“As selfies, os curadores, a multidão, o dinheiro, o Instagram, o Twitter, as vantagens fiscais, os VIPs, o champanhe quente”. Além de irônica, a descrição da Fiac feita pelo jornal francês Libération, às vésperas da abertura de sua 42ª edição, foi um tanto pessimista. A publicação criticou a fair fatigue, a fadiga das feiras que toma conta dos frequentadores do circuito internacional de art fairs, encabeçado por Art Basel, Frieze e Fiac, um cansaço que vem afetando também os galeristas, cuja “dissidência” estaria aumentando ano após ano.
A feira parisiense, no entanto, terminou com um balanço positivo, “triplo”, segundo seus organizadores: “vendas excepcionais, entusiasmo por parte de público e crítica”. Nem tanto. O público, que havia aumentado de 2013 para 2014, quando alcançou mais de 74 mil visitantes, caiu nesta 42ª edição para cerca de 72 mil pessoas. Porém, para a artnet News, a decisão da diretora da Fiac, Jennifer Flay, de reduzir o número de galerias – de 191, em 2014, para 173, neste ano –, sob critérios de seleção mais rigorosos, resultou num conjunto mais forte de obras e em “vendas robustas”.
O balanço dos organizadores da feira destacou, entre outras, a galeria francesa Thaddaeus Ropac, que comercializou todas as obras expostas, entre elas criações de Georg Baselitz e Antony Gormley. Segundo o portal artsy, a White Cube faturou quase 1 milhão de libras (cerca de R$ 6 milhões) somente no dia da abertura, com obras de Mona Hatoum e novamente Baselitz, entre outras. O artsy também mencionou que a brasileira Mendes Wood DM havia vendido todos os trabalhos de Lucas Arruda, Paloma Bosquê, Michael Dean e Willys de Castro que levou a Paris.
Em seu sexto ano na Fiac, a galerista Luciana Brito afirma que 2015 foi melhor que 2014 em relação às vendas. “É uma feira que está mais sofisticada a cada ano, um de seus melhores pontos é a qualidade do público, especialmente os curadores de grandes instituições”, diz Luciana, que também participa da feiras ARCO (Madri), Armory (Nova York), Art Basel (Suíça e EUA) e da artBO (Bogotá).
Ainda que haja feiras alternativas em sua órbita, entre elas a YIA, que realizou sua quinta edição, e a Slick, que completou dez anos, a Fiac é a locomotiva da chamada semana de arte contemporânea de Paris, repleta também de concorridos vernissages nas galerias da cidade. Dois dias antes da abertura da feira ao público, o Le Monde destacou não somente sua programação gratuita, com a seção Hors les Murs, no Jardim das Tulherias e no Jardin des Plantes – “Ainda que a colocação de trabalhos no espaço urbano seja praticada em quase todas as feiras do mundo, nenhuma consegue um conjunto com tanta amplidão” –, mas também sua associação com demais instituições, públicas ou privadas. Ao todo foram 48, do Louvre ao Palais de Tokyo, que abriu sua temporada de outono e inverno com uma abrangente retrospectiva de John Giorno. O percurso ao longo do Sena foi batizado por Jennifer Flay, diretora da Fiac, como “um rio de museus”. Veja, nas páginas seguintes, destaques da feira e da semana de arte em Paris.
Buon Giorno!
Palais de Tokyo recebe retrospectiva dedicada ao poeta e performer norte-americano John Giorno, figura-chave da cena underground dos EUA nos anos 1960; concebida por Ugo Rondinone, mostra relembra colaboração com Andy Warhol e beatniks.
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