Em novo filme, diretor prodígio mostra amadurecimento

Para alguns seu cinema é histérico, para outros uma obra-prima. Seja de uma forma ou de outra, Xavier Dolan, o diretor prodígio de apenas 25 anos, mostra amadurecimento em seu último filme: Mommy, lançado nos cinemas brasileiros na última semana (12).

O enredo conta a história de Diane (Anne Dorval), uma mulher viúva e mãe solteira. Ela está numa situação sobrecarregada porque precisa cuidar do filho, Steve (Atoine-Olivier Pilon), em tempo integral. Ele tem 15 anos e sofre de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Até então, Steve estava em um reformatório, mas é expulso por causar um incêndio no local. 

E as dificuldades não terminam por aí: Diane se vê desempregada, e por não ter completado os estudos, não possui um diploma; além das imprevisíveis crises de violência e de hiperatividade do filho. 

Eis que surge uma vizinha e ex-professora, Kyla (Suzanne Clément), para completar o trio e dar uma suposta harmonia a vida caótica da mãe e do filho.

A mãe Diane e seu filho Steve interpretados, respectivamente, por Anne Dorval e Antoine-Olivier Pilon Foto: Divulgação
A mãe Diane e seu filho Steve interpretados, respectivamente, pelos atores Anne Dorval e Antoine-Olivier Pilon – Foto: Divulgação

Três eixos se cruzam e guiam a história: primeiro, a força da mulher; segundo, a juventude incompreendida; e finalmente, a inconstância da liberdade.

O primeiro é visto nos papéis da mãe e da vizinha, com personalidades opostas, cada uma enfrenta as dificuldades da vida a sua maneira. No caso de Diane, ela não deixa de ser cômica, com falas sarcásticas, cafona e humor histriônico. No entanto, não deixa de ser a mãe que quer o melhor para o filho, e para isso se submete a qualquer situação.

Já a outra personagem, Kyla, é o oposto, devido a um trauma não explicado no filme, ela se afasta da própria família, deixando um ambiente tranquilo para viver as complicações de Diane e Steve.

Também, Kyla sofre de afasia, isto é, ela tem dificuldade em formular frases. Com seu jeito discreto, ela se dedica integralmente a ajudar o menino nos estudos e a dar apoio à mãe. 

Sobre o segundo eixo, a personagem de Steve é o jovem mal-intepretado, e não se trata apenas de enquadrá-lo no maniqueísmo: inocente ou culpado. Ele é um garoto rebelde, que sofre de uma doença, perdeu o pai, mas que quer antes de mais nada, ser reconhecido pela mãe. 

Nisso, ele lembra Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), personagem do filme de François Truffaut, Os Incompreendidos (1959), como  escreveu a revista francesa Cahiers du Cinéma. Também, tratam-se de dois garotos que sofrem punições severas por sua rebeldia incompreendida, ainda que encontram uma saída.

Os filmes de Dolan por vezes se assemelham aos videoclipes, se em outros filmes, o recurso parecia mais uma atrativo, em Mommy, é essencial para o conteúdo. 

Também, o filme foi filmado de maneira nada convencional (1 por 1), a tela do cinema é preenchida praticamente apenas na horizontal. A princípio, pode-se considerar o formato escolhido uma alusão ao mundo visto através da tela de um celular, do que em panorama. Mas conforme a história se desenrola, o formato ganha outra discussão.

Ele remete a vida dos personagens: o quadrado que impede o espectador de ver a totalidade da cena, sufoca, assim como a realidade dura que vive as personagens.  

Ainda que não se trate de uma família nas piores condições socioeconômicas, eles vivem uma vida caótica, até que em dado momento, é possível irromper essa claustrofobia e consequentemente, a tela também. Mas como a liberdade é inconstante, ela vai durar apenas o suficiente para deixar todos sedentos por outro instante de liberdade.  

O diretor canadense que estreou com o filme Eu matei minha mãe (2009), já não é mais o mesmo. No seu primeiro filme, ele também era o protagonista, já em Mommy não, ele apenas dirige e assina o roteiro. 

Independente de gostar ou não dos filmes de Xavier Dolan, é preciso se atentar para o cinema autoral que ele assinala fazer. 


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