Criada em 2012, a Pesquisa Setorial O Mercado de Arte Contemporânea no Brasil expôs, em abril deste ano, os resultados do estudo mais recente, que trata das movimentações de 2013. Com a divulgação das conclusões, há motivos de sobra para celebrar.
Coordenada por Ana Letícia Fialho, advogada, gestora cultural e pesquisadora do mercado de artes, a pesquisa é um dos vértices do Projeto Latitude, criado em parceria entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Com ações estratégicas, como a capacitação técnica, missões prospectivas e promoção internacional, o Projeto Latitude é determinante para o fomento das negociações, dentro e fora do País, dos 50 associados da ABACT.
Entre os principais resultados revelados pela Pesquisa Setorial de 2013, houve o consenso de 90% das galerias pesquisadas de que o período foi marcado por um crescimento das vendas. Algo cravado na evolução do volume de vendas, que saiu do patamar médio de 22,5%, percebido desde 2010 pela ABACT, para 27,5%. Desse universo, que representa a venda de mais de 6.500 objetos de arte – pinturas, esculturas e fotografias em maior volume –, 85% das transações foram feitas para colecionadores e instituições brasileiras e 15% para compradores internacionais. No exterior, entre os principais destinos desses objetos de arte, três países se destacam: Estados Unidos, França, Suíça. Além deles, o Reino Unido também é rota frequente. Na América Latina, o maior volume de compra vem da Colômbia.
Estudo realizado, no mesmo período, pelo instituto britânico de pesquisa ArtTactic, sediado em Londres e coordenado por Anders Pettersson, aponta que 54% dos colecionadores internacionais acreditam que o mercado brasileiro deverá se desenvolver ainda mais em 2014, e que 74% deles têm a intenção de comprar obras de arte brasileiras nos próximos cinco anos.
Outro dado local importante atesta evolução percebida desde o início dos anos 2000. Das 50 galerias associadas à ABACT, um terço delas foi criada entre 2000 e 2010. As fundadas de 2010 para cá somam o mesmo percentual. Indicadores relativos à evolução dos empregos no mercado de arte confirmam essa tendência de expansão. Do universo de galerias submetidas à pesquisa, 60% delas afirmaram ter aumentado suas equipes em 2013. O total de artistas representados somam cerca de mil.
No Brasil, essas 50 galerias realizaram, em média, sete exposições individuais e 1,5 coletivas em 2013. A elaboração de um consistente programa anual de mostras é fator imprescindível para uma fluidez cada vez maior das negociações, sobretudo porque, além de colaborarem para a afirmação da identidade da galeria, as mostras têm o objetivo basilar de servirem como vitrine. Houve também um significativo avanço na participação de nossas galerias nas feiras internacionais, saltando de 167, em 2012, para 202, em 2013. Número resultante das vendas realizadas por 71% dos associados da ABACT, sendo 41% em parcerias firmadas com galerias estrangeiras.
Apesar da trajetória ascendente e dos números mais que positivos, o mercado sofre com gargalos que impedem uma evolução ainda maior. Entre eles, foram destacados na Pesquisa Setorial a alta carga tributária, a burocracia, a falta de mão de obra qualificada, as dificuldades na gestão de planejamento e a instabilidade econômica.
Mesmo com esses entraves, o texto conclusivo da Pesquisa Setorial reforça a expectativa de números ainda mais positivos nos próximos anos: “Estamos observando um crescimento consistente, resultado do amadurecimento do setor e do reconhecimento internacional da produção contemporânea por ele representada. Ainda que as taxas de crescimento possam eventualmente diminuir nos próximos anos, o setor como um todo deverá se consolidar”.
Nas reportagens a seguir outras evidências desse cenário otimista são apontadas por importantes personagens do circuito de arte. Em entrevista exclusiva Wagner Lungov – dono da Central Galeria de Arte (espaço paulistano fundado em 2012), e presidente da ABACT – interpreta alguns aspectos da Pesquisa Setorial. As outras três matérias deste caderno especial tratam de movimentações das mais saudáveis para o mercado.
Idealizadora e diretora da feira paulistana, Fernanda Feitosa esclarece a importância estratégica de levar a SP-Arte para a Capital Federal, com a primeira edição da SP-Arte Brasília. A feira reunirá 35 galerias brasileiras e também promoverá conversas nos quatro dias de evento. Estão programados encontros com Nathalie Lenci, da tradicional casa de leilões de arte Christie’s; Cássio Vasconcellos, da Be Editora; João Castilho, da revista Zum; e a editora da ARTE!Brasileiros,Leonor Amarante.
A exemplo da SP-Arte, duas tradicionais galerias também ampliam suas atividades em outras capitais brasileiras. Em abril último, a Bolsa de Arte, fundada em 1980 em Porto Alegre, abriu sua primeira filial em São Paulo. Conversamos com a galerista Marga Pasquali, para entender a importância da sede paulistana para os negócios futuros. Celebrando 25 anos em 2014, a Galeria Nara Roesler também ampliará sua participação no mercado, a partir de agosto próximo, quando será inaugurada, em Ipanema, a filial carioca. Daniel Roesler, filho de Nara, conversou com a ARTE!Brasileiros e demonstrou grande entusiasmo com a evolução das transações internacionais da galeria.
Com dados e depoimentos tão exuberantes neste Especial Brasília desejamos a você uma boa leitura!
AGENDA POSITIVA |
Para Wagner Lungov, presidente da ABACT – Associação Brasileira de Arte Contemporânea, a mais recente pesquisa setorial do Projeto Latitude confirma a profissionalização e a maturidade de um mercado que vislumbra amplos horizontes ARTE!Brasileiros – Qual é o papel exercido, hoje, pelo Projeto Latitude para mercado brasileiro de arte? Que outros aspectos do Art Immersion Trip você destacaria? Como foi desenvolvida a metodologia da Pesquisa Setorial O Mercado de Arte Contemporânea no Brasil? Os entraves alfandegários e tributários continuam sendo os principais gargalos do mercado? Existe alguma movimentação do mercado para solucionar esses problemas junto aos órgãos governamentais? Por parte dos fiscais alfandegários, há variações de tratamento nas liberações das importações? A Pesquisa Setorial não contempla números do colecionismo no País. Futuramente, esse universo será abordado? Esse novo comprador, que aposta em artistas emergentes, com valores mais acessíveis, ajuda a desmitificar a impressão de que o colecionismo é um hábito de consumo elitista? As três pesquisas do Projeto Latitude revelaram um mercado forte e ascendente. Esse ciclo virtuoso deverá ser mantido? |
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