Circuitos cruzados

Peter Campus, Interface, 1972

Um diálogo Brasil-França está ocorrendo no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Instalações de artistas ícones da videoarte mundial, do porte de Nam June Paik, Peter Campus, Vito Acconci, Dan Graham e Bruce Nauman, interagem com obras de artistas contemporâneos brasileiros pertencentes ao acervo MAM, como Cildo Meireles, Rosângela Rennó, Marilá Dardot e Léon Ferrari. Além disso, participou como artista convidado Tony Oursler, que no dia da inauguração projetou vídeos de pessoas falando nas árvores do Parque Ibirapuera, onde fica o MAM, dando a impressão de que cada árvore havia adquirido um rosto falante.

A mostra Circuitos Cruzados – o Centre Pompidou encontra o MAM, inaugurada em 22 de janeiro e em cartaz até 31 de março na capital paulista compreende cinco instalações dos videoartistas estrangeiros, feitas entre os anos 1960 e 1970 e pertencentes à coleção do Pompidou. “Três dessas instalações funcionam em circuito fechado, que é a tecnologia de vídeo dos sistemas de vigilância contemporâneos”, explica a curadora da mostra, Paula Alzugaray, que divide o cargo com a curadora-chefe e diretora do Departamento de Novas Mídias do Centre Pompidou, de Paris, Christine Van Assche.

León Ferrari, Mesas, 1983

Interagindo com essas cinco instalações estão as obras dos artistas brasileiros em diferentes suportes, a maioria também dando a ideia de um circuito fechado.

As curadoras começaram a idealizar o diálogo franco-brasileiro quando Paula foi convidada, em 2008, para realizar uma pesquisa no Centre Pompidou, em Paris, onde permaneceu por três meses. Por meio de Paula, Christine passou a se interessar pelas obras brasileiras de arte contemporânea. Inicialmente, a mostra surgiu como uma vontade do Pompidou em expor parte do seu acervo de videoarte no Brasil. “Eu sugeri, porém, que a exposição fosse realizada em forma de diálogo com a arte brasileira, o que Christine aceitou prontamente”, conta Paula.

A ideia inicial era expor apenas videoarte brasileira e estrangeira. “Entretanto”, diz Paula, “as coleções de vídeo do Brasil ainda estão em um estágio nascente. O MAM coleciona vídeos há, no máximo, 15 anos, enquanto a coleção contemporânea já tem cerca de 50 anos.” “Em vista disso, achamos interessante fazer um cruzamento com outras mídias e encontramos uma possibilidade de diálogo conceitual.” A partir daí, a riqueza de relações se multiplicou. “Encontramos um circuito fechado, por exemplo, na obra da Marilá Dardot, que é um livro que tem duas lombadas e de impossível penetração”, explica Paula. Há também a Autopista del Sur, de León Ferrari, na qual é representado um traçado urbano que não tem saída, uma situação de tráfego labiríntica que sugere outro “circuito fechado”.

A curadora acrescenta, porém, que a ideia de circuito fechado nem de longe é a leitura proposta: “As instalações expostas são bastante interativas e o público tem a possibilidade de fazer infinitas interpretações”.

Tony Oursler, "Norte Sul Leste Oeste", 2013. Durante o vernissage, o artista projetou rostos no parque, resultand o em árvores falantes

Cada seção está cercada por uma nuvem de palavras-chave, que funciona como língua comum de intercomunicação entre os trabalhos. “A escolha desse sistema para estabelecer conexões”, acrescenta a curadora brasileira, “permite ao público ampliar o espectro de reflexão e diluir as fronteiras entre as várias mídias e suportes da exposição. Ao longo do circuito da mostra, o espectador vai encontrar essas palavras inscritas nas paredes, e a partir delas poderá tecer suas próprias redes de relações.”

Todas as instalações, aliás, são interativas e precisam da participação do público para existir e acontecer. “Então, o sentido da obra é a experiência que a pessoa tem ali dentro. Como é uma experiência com a própria imagem que está ali, o público se mistura aos trabalhos e enxerga mecanismos que cercam a gente o tempo inteiro na atualidade, como, justamente, circuitos fechados de TV”, explica. No caso das obras trazidas do Pompidou, relidas e transformadas em expressivas obras de arte.


Comentários

Uma resposta para “Circuitos cruzados”

  1. Avatar de Jose Luis Aquino
    Jose Luis Aquino

    Por enquanto,só agradecer e poder continuar acompanhando “brasileiros”.É a nostalgia das grandes publicações, senão grande, de extrema intelectualidade dos anos 80.Evoé vida!

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