Ele não é o Tio Patinhas, mas adora dinheiro

Duel: "Dracmas Greek Flag", 2012. Bandeira grega feita com Dracmas. Mastros de moedas de 2m e bandeiras com 1m x 1,5m

Grande parte da vida gira em torno do dinheiro e a arte do pernambucano de Olinda, Lourival Cuquinha, também. Foi justamente utilizando dinheiro – no caso, libras esterlinas – que ele conseguiu, há três anos, projetar-se e passar a viver da sua própria arte.

Trabalhando em uma cafeteria, entre uma mesa e outra que servia em Londres, em 2007, leu uma notícia no The Sun, um dos famosos tabloides ingleses, de que se sumissem mil libras da conta de um inglês, este sequer notaria. “Hoje, com a crise, eles notariam”, brinca. “Mas fiquei pensando nisso e já imaginei fazer alguma performance com as mil libras”, conta Cuquinha, que inicialmente queria tomar um banho de moedas.

Mudou de ideia, porém, e resolveu reunir mil libras em notas para com elas confeccionar uma bandeira da Inglaterra. Para juntar o dinheiro, “uma quantia enorme para mim na época”, começou a trabalhar também em um riquixá (mistura de táxi e bicicleta, movido pela força do “taxista”, ou seja, pedaladas) pelas ruas da capital britânica.

Já com 500 libras, passou a montar a bandeira de notas na parede de sua casa. Sua mulher, vendo a dificuldade de juntar tanto dinheiro e aflita com as contas da casa, teve a ideia, após um sonho, de vender ações da obra de arte que estava por nascer. “Deu certo, muita gente comprou, desde o pessoal do café que eu trabalhava até fregueses do riquixá, e também o Cildo Meireles e o Ernesto Neto.”

“Após expor a bandeira algumas vezes, achava que tinha de fechar o seu ciclo, vendendo-a em uma feira de arte, um leilão, que tem tudo a ver com dinheiro.” Como o leilão é algo muito cheio de regras, Cuquinha transformou a venda da bandeira em uma performance, em uma feira em Londres, em 2010. “Vendi por US$ 17 mil.” O leilão-performance virou notícia em vários jornais ingleses e em publicações especializadas, projetando, assim, o nome de Lourival Cuquinha.

Atualmente, recém-chegado da Arco, na Espanha, e há um pouco mais de tempo da Art Basel Miami, nos Estados Unidos – em parceria com as galerias Baró, de São Paulo, e Gentil Carioca, do Rio de Janeiro –, onde fez imensos varais com roupas dos habitantes das cidades, Lourival Cuquinha, de apenas 37 anos, pode se considerar um artista consolidado.

Lourival Cuquinha em performanc e do projeto Verbo, Suf ocamento, 2002/07. Goma de tapioca e corpo, Tempo variável, da Galeria Vermelho

O dinheiro, o capital, trocas e questões financeiras continuam sendo a temática principal do seu trabalho. Tanto que, agora, a Baró inaugura a primeira mostra do artista em seu espaço, denominada Territórios e Capital – Extinções. O ponto central da exposição, que será inaugurada no dia 2 de março e prosseguirá até 6 de abril no antigo galpão na Barra Funda, onde fica a galeria de Maria Baró, será uma instalação na qual Lourival Cuquinha utilizará R$ 7 mil em moedas de 5 e de 10 centavos de reais, um total de 140 mil moedas, para formar no teto da galeria um “asterisco” gigante. As moedas foram todas perfuradas para permitir sua passagem por cabos de aço que, cruzando-se no teto, formarão o asterisco. Penduradas nesses cabos, haverá mais bandeiras feitas com notas – entre elas, a pioneira com libras esterlinas. “Vamos vender dinheiro por metro”, brinca Cuquinha. “Cada metro deste cabo de aço com moedas vale R$ 10 mil.” E, logo abaixo do centro do asterisco, no chão, três riquixás juntos compõem a instalação, para que o visitante pedale e veja filmes projetados do período em que Cuquinha pilotou o veículo em Londres.

Lourival Cuquinha não deixa de brincar e ironizar o dinheiro. Criou, por exemplo, notas de R$ 102 e de US$ 101. “Sobreponho uma à outra e modifico o valor da nota – cada uma, que tem a minha assinatura como se fosse a do presidente do Banco Central, será vendida justamente por R$ 102 e US$ 101.” Até pequenos recibos de máquinas de cartões de crédito e débito vão compor um quadro. “Já fiz isso anteriormente, em uma exposição no Brasil que era patrocinada pelos Correios. Eles enviaram o dinheiro para financiar a mostra dez dias depois que ela tinha acabado”, conta. “Como tive de ir gastando do meu bolso para concretizar a exposição, peguei todos os recibos do cartão de crédito e fiz um quadro com eles. O valor de venda do quadro era exatamente a soma de todos os recibos”, continua rindo. “Os Correios não gostaram muito dessa obra, mas fazer o quê?”


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