Foto como obra de arte

A fotografia consolidou-se como obra de arte e, cada vez mais, agrega novos elementos em suas experimentações. Fotógrafos e artistas plásticos trocam figurinhas desde o período em que uma caixa preta com um pequeno orifício em um de seus lados projetava a imagem na parte oposta. A história da arte está cheia de exemplos em que o trabalho do fotógrafo ganha quase o mesmo status que a obra do artista plástico, como é o caso da foto Fonte, o famoso urinol de Marcel Duchamp, que pelas lentes da objetiva de Albert Stieg ficou igualmente eternizado como obra de arte.

Já no início do século XVII, o equipamento fotográfico era uma enorme tenda que alguns pintores não dispensavam em suas incursões pelo campo para esboços de paisagens. Hoje em dia, a arte investe pesado no uso da fotografia, que é incorporada tanto às pinturas como às esculturas. Andy Warhol e Robert Rauschenberg, duas estrelas da pop art americana, são dois exemplos bem acabados de como os artistas plásticos adensaram seus trabalhos com o uso dos recursos fotográficos. São famosas as solarizações realizadas por eles em suas fotos para depois transformá-las em desenhos, gravuras, telas, colagens.
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No campo das performances, a fotografia atua no papel principal em qualquer cenário. Muitos artistas, como os neoexpressionistas alemães, os chamados “selvagens de Berlim”, documentavam suas irreverentes intervenções, a maioria exibida nas ruas, para depois transformá-las em telas, como Luciano Castelli que, travestido de cachorro, andava de quatro pelas ruas de Lyon, durante uma edição da Bienal francesa, com coleira e guia, puxado por Salomé, seu companheiro de performances.

Entre os artistas incensados que trabalham a fotografia como suporte de sua pintura, destaca-se o alemão Gerhard Richter, o mais consagrado entre os pintores contemporâneos vivos. Um “autêntico” Richter chega a custar até nove milhões de dólares. No ano passado, a National Portrait Gallery, de Londres, realizou a mostra Gerhard Richter Retratos, reunindo pela primeira vez obras feitas nas últimas quatro décadas. A vertente figurativa do pintor é pequena perante o total de, aproximadamente, três mil obras dele que circulam no mercado internacional. Os portraits são muito disputados porque são raros.

Entre os brasileiros, Iole de Freitas introduziu a fotografia em suas esculturas, no mesmo caminho de muitos outros artistas, como Gregório Gruber, Alex Flemming, Vik Muniz. Em meio a uma intensa produção de fotografia/arte, a americana Laurie Lucas chama a atenção com seus autorretratos repletos de objetos insólitos. A iraniana Shirin Neshat, reverenciada como uma das grandes fotógrafas contemporâneas, mostra suas fotos impregnadas de tensões sociais, políticas e psicológicas, reveladoras da experiência das mulheres nas sociedades islâmicas. Suas imagens, com intervenções de textos, mostram forças intelectuais e religiosas complexas que dão forma à identidade das mulheres muçulmanas. Em outro extremo estético brilha Cindy Sherman que, ao girar a objetiva para si mesma, interpreta mil personagens; não uma pessoa real, mas uma galeria de imagens que ela define como ficcionais. Em cada pose, Cindy Sherman se mostra uma “camaleoa”. Sua afinidade com as artes plásticas começa mesmo antes de clicar. Ela se fotografa, se torna suporte de arte dela mesma, reinventando seu rosto e corpo com pinturas, objetos e roupas nada convencionais. Travestida de dona de casa, prostituta, dançarina, atriz e de qualquer outra coisa, Cindy começa e termina a sua obra abraçada às artes plásticas.


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