Cinema de rua ganha destaque na capital grega

"I Had Nowhere to Go", novo filme de Douglas Gordon projetado no cinema municipal Stella
“I Had Nowhere to Go”, novo filme de Douglas Gordon projetado no cinema municipal Stella

Nos anos 1960, Atenas possuía nada menos que 600 cinemas ao ar livre, enquanto hoje são apenas alguns, entre eles o Cinema Municipal Stella. Foi nele, localizado em uma bairro central de Atenas, com capacidade para cerca de 200 pessoas, que durante a documenta 14 exibiu-se o novo filme de Douglas Gordon, I Had Nowhere To Go (Eu não tinha para onde ir), realizado a partir da autobiografia de mesmo nome do cineasta lituano, pioneiro do cinema experimental, Jonas Mekas.

Como sempre, Gordon faz de sua produção uma experiência radical. Foi assim em 24 Hours Psycho, quando ele reduzia a projeção de Psicose, de Alfred Hitchcock, a dois frames por segundo em vez de 24, levando o filme a durar 24 horas.

Agora, o artista escocês produz um filme praticamente sem imagens, apenas com a voz de Mekas narrando suas memórias trágicas de infância sobre a Segunda Guerra Mundial e sua fuga para Nova York. Apenas às vezes, imagens que não possuem relação direta com a história surgem, mas no cinema ao ar livre, onde plantas crescem nas bordas da tela, ganhando um contexto que dá a impressão de que o filme foi criado para aquele lugar. Como Mekas também participa da documenta, essa rede de relações, que ocorre com outros artistas também, se torna uma característica potente desta edição.

Leia também: Primeira parte da documenta 14, inaugurada na Grécia, apresenta cerca de 200 artistas com obras que buscam evitar o espetacular e a contextualização com legenda.

Na documenta 14, filmes se destacam, já que com suas narrativas e visualidade acabam compensando a falta de informação para muitas das obras expostas. É o caso de Glimpse (2016-2017), por exemplo, do curador e artista polonês Artur Zmijewski, uma das produções mais polêmicas da exposição. Em seu filme, exibido na Escola de Belas Artes,  ele documenta em preto e branco campos de refugiados em Berlim e Calais, na França, fazendo intervenções sarcásticas, como entregar um casaco a um dos moradores desses espaços e depois fazendo um “X” em suas costas ou depois pintando de branco a cara de um negro. É desconcertante.

Outro filme com forte conotação política é Return para Khodorciur – Armenian Diary (1986), de Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi, que retrata o pai do artista, sobrevivente do genocídio armênio na Turquia, em 1915, e conta suas memórias de forma seca e cortante.

Such a Morning (2017), do indiano Amar Kanwar, é uma história mais poética. Ele narra a história de um cientista reconhecido que, no auge de sua carreira, se retira para viver em reclusão, uma temática recorrente nesta documenta, que, diante dos horrores do momento político do planeta, não deixa de ser uma das mais sábias opções.


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