Eterna vanguarda

Flavio de Carvalho não era apenas o cidadão contestador que escandalizou uma provinciana São Paulo dos anos 1950, desfilando saiotes pela cidade para propor aos homens um traje prático, econômico e adequado ao clima brasileiro. Era um artista múltiplo, renovador e antenado, como atesta a exposição em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo. A grande retrospectiva desse criador, que é considerado um dos ícones do movimento modernista, abrange todas as suas inquietudes. Arquiteto, cenógrafo, pintor, performer, escritor, sua vasta e diversificada produção está representada na mostra articulada em ordem cronológica e áreas de interesse do artista.

Começa com os trabalhos do início de sua vida artística, como arquiteto arrojado que propôs vários projetos ousados para aqueles anos 30 do século XX, algum tempo depois de voltar da Inglaterra com um diploma de engenheiro e outro de artes plásticas. Nascido no Rio de Janeiro, em 1899, quando chegou da Europa, aos 23 anos, radicou-se em São Paulo, onde entrou em contato com o movimento modernista, encabeçado por intelectuais como Oswald e Mario de Andrade. Ele se identificou plenamente com as novas propostas em curso. Tanto que ao longo do tempo, sua atuação se diversificou: criou, por exemplo, o Teatro da Experiência, em 1933, por meio do qual apresentou sua peça Bailado do Deus Morto, censurada pela polícia. Enfim, encabeçou uma série de iniciativas na área artístico-cultural às quais o MAM dedica nichos específicos, caso da Experiência n.2, que consistiu em interferir numa procissão de Corpus Christi. Um acinte sem precedentes para a época.
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É como artista plástico, no entanto, que Flavio de Carvalho, cuja obra representa o eixo principal da exposição retrospectiva, se destaca. Óleos sobre tela, desenhos, aquarelas, ele transitava por várias técnicas, que alternava com suas demais atividades ao longo da carreira. Estão presentes no MAM, desde Pensando, tela que pintou ainda em 1931, as produções mais recentes, exemplo de Estudo para Nossa Senhora da Noite, de 1954. Também integram a coleção em cartaz os famosos retratos que pintou de amigos modernistas, como os próprios Mario e Oswald de Andrade.


Museu de Arte Moderna. De terça a domingo, das 10 às 17h30. Parque do Ibirapuera, portão 3, São Paulo, SP



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