Charly Nijensohn é um prestigiado videoartista argentino que mora na Alemanha desde o ano de 2002. Do dia 4 de outubro a 2 de dezembro, suas obras serão expostas no Paço das Artes da Cidade Universitária de São Paulo, Brasil, junto com Albano Afonso, Bill Viola, Brigida Baltar, Bruno Kurru, Caetano Dias, Daré, Evandro Machado, José Rufino, Karina Zen, Marina Abramovic, Odires Mlászho, Oscar Muñoz, Tamara Andrade, Vasco Araújo e Vitor Mizael, na coletiva Eu fui o que tu és, e tu serás o que eu sou, supervisionada por Josué Mattos. O título da exposição foi tirado de A Trinidade (1425-1426), de Masaccio, e foca seu interesse em juntar parte da produção artística contemporânea com a obra florentina daquela época, sendo o ponto de encontro a noção de finitude do corpo, o estado da morte e suas formas de representação.
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Nijensohn exibe El Naufragio de los Hombres, uma instalação de três vídeos sincronizados em loop, uma obra realizada no ano de 2008 no Salar de Uyuni, na Bolívia. Seus protagonistas são os moradores da comunidade Aimará do povoado de Colchani, e mostra as pessoas desoladas na imensidão da paisagem que emerge imponente e árida. A série de fotografias e os vídeos realizados no deserto de sal mais extenso do planeta, com 12 mil km2 e a 4 mil m do nível do mar, transmite o desamparo humano diante das inclemências naturais. A chuva, o vento, as nuvens e os horizontes distantes tentam completar a gigantesca espacialidade que envolve essas figuras neutras.
“As diferentes regiões do país lutam por sua independência do poder político central, a pobreza extrema ameaça destruir a herança cultural desses povos. O sal ainda é o elemento central da economia da região”, segundo Nijensohn. Ele traça, de forma autodidata, um percurso em que transita pelo teatro, performances, vídeo, música experimental, intervenções urbanas, fotografia e poesia. É dono de uma convicção absoluta. É cofundador de dois grupos lendários: um, no ano de 1983 e com os primeiros sinais da volta da democracia, surge com a Organización Negra – grupo de protesto urbano focado em perturbar a impavidez do espectador ao melhor estilo de La Fura dels Baus. Outro, no ano 1988, com a criação da Ar Detroy, uma companhia de arte experimental que realiza diferentes tipos de ações e performances usando produções fotográficas, música experimental, videoarte e videoinstalações.
O MoMA de Nova York, o Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires e o MAM Bahia possuem parte de suas obras. Rapidamente, pode-se ver a transformação das artes cênicas às artes visuais, fortemente influenciada pelo trabalho coletivo de criação que expõe tanto em forma de mensagem quanto de estética. El Abismo (de los Hombres), El Eco del Silencio en el Mundo o Diez Hombres Solos refletem as secretas e cada vez mais tensas relações internas com a imponente solidão das paisagens majestosas e profundamente sonoras.
Em Un Acto de Intensidad (1999), filmado no deserto das Salinas Grandes de Jujuy, os integrantes da Ar Detroy permaneceram isolados, sem nenhum outro horizonte além da solidão do terreno e a solidão em si. Segundo Nijensohn: “Há um vácuo fundamental onde há interferência dos atos humanos que, embora não seja importante para o universo, tem a força da ação e nobreza da atitude”. Mais uma vez, a união e a indiferença, as inclemências e o poder do tempo põem em xeque a supremacia do homem à beira do abismo natural.
Charly Nijensohn deixou Buenos Aires em 2002, depois da crise político-econômica de dezembro de 2001, incorporando o êxodo como outra forma de resistência própria.
Há dez anos, mora no bairro Friedrichshain de Berlim, com a sua mulher, a artista Marula Di Como, e sua filha. Produziu vários dos seus projetos na América Latina, onde os cenários naturais têm sido modificados pela mão do homem. Dead Forest (Storm), filmado no noroeste do Brasil, mostra, de modo trágico-romântico, um grupo de pessoas sobre alguns blocos que flutuam à deriva em uma mata de árvores mortas. Essa imagem, aparentemente metafórica, é o resultado da construção de uma usina que deixou submersa uma parte da Selva Amazônica, do norte do Brasil, sob uns dos maiores lagos artificiais do mundo. “A obra tem ressonâncias políticas em uma medida humana e não épica.” Trabalha adicionando as inclemências climáticas. Seu estilo é devagar, e sua obstinação pode ser percebida no sonoro e no visual, criando metáforas e estéticas de uma poética às vezes desoladora, sendo impossível ficar indiferente. Ele autofinancia suas obras e as oferece aos colecionadores antes que sejam concluídas, por isso sabe que o projeto deve ser interessante do ponto de vista artístico e econômico. Dessa forma, evita trabalhar com instituições e galerias. Seu sócio atual é o Juan Pablo Ferlat, mas Teresa Pereda também foi sua sócia, a conheceu na 1a Bienal del Fin del Mundo, em Ushuaia.
Suas obras foram exibidas em Whitechapel Gallery, na Inglaterra; La Bienal de Valencia 2001, na Espanha; MoMA Nova York, nos EUA; A Bienal do Mercosul, no Brasil; Museo Reina Sofía, na Espanha; La Bienal del Fin del Mundo, Argentina; La Bienal de Singapur; Rencontres Paris-Berlin; El Museo Nacional de Bellas Artes, MAMBA; La Fundación PROA, Malba, na Argentina. Representou a Argentina na 50a Bienal de Veneza. Recebeu as seguintes premiações: O Prêmio Leonardo 1997; O Prêmio Argentino Bienal de Buenos Aires 2001; Konex de Platino; A Menção de Honor do Juri Interference 2000, da França; O Prêmio Chandón ArteBA 2009, entre outros.
Charly Nijensohn disse que pouco mudou seu estilo de trabalho nos últimos 20 anos, mas seu crescimento é visível, tanto em sua forma de se aprofundar nas temáticas humanas quanto na estética escolhida, transformando cada obra em um autêntico ato de intensidade.
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