Coleções americanas em perspectiva e diálogo

fachada do Pérez Art Museum Miami (PAMM) cuja coleção é centrada na arte internacional dos séculos XX e XXI a partir da perspectiva das Américas.  foto photo Armando Colls/MannyofMiami.com/Pérez Art Museum Miami
Fachada do Pérez Art Museum Miami (PAMM), cuja coleção é centrada na arte internacional dos séculos XX e XXI a partir da perspectiva das Américas. Foto Armando Colls/Pérez Art Museum Miami

Reafirmando seu compromisso com a reflexão e o debate, a ARTE!Brasileiros, em parceria com a SP-Arte, organiza mais uma vez o Ciclo Arte e Mercado, através do encontro TALKS. Realizado sempre em paralelo à feira, o evento reúne diferentes agentes da cena artística contemporânea, em torno de temas relevantes. A primeira edição do evento, em abril de 2015, discutiu a Arte Como Valor, enquanto a segunda, realizada em paralelo à SP-Arte/Photo, em agosto do mesmo ano, debateu o colecionismo da fotografia.

Este ano, em sua terceira edição, o TALKS irá discutir o tema Coleções na América e questionar como se constituem algumas das mais importantes coleções do continente americano. A escolha é motivada, de um lado, pelo crescente interesse do mercado internacional na arte latino-americana e, por outro, pelo surgimento de uma série de iniciativas institucionais de pesquisa, documentação e difusão da arte latina – influenciadas, entre outros fatores, pela mudança demográfica em curso nos EUA. Contribuem ainda para esse cenário o apontamento de curadores dedicados à arte latino-americana em algumas das maiores instituições mundiais, inclusive o MoMA, de Nova York, bem como à criação de espaços dedicados exclusivamente à arte latina, como o Museu del Barrio, na mesma cidade, e ainda projetos como o Pacific Standard Time: LA/LA, liderado pelo Instituto Getty – uma ampla pesquisa sobre a arte latino-americana no contexto da cidade de Los Angeles, em que diversas instituições apresentarão exposições e programas relacionados tematicamente. Apesar desse contexto de internacionalização, a dificuldade na construção de um intercâmbio sistemático entre os países do continente americano como um todo parece persistir. É uma reflexão sobre essa dificuldade e quais as condições necessárias para estimular o diálogo na construção de coleções em todo continente americano que o TALKS deste ano pretende instigar.

Ella Cisneros, uma das convidadas, cuja palestra será mediada pela jornalista e curadora Leonor Amarante, falará sobre a formação da CIFO (Cisneros Fontanals Art Foundation), organização sem fins lucrativos que fundou em Miami, e também sobre o novo cenário de arte em Cuba, sua terra natal. De volta à ilha depois de anos, ela está agora envolvida em uma série de iniciativas que pretendem fortalecer o sistema de arte cubano (leia mais a respeito na página 28). O casal de colecionadores Maxine e Stuart Frankel, que também possui uma fundação sem fins lucrativos, falará, em outro painel, sobre o colecionismo e a formação de sua coleção (confira a entrevista na página 32). Cumprindo o papel de promover o diálogo entre diferentes agentes artísticos, a programação do TALKS inclui ainda um painel com o curador Jacopo Crivelli Visconti e quatro artistas por ele selecionados para a seção Open Plan da SP-Arte. São eles: Radames ‘Juni’ Figuero (Porto Rico), Seb Patane e Francesco Arena (Itália) e Daniel de Paula (nascido em Boston, nos Estados Unidos, filho de brasileiros, mudou-se ainda jovem para o Brasil).

auditório do pérez Art museum, concebido por herzog & de meuron, que funciona como área de convivência
auditório do pérez Art museum, concebido por herzog & de meuron, que funciona como área de convivência. Foto: Cortesia Pérez Art Museum Miami

O primeiro dia do encontro trará ainda uma conversa entre Mari Carmen Ramirez, Franklin Sirmans e Ana Maria Belluzzo. Ramirez (confira entrevista na página 22), curadora especializada em arte latino-americana, é reconhecida como uma das principais agentes de promoção da arte latina nos EUA, e hoje dirige o departamento de arte latino-americana do Museu de Artes Plásticas de Houston. Além de organizar exposições, o departamento abriga também o ICAA (International Center for the Arts of the Americas), cujo projeto pioneiro de documentação disponibiliza digitalmente uma série de documentos críticos sobre o desenvolvimento da arte do século XX na América Latina e entre as populações latinas nos Estados Unidos.

Franklin Sirmans, por sua vez, contribuirá para o debate com sua experiência como diretor do Pérez Art Museum Miami, inaugurado em dezembro de 2013 através da doação de recursos e acervo do colecionador Jorge Pérez. Sirmans explica que a singularidade do museu é ter sido fundado tendo em mente a diversidade da comunidade a que serve, formada por uma confluência única de caribenhos, norte e sul-americanos, tendo o programa educativo como parte central da missão do museu. “Não consigo pensar em nenhuma outra instituição que tenha sido criada com foco tão profundo na multiculturalidade da mesma forma que o Pérez foi. O museu é, em todos os seus aspectos, reflexivo do lugar onde esta localizado”, afirma o curador em conversa com a ARTE!Brasileiros. Falando especificamente sobre arte latino-americana na coleção, ele afirma que quando pensa sobre as bases fundadoras da arte latino-americana, pensa em artistas como o uruguaio Joaquín Torres García, nos cubanos Wilfredo Lam e Ana Mendieta e em brasileiros como Ernesto Neto. O projeto arquitetônico, concebido por Herzog & de Meuron, também dialoga diretamente com o contexto cultural e geopolítico no qual está inserido, trazendo o exterior para dentro do espaço através de auditório constantemente aberto que ocupa a parte central do edifício como um espaço de convivência.

A mediação desse debate é da historiadora de arte brasileira Ana Maria Belluzzo (cujo texto você lê na sequência), que desenvolveu o projeto Arte no Brasil: Textos Críticos no Século XX, componente brasileiro do projeto Documents of Latin America and Latino Art. A Digital Archive and Publications Project, do ICAA. A ARTE!Brasileiros pretende, mais uma vez, estimular reflexões e troca de experiências que permitam estreitar as relações e o intercâmbio entre o colecionismo, tanto público quanto privado, em todo o continente americano.
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