Fotos Luiza Sigulem
Em meados de 2008, a crítica e pesquisadora de arte contemporânea Paula Alzugaray foi convidada para realizar uma pesquisa no Centre Pompidou, em Paris, onde permaneceu por três meses. Lá, conheceu a francesa Christine Van Assche, diretora da coleção do Service Noveaux Médias, o acervo de novas mídias do Pompidou, complexo que reúne museu, biblioteca e teatros na capital francesa.
Por intermédio de Paula, Christine passou a se interessar pelas obras de arte contemporânea brasileiras e pela produção feita no Brasil. A parceria rendeu frutos, e a dupla inaugurou na noite de ontem, dia 22, a exposição Circuitos Cruzados – Pompidou encontra o MAM, no Museu de Arte Moderna, localizado dentro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
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Parar “cruzar os circuitos” dos dois museus, a dupla de curadoras trouxe cinco videoinstalações do Pompidou para São Paulo, onde as obras são dispostas junto ao acervo do MAM, criando uma intensa e curiosa combinação entre as diferentes obras e linguagens que compõe a arte contemporânea.
“Depois de conhecer a Paula nós descobrimos mais sobre a arte contemporânea brasileira e propusemos à direção do Pompidou a ideia de encontrar conceitos entre as obras que temos lá e os trabalhos brasileiros, verificando as diferenças e semelhanças entre as coleções e entre o período de tempo em que foram feitas”, explica Christine Van Assche, que selecionou obras de cinco artistas dos Estados Unidos – berço da arte contemporânea, iniciada nas décadas de 60 e 70 – para serem instaladas no museu paulistano.
Para compor a exposição, a dupla dispôs as obras em diferentes locais do museu, cercada pelas obras brasileiras que “dialogam” artisticamente com conceitos semelhantes e instigantes. A primeira delas foi The American Gift (1975), de Vito Acconci, que dialoga com trabalhos dos brasileiros Anna Bella Geiger, Lenora de Barros e a dupla Mauricio Dias e Walter Riedweg.
Já o segundo núcleo da exposição tem como carro-chefe a obra Interface (1972), de Peter Campus, onde uma câmera capta os movimentos do visitante, expondo-o ao mesmo minutos depois de suas ações. A videoinstalação dialoga com Amnésia (1991), de Rosângela Renno, entre outras obras.
Para Paula Alzugaray, a Circuitos Cruzados mostrará a seus visitantes que artefatos com os quais lidam em sua rotina diária também podem ser usados como forma de expressão artística. “Estamos lidando com elementos que fazem parte do dia a dia das pessoas: o vídeo, a televisão, os sistemas de segurança. Essa exposição articula elementos que as pessoas convivem, então acho que elas vão se sentir espelhadas, surpresas e surpreendidas pela maneira com que os artistas desarticularam esses sistemas para criar suas obras”, conta.
Responsável pelo terceiro núcleo, a obra Dan Graham, Present Continuous Past(s) (1974), utiliza o conceito de um cubo branco imersivo, reproduzindo a imagem do espectador diversas vezes. Entre as obras que dialogam com a criação de Dan Graham estão O Rio (2006), do artista paulistano Artur Lescher.
O quarto núcleo foi desenvolvido em torno da videoinstalação Going Around The Corner (1970), de Bruce Nauman, que, assim como Graham, utiliza-se do cubo branco, mas neste caso fechando-se no espectador, que tem sua imagem captada por câmeras de vigilância e reproduzida em monitores posicionados nos cantos e no chão da obra. Inmensa (1982), de Cildo Meireles, é uma das obras do acervo do MAM que traçam paralelos com a videoinstalação do artista norte-americano.
Completando o conceito da Circuitos Cruzados está a obra Moon is the Oldest TV (1965), do coreano-americano Nam June Paik, que dispõe de televisores que reproduzem as fases da lua, representadas na realidade por um sinal eletrônico emitido pelos monitores CRT.
Segundo Paula, a ideia de trazer as obras para dialogarem restabelece uma ordem de interação entre a arte. “Essa relação de beber na fonte já é passada no mundo da arte, hoje as relações são muito mais de troca e de comunicação do que uma via de mão única. Ao invés de importar conhecimento, a gente achou que a melhor maneira de trazer as obras do Pompidou para o Brasil seria abrindo esse diálogo”, explica.
“Eu vim algumas vezes para o Brasil e percebi que o museu não mostrava muitos trabalhos dos anos 60 e 70, era algo que de certa forma estava faltando, e para nós esse é o começo da arte contemporânea, e nós sempre quisemos mostrar a ideia de como a arte de hoje está relacionada com a arte destas décadas”, completa Christine Van Assche.
SERVIÇO:
Circuitos Cruzados: o Centre Pompidou encontra o MAM
Curadoria: Paula Alzugaray e Christine Van Assche
Visitação: 23 de janeiro a 31 de março de 2013
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo (Grande Sala e Sala Paulo Figueiredo)
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3)
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Ingresso: R$ 6
Informações: http://www.mam.org.br/ ou pelo telefone (11) 5085-1300
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