Expoprojeção 1973-2013

Luiz Alphonsus, 1973, 15 minutos, AUDIOVISUAL, SLIDES SINCRONIZADOS com ÁUDIO. FRAGMENTO DE UM INSTANTE EM QUE UM HOMEM ESTÁ PRESTES A SER ASSASSINADO. DENÚNCIA SOBRE OS DESAPARECIDOS POLÍTICOS DURANTE A DITADURA MILITAR NO BRASIL
Luiz Alphonsus, 1973, 15 minutos, audiovisual, slides sincronizados com áudio. Fragmento de um instante em que um homem está prestes a ser assassinado. Denúncia sobre os desaparecidos políticos durante a ditadura militar no brasil

Há um desejo explícito de remontar exposições que fizeram sucesso no passado. Neste ano, em Veneza, o crítico Germano Celant reproduziu a legendária When Attitudes Become Form, que Harald Szeemann montou em Berna, em 1969. Agora, São Paulo experimenta Expoprojeção 1973-2013, idealizada por Aracy Amaral em plena ditadura militar brasileira e montada no histórico GRIFE – Grupo de Realizadores Independentes de Filmes Experimentais, criado por Abrão Berman, que divide a curadoria com o professor mineiro Roberto Moreira S. Cruz, no SESC Pinheiros. Expoprojeção mostra a liberdade de escolhas que a década de 1970 proporcionou aos artistas e cujo efeito reverbera até os dias de hoje.

Engana-se quem pensa que naquela época a experimentação era tal que os artistas nem chegavam a tocar nos pincéis. Havia, sim, uma avalanche de motivações simultâneas que iam da nova figuração na pintura às performances, à multiplicidade de novas mídias, como vídeo, audiovisuais, Super-8, xérox, heliografias, discos com sons concebidos. Foi uma época também de rompimentos nas artes, momento do chamado espaço experimental, aberto em São Paulo com a Expoprojeção 73, primeiro encontro nacional de artistas trabalhando com novas mídias, que motivou esse remake, além da Jovem Arte Contemporânea, no Museu de Arte Contemporânea da USP, sob a direção de Walter Zanini e das intervenções abertas no Rio de Janeiro pelo MAM – Museu de Arte Moderna.

O desafio de remontar um sucesso não intimidou Aracy Amaral, que decidiu mostrar às novas gerações trabalhos desses artistas que criavam às soltas, sem ninguém supervisionando nada. “Eles subvertiam o sistema, como fez Victor Knoll com seu audiovisual e Luiz Alphonsus, com a obra Ligação para Driblar o Sistema”, observa Aracy.

Era um momento em que o mercado de arte praticamente não existia no Brasil e a criatividade fluía por várias vertentes. Os artistas investiam no que eles consideravam importante, desde o tempo despendido, até o material utilizado, o deslocamento físico, sem se preocupar com galeristas ou colecionadores. As obras eram potencializadas pelas descobertas pessoais que se somavam no conjunto. Ao circular hoje pela mostra no SESC Pinheiros, não há como negar a intensa interação que existia entre elas.

Aracy e Roberto fizeram a seleção das obras a partir das peças exibidas na Expoprojeção 1973. “Os trabalhos foram localizados, escolhemos os preservados e restauramos outros”, diz Aracy. “A pesquisa foi feita por Júlia Borges e conseguimos dois filmes importantíssimos de Raymundo Colares, em Super-8 – Gotham City e Trajetórias (1972) –, que estavam na minha casa e que agora vou doar à Cinemateca.” Também tem o áudio do Cildo Meireles, a garrafa de Coca-Cola, além de obras de Antonio Dias, que na época morava em Milão e era uma pessoa muito informada que, às vezes, se encontrava com Oiticica em Nova York.

A mostra está montada com apenas 50% das obras expostas em 1973 porque muitos artistas não foram localizados. Aracy diz que a ideia do remake foi de Roberto, quando fez seu doutorado e descobriu a Expoprojeção. “Apesar de estar 25 anos na área, não conhecia a exposição, quando a descobri fiquei entusiasmado e propus a remontagem a Aracy.” Eles reuniram obras de Antonio Manuel, Anna Bella Geiger, Carlos Vergara, Claudio Tozzi, Donato Ferrari, Frederico Morais, Lygia Pape, Raymundo Colares. Roberto diz que a ideia era mostrar também o período subsequente à Expoprojeção: 1974-1999, com obras dos artistas Sonia Andrade, José Roberto Aguilar, Regina Vater, Rafael França, Miguel Rio Branco, Tunga, Sandra Kogut, Eder Santos, Carlos Nader e Tadeu Jungle. Além das obras expostas, o público pode acessar o arquivo pessoal de Aracy Amaral, com dezenas de cartas e bilhetes. “Essa é uma documentação que guardei todos esses anos, a maioria composta por cartas que trocava com os artistas. Há algumas fantásticas que não estão expostas. Ainda tem um material audiovisual de uma pesquisa feita naquela época.” Roberto selecionou trabalhos de artistas dos últimos 40 anos, como Regina Vater, Conselhos de uma Lagarta, de 1976; Tadeu Jungle, SPSPSP; e Eder Santos, Trem da Terra, ambos de 1990.

Os curadores ainda acrescentaram uma parte contemporânea com trabalhos realizados nos últimos anos, em sua maioria instalações, objetos e projeções em telas de grandes dimensões, que conversam com as obras expostas em 1973. Os trabalhos atuais que ensaiam uma conversa com os da vanguarda histórica são: Minhocão, de Lia Chaia; Formigas Literatas, de Cao Guimarães; além de obras de Rosângela Rennó, Rivane Neuenschwander, Marcelus, Letícia Ramos, Ricardo Carioba, Cinthia Marcelle.

Insertions into Ideological Circuits: Coca-Cola Project 1970 by Cildo Meireles born 1948
Coca-Cola Project, 1970, Cildo Meireles

Expoprojeção 1973-2013 dá a dimensão de como o sistema de arte mudou e de como os artistas foram dragados por uma nova concepção de mercado globalizado.

SESC Pinheiros – Até 12/1/2014
Rua Paes Leme, 195 – www.sescsp.org.br


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