós queremos ajudar as pessoas a entender a como conservar essa obra, mantê-las em seu melhor estado”, disse Christine.

A palestrante também falou sobre o poder que esta documentação atinge, citando o exemplo de jovens que compartilhavam as fotos de obras outrora desconhecidas no Facebook, ajudando a propagar o trabalho e a exibir a obra para pessoas de todo o mundo, atraindo a atenção mesmo daqueles que não tem um histórico de instrução artística. Christine também reiterou que, além de documentar as obras, a organização quer alçar voos maiores, e para isso realiza pesquisas e dá consultorias artísticas para cidades que querem integrar a arte ao ar livre com a eficiência urbana. “Se nós realmente quisermos ser ambiciosos e ter ambição de influenciar a politica e a forma de pensar sobre a arte publica na sociedade dinamarquesa, torna-se importante que produzamos conhecimento”.

O Instituto Inhotim, maior centro de arte ao ar livre da América Latina e um dos maiores acervos de arte contemporânea do Brasil, logicamente, não poderia ficar de fora do seminário ARTE!Brasileiros dedicado ao colecionismo. Idealizado pelo colecionista e ativista cultural Bernardo Paz, que se desfez de grande parte de suas obras modernistas para aumentar ainda mais seu vasto acervo de arte contemporânea e finalmente concretizar seu antigo sonho de criar seu centro de arte integrado a natureza.

Representando o instituto, Jochen Volz, curador e diretor artístico de Inhotim, foi o último palestrante do seminário. Antes de mais nada, Volz fez questão de enfatizar a tríade na qual o Instituto Inhotim se baseia: público, educação e acervo. Volz contou que são aproximadamente 120 hectares visitáveis de arte integrada na natureza. Apesar disso, ele admitiu que a arte de lá não existe sem o público e que o deslocamento até a cidade de Brumadinho (60km de Belo Horizonte), onde os visitantes de Inhotim se hospedam normalmente faz com que não seja algo inesperado para o público, quem vai sabe o que vai encontrar. Além do diferencial geográfico, Volz revelou que eles são o único museu brasileiro de arte contemporânea permanentemente e com exposições estáticas. Mesmo assim, ele disse que alterações podem ser feitas de acordo com a entrada de novas obras já que, segundo sua própria metáfora, “Novas obras são como um convidado inesperado no jantar, de alguma forma a dinâmica geral irá ser influenciada”, encerrou.

 

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