Encontros de arte contemporânea movimentam o Rio

Maratona para ampliar o debate do que é contemporâneo. No Rio e em São Paulo.
Maratona para ampliar o debate do que é contemporâneo. No Rio e em São Paulo.

Foi uma maratona. Três dias de evento em duas cidades, coincidindo com a abertura da 31a Bienal de São Paulo e a Art Rio. Dois seminários públicos, abertos e transmitidos pela internet. Mais de 800 pessoas em São Paulo, no Auditório Ibirapuera. Cerca de 240 pessoas no CCBB do Rio de Janeiro. Duas mil pessoas conectadas no streaming ao vivo. Um colóquio para discutir o colecionismo com curadores de grandes e reconhecidas instituições. Neste ano, a terceira edição do Seminário Internacional ARTE!Brasileiros estendeu suas atividades, com objetivo de agregar conhecimento ao público brasileiro e incentivar a troca com especialistas internacionais.

E para aprofundar a reflexão sobre o que é ser contemporâneo e discutir quais são os espaços para a fluência da contemporaneidade nas artes visuais, reunimos especialistas do mundo todo, dando ênfase também no colecionismo e na produção e as instituições latino-americanas. Para ver como foi o evento em São Paulo, clique aqui para ler sobre os primeiros painéis que focaram no conceito do que é o contemporâneo e aqui para ler como está situada a produção latino-americana neste contexto. Se preferir, assista pequenas entrevistas com os participantes das mesas de São Paulo

II Colóquio Colecionismo no Século XXI

Na noite de segunda-feira (8), no Museu de Arte do Rio – MAR – convidados e curadores discutiram o colecionismo na atualidade. A mesa de debate foi composta pelo diretor Artístico e Curador da Daros América Latina, Hans-Michel Herzog; o diretor da Fundación JUMEX Arte Contemporáneo, Patrick Charpenel; e o diretor cultural do MAR – Museu de Arte do Rio, Paulo Herkenhoff. Assista ao vídeo:

Hans-Michel narrou o processo de criação da coleção latino-americana da Casa Daros, que hoje conta com 1.200, de 120 artistas. O curador afirma que, devido aos recursos da coleção, ele conseguiu conhecer os artistas e suas obras com densidade e conversar de perto, além de reconhecer o que já foi consagrado e os movimentos que surgem. “Nunca comprei uma obra sem conhecer o artista. O objetivo era de criar uma base de confiança”.

Patrick Charpenel falou sobre a experiência do Jardín Botánico de Culiacán, um espaço público de 10 hectares, com mais de mil espécies botânicas conservadas e com obras de arte contemporânea, de artistas consagrados, dispostas permanentemente. Charpenel contou que o espaço foi introduzido em meio a uma zona de conflito por causa do narcotráfico, e que o trabalho fez a comunidade se reaproximar com o local. As peças incrementam a consciência do público com os temas sociais e naturais. Tem obras de artistas como Dan Graham (EUA), Diana Thater (EUA), Fernando Ortega (MEX), Allora & Calzadilla (EUA/Cuba), Rivane Neuenschwander (Brasil), Abraham Cruz Villegas (México), entre outros.

O diretor cultural do MAR – Museu de Arte do Rio, Paulo Herkenhoff, discutiu a situação das coleções públicas no Brasil e da falta de atenção dos governos em adquirir obras nas últimas décadas. Ele também analisou os desafios do Rio de Janeiro: “Falamos de uma cidade que parece ter aberto mão de fundar coleções, por isso não assume a guarda desse universo simbólico que é a arte (…) o processo de colecionar não acompanha a dinâmica da arte brasileira e nem a relação do mercado internacional com a arte brasileira. Não temos nenhuma obra de Aleijadinho. (…) Vivemos um momento crítico, em termos de colecionismo público, porque temos museus com pequenos acervos, que parecem estar recheados de arte, mas, na realidade, não estão”.

Seminário “A arte contemporânea no século XXI” – Rio

Na terça-feira (9), ocupando o prédio histórico do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, aconteceu a edição carioca do III Seminário ARTE!Brasileiros.  A programação iniciou com o debate “O que é ser contemporâneo”. A mesa foi composta por Alanna Heiss, diretora da Clocktower Productions e fundadora do PS1 Contemporary Art Center – hoje o MoMA PS1; Charles Esche e Galit Eliat, curadores da 31a Bienal de São Paulo; e Tânia Rivera, professora da Universidade Federal Fluminense.

Tânia Rivera abriu o painel falando do que é ser contemporâneo. Rivera fez uma retrospectiva histórica para demarcar a importância do debate conceitual que difere a arte contemporânea no século XX, da arte do século XXI. O escocês Charles Esche, curador da 31a Bienal de São Paulo, foi muito aplaudido em sua fala onde defendeu os assuntos tratados na mostra – temas considerados polêmicos, como feminismo, sexualidade e religião. “Ser contemporâneo é estar preso a um paradoxo (…) ser contemporâneo é estar aberto aos conflitos, quaisquer que sejam eles, para que eles não se tornem violentos”.

Apresentação de Adrienne Edwards, curadora do Performa. Foto: Alessandro Mendes/Brasileiros.
Apresentação de Adrienne Edwards, curadora do Performa. Foto: Alessandro Mendes/Brasileiros.

A edição da Bienal deste ano se destaca pela interatividade e pela critica social das obras e traz cerca de 250 obras entre instalações, vídeos, fotos, filmes artistas convidados do mundo todo. A mostra foi aberta ao público no último sábado (6) e poderá ser vista até 7 de dezembro.

Teve fala também, Alanna Heiss, criadora da Clocktower Productions, em Nova York, e fundadora do P.S.1 Contemporar y Art Center, histórico espaço criado por ela no final dos anos 1960, hoje vinculado ao MoMA. Alanna é uma das figuras mais importantes e ativas da arte contemporânea no mundo, tendo feito a curadoria de mais de 700 exposições no PS1.  “Os espaços não podem ser formais, este é um dos motivos pelos quais a arte minimalista tem problemas para ser apresentada em museus. (…) Não gosto de espaços com arquitetura agressiva. Prefiro ocupar outros lugares. Quanto mais barato for, mais tempo e dinheiro poderão ser gastos em arte”. Ela destacou também a importância do processo de criação e produção da peça em tempos de valorização do varejo.

No Rio, o segundo painel que tratou dos Espaços Contemporâneos contou com a participação de Adrienne Edwards, curadora do Performa, que falou da experiência itinerante e livre do grupo e reafirmou o objetivo de exaltar a performance enquanto linguagem essencial no século XX, que transformou a arte. “O centro de nosso trabalho são os artistas visuais. Nosso imperativo é fazer com que eles criem trabalhos baseados em multidisciplinaridades. Nossa missão é deixá-los fazer o que bem quiserem.”

Lizz Munsell, curadora do Museum of fine arts Boston (EUA) falou do acervo do museu – constituído de 450 mil trabalhos – e voltou a tratar da questão delicada do espaço do museu, onde o diálogo com o público pode ser transformado em entretenimento.

Esteve presente também Natalie Bell, curadora do New Museum (EUA) – espaço que se destaca em nas exposições de arte contemporânea em Nova York, em um edifício assinado pela dupla de arquitetos premiados Kazuyo Sejima e Ryue Nishikawa. 

O terceiro painel do dia debateu o contemporâneo nas coleções. Suzanne Modica, sócia do TWAAS Thea Westreich Art, fez um contraponto durante a apresentação. Segundo ela, uma boa coleção não se faz apenas com muito dinheiro – bastaria usar a criatividade, inovação e ter sucesso nas escolhas. Julieta González falou sobre a coleção dos museus em que é curadora – o Bronx Museum (NY) e Museo Rufino Tamayo (MEX). Yesomi Umolu, curadora do Eli and Edythe Broad Art Museum – Michigan (EUA), falou do dinamismo da coleção da instituição, que vai da antiguidade clássica à arte contemporânea – o que conversa com o dinamismo da arquitetura do prédio da instituição.

Éder Oliveira, um dos destaques da Bienal de São Paulo é também um dos artistas presentes na mostra "Pororoca - a Amazônia no MAR".
Éder Oliveira, um dos destaques da Bienal de São Paulo é também um dos artistas presentes na mostra “Pororoca – a Amazônia no MAR”.

Ao final, participantes do seminário se deslocaram para o Museu de Arte do Rio e puderam conferir de perto a abertura da exposição “Pororoca – A Amazônia no MAR”, que reúne obras com foco em algum aspecto da região amazônica, abordando a produção estética dessa região em suas plurais dimensões, da iconografia à produção artística contemporânea. Por volta de uma centena de artistas estão representados na mostra, a maioria conterrâneos da região amazônica, entre eles Ismael Nery, Quirino Campofiorito, Osmar Dillon, Aluisio Carvão, Bené Fonteles, e também de viajantes entusiastas de nossa terra, como Wiegandt, Pierre Verger, Marcel Gautherot, Cildo Meireles, Milton Gurán, Valdir Cruz, Adriana Varejão, Arthur Omar, Oriana Duarte e outros. A curadoria ficou a cargo de Paulo Herkenhoff, que há mais de 30 anos realiza um trabalho contínuo ligado à Amazônia.

O vídeo de todas as mesas serão disponibilizados na TV!Brasileiros. Fique ligado também na agenda de seminários públicos promovidos pela Brasileiros Editora.


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