Linhas retas e cores primárias. Isso é que o vem à cabeça da maioria das pessoas quando se fala em Mondrian. O pintor holandês é lembrado por seus quadros geométricos e, há quem diga, com um quê futurista. No entanto, o neoplasticismo não foi sempre o estilo dele. A trajetória percorrida por Mondrian em mais de 50 anos de trabalho pode ser vista no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, até o dia 4 de julho.
No início de sua vida artística, no final do século 19, Mondrian, influenciado pela pintura holandesa da época, pintava paisagens sombrias e formas sem um contorno definido. Ao longo dos anos, seu trabalho foi se transformando, acompanhando influências dos movimentos artísticos que aconteciam na Europa, como o pós-impressionismo, o pontilhismo e o cubismo.
Aos poucos seus quadros foram ganhando mais cores e se tornando menos comprometidos com a realidade. A exposição traz ao público a oportunidade de acompanhar a evolução do artista até chegar ao neoplasticismo, escola pela qual ele é reconhecido até hoje.
Pieter Tjabbes, curador da exposição, explica que, em 1908, Mondrian adere à explosão de cores que vinha de Paris. “Ele começa a dominar o mercado com essas obras coloridas. Os críticos chamavam ele de luminista, devido à luminosidade das obras e ele fica famoso na Holanda, nessa época”.
“Nesta época ele entra em contato com a teosofia, que vai perpassar toda a sua vida. [A teosofia] é a busca da essência, tirando o supérfluo, os ornamentos. Esta busca está na vida dele, até chegar ao neoplasticismo, que é uma forma de limpar tudo, usar poucos elementos para usar uma linguagem universal, direta com todo mundo”, afirma Pieter.
Em 1911, após uma exposição do artista com Picasso e Cézanne na Holanda, Mondrian se encanta pelo cubismo e começa, pouco a pouco, a se aproximar da pintura abstrata. Cada vez mais o artista se distancia da necessidade de imprimir profundidade às obras e cresce sua produção de composições geométricas.
Mondrian, durante o período de 1917 a 1928, participou do movimento De Stijl, que significa O Estilo. Era um grupo de artistas, designers e arquitetos que defendiam o neoplasticismo e a utopia da harmonia de todas as artes. O movimento é contemporâneo à Bauhaus, na Alemanha, com o qual compartilhava a ideia de uma arte simples e acessível a todos.
“Parece que a arte abstrata trazia essa linguagem universal, que não precisava de explicação. A ideia de uma sociedade moderna na arquitetura, com espaço, ventilação. Eles eram utopistas, pretensiosos”, afirma Pieter, a respeito do movimento De Stijl.
Com os anos, Mondrian se direciona para a pureza das cores primárias, as superfícies planas das formas e a tensão dinâmica em suas telas. A exposição traz 3 obras em estilo neoplasticista, o estilo mais conhecido do artista. “Os quadros nunca são fechados, não têm moldura, são assimétricos, com linhas abertas, campos de cor abertos, se expandem para todos os lados. Para Mondrian a cor era um elemento espacial. Essas obras são artesanais, não há o uso de réguas, não é obra de computador. É uma pintura, com tudo que a pintura tem, linhas borradas, pontos de cor não bem resolvidos”, explica Pieter.
A exposição traz obras originais, maquetes, mobiliários, fotografia, documentários e publicações da época, revelando uma forma de ver o mundo e as artes que era revolucionária em 1917 e continua moderna até hoje.
Além das mais de 100 obras expostas, sendo 30 de Mondrian, o público poderá visitar o Pavilhão de Vidro do CCBB, que se transformará em uma imensa caixa de luzes inspirada na obra do artista.
“Será uma escultura de luz, uma experiência com a cor. Vamos fazer um grande Mondrian iluminado. Vai ser muito marcante na paisagem de Brasília e pode ser visto durante o dia mas, principalmente, de noite. Durante o dia funciona como um vitral e de noite a luz interna vai fazer com que isso vire uma caixa de luz enorme, que pode ser vista a quilômetros”, disse Pieter.
Haverá também uma reprodução interativa do quadro Victory Boogie Woogie, última obra de Mondrian, de 1944, pintada quando ele morava nos Estados Unidos. Ele morreu de pneumonia, em 1944, aos 71 anos.
A maior parte do acervo é procedente do Museu Municipal de Haia, na Holanda, que reúne a maior coleção do mundo de obras de Mondrian.
A exposição, que esteve em São Paulo, fica em Brasília até o dia 4 de julho. Depois segue para Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A visitação é de quarta a segunda, das 9h às 21h. O agendamento da visita deve ser feito online, no site do CCBB-DF.
Serviço – Mondrian e o Movimento de Stijl
De 21 de abril a 4 de julho
De quarta à segunda, das 9h às 21h
SCES Trecho 2, Lote 22 – Asa Sul, Brasília – DF
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