Eduardo Leme

Tenho hoje 46 anos, e comecei a colecionar por volta dos 20. Passei a frequentar o circuito de arte, pois tinha uma amiga que era sobrinha do Dudi Maia Rosa e, com ela, fui a uma primeira vernissage. Também sou parente da Dora Longo Bahia e, por influência dela, comecei a frequentar galerias como a Casa Triângulo, que a representava na época. Não estudei artes plásticas, sou economista de formação, e meu embasamento teórico vem de muita leitura e experiência pessoal. Um conhecimento empírico e informal.

Comecei a trabalhar muito jovem no mercado financeiro. Um universo bem diferente do das artes plásticas. Passei a frequentar o circuito de arte como um hobby e assim fugia um pouco daquela rotina. Frequentava, aos finais de semana, as poucas galerias que haviam na época, como a Subdistrito, a Luisa Strina e a Casa Triângulo – que eram as que mais me identificava, por serem extremamente contemporâneas e por reunirem e apresentarem alguns artistas que eram da minha idade e com um vigor incrível. Além de carregar essa linguagem do meu tempo, algumas galerias, como a Triângulo, praticavam preços acessíveis para quem estava começando a colecionar e isso me estimulou a partir para a compra.
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Os primeiros passos para me tornar galerista aconteceram por volta dos meus 30 anos, quando saí do banco em que trabalhei por vários anos e montei um escritório com alguns amigos, permitindo que gerenciasse melhor meu tempo. Nessa época surgiu o Núcleo Contemporâneo do MAM que organizou, para um grupo de pessoas, uma viagem à ARCO (feira espanhola de artes). Me apaixonei de vez e pude ver a real dimensão do mercado. Logo depois, passei a visitar os degree shows (exposições de artistas recém-formados, na Inglaterra). Escolhi a Inglaterra por ser, na minha opinião, a capital europeia. Você tem contato com artistas de todos os países e com escolas sensacionais, como a Goldsmiths e a Saint Martins. Com isso, passei a me interessar cada vez mais pela cena internacional, viajando cada vez mais às feiras para me atualizar, sempre como um pequeno colecionador, até quase meus 40 anos, quando, enfim, resolvi montar uma galeria. Uma necessidade de tornar física toda essa experiência de vida e de convívio que me é muito rica.

Há sete anos, dei início ao projeto da galeria. Optei por fazer uma edificação do zero e construir um espaço físico planejado. Diferentemente de várias galerias, que se adaptaram às circunstâncias de um imóvel já existente, a Leme foi planejada pelo Paulo Mendes da Rocha. Além de admirá-lo muito, o Paulo é um arquiteto que já havia feito projetos e reformas em museus; me identifico muito com seu conceito de espaço e sabia que ele teria plenas condições de montar uma estrutura adequada. Abri a galeria no final de 2004 e iniciei com apenas seis artistas representados, sendo dois ingleses e quatro brasileiros. Hoje, contamos com um time de quase 30. Pela própria vivência no exterior, acabei trazendo muitos estrangeiros para cá. Parei de focar tão somente a arte brasileira, para enxergar uma arte global. Obviamente, cada país tem algumas nuances e características, mas, hoje em dia, isso está cada vez mais diluído e globalizado.

Quando fundei a galeria, o mercado de arte estava em um ritmo muito acelerado. Os preços subindo absurdamente, até 2008, e então veio a crise econômica mundial, que implicou várias mudanças, em termos de distribuição de compra e demanda. De lá para cá, muita coisa também mudou no mercado local pois, se lá fora houve desaceleração face a crise que atingiu mais a Europa e EUA, aqui houve um crescimento virtuoso, além de uma séria e saudável profissionalização de todos os agentes. Nesse intervalo, também foi inaugurada a SP-Arte – uma feira criada nos moldes das feiras internacionais – e seu surgimento foi muito oportuno pois, além de ajudar na divulgação das galerias e de seus artistas, incrementou o mercado e trouxe novos colecionadores. Noto que, hoje, há também muita gente jovem comprando trabalhos mais contemporâneos, formando belas coleções, e frequentando cada vez mais as galerias e museus. Um número muito maior de brasileiros tem ido ao exterior para visitar as feiras e o mercado internacional também está muito interessado no Brasil. Haja vista a última Bienal e a enorme quantidade de colecionadores, curadores e artistas estrangeiros que vieram, não só para visitá-la, como para conhecer estúdios e dar uma olhada geral no que está acontecendo por aqui. Temos muito o que celebrar e mostrar.


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