Do ateliê para as ruas

Cartaz de Vitor Mizael
Cartaz de Vitor Mizael

Sob um fundo branco, quase frio, repousa o pequeno corpo de um Bem-te-vi, semi degolado por uma tesoura. A imagem é forte, e retrata de forma quase crua um pequeno ser atingido por uma arma branca justamente no orgão através de qual emite seu canto. A cena, estampada em um cartaz de autoria do artista Vitor Mizael, é mais uma das criações que compõe a série de cartazes #artepelademocracia.

A ideia dos cartazes foi uma reação de parte da classe artística em meio ao complicado momento político vivido pelo país. Após um grupo de artistas redigir e assinar um manifesto a favor da democracia e da reforma política, uma boa parte destes mesmos artistas transformaram as palavras em ação: criativos cartazes como o de Mizael ganharam forma e estão disponíveis para download por 7 dias na página do Facebook Artepelademocracia_cartazes , disponível . 

Embora as opiniões do meio artístico estejam longe de serem consensuais, os cartazes falam alto, quase gritam. São vozes que, sufocadas pelas tesouras cortantes, carregam um forte apelo visual. Jogos de palavras, símbolos da cultura popular, criações gráficas de alta qualidade e desenhos são elementos constituintes dos 188 posteres, cuja impressão será financiada colaborativamente através da campanha de financiamento colaborativo

O movimento, que promove diálogo entre arte e política, apesar de seu teor até certo ponto inédito no Brasil, tem forte inspiração em outros movimentos políticos que sacudiram o globo nos últimos quatro anos. O Ocuppy Wall Street, surgido em 2011, foi o primeiro de grande escala, no qual artistas além de produzir cartazes, organizaram uma série de performances de rua, que continua a ser realizada 5 anos depois. Outro exemplo mais recente, e do outro lado do mundo, é o Art of the Umbrella Movement, ocorrido em Hong Kong. Surgido em 2014, em meio a um momento no qual os habitantes do país asiático exigiam democracia na eleição do líder máximo do território, o movimento encontrou no guarda-chuva seu objeto símbolo: além de proteger as pessoas das tempestades, servia também de proteção para casos de repressão policial e spray de pimenta. Embora surgidos em contextos muito diversos, em comum todos esses movimentos trazem um intenso desejo de democracia e de participação da classe artística nas transformações sociais e políticas em curso.


Comentários

Uma resposta para “Do ateliê para as ruas”

  1. Avatar de Viv Mocellin
    Viv Mocellin

    lindos os cartazes 🙂

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